inferências
Inferências
A liberdade vai transformado a democracia em autocracias.

Neste mesmo, dia o Parlamento Europeu tomou uma posição politica afirmando que a Hungria, um país membro da União Europeia, “já não pode ser considerada uma democracia plena”, dado que a situação social naquele país “deteriorou-se tanto que tornou-se uma «autocracia eleitoral»”.
Todos sabemos, não é novidade que a democracia só se afirma e desenvolve pela pluralidade de ideias, pelo confronto de diferenças. Como sublinhava Virgilio Ferreira, a democracia não é uma ideologia, é um confronto de ideologias.
Por essa razão, quando se seca a capacidade critica, e, se menoriza o valor das ideias, a democracia esgota-se nos donos da história.
Sabe-se, todos sabemos, que o silenciamento da comunicação social, a pressão sobre os jornalistas, o retirar condições dignas de exercerem a sua actividade profissional, criando dificuldades financeiras e promovendo anátemas contra os jornais e jornalistas, utilizando para tal as redes sociais, onde tudo é permitido, para hipervalorizar a informação dos poderes instituídos e atacar a liberdade de opinião, gerar ódios de estimação, quer contra os jornais, quer contra os jornalistas, tal como diz António Guterres são – cada vez mais descaradas.
É isso, e, por tudo isso, certamente, mais cedo ou mais tarde, essa realidade vai dar origem que a democracia seja substituída por outra coisa qualquer, na Hungria, agora, o Parlamento Europeu chama-lhe «autocracia eleitoral».
Uma das preocupações que vivo na minha actividade de «fazedor de jornalismo» é sentir que, por vezes, são aqueles que vestem camisola de democratas que, são eles, afinal, que cultivam, de forma subtil, como quem não quer a coisa, essa aversão ao jornalismo livre e pluralista.
As ambições e os jogos do poder, a sobrevivência, coloca como lema de acção, uma frase que um politico já falecido, por vezes, comentava comigo: “sabes na politica quem não mata, morre. Eles querem matar-me. Eu não lhes posso dar espaço de manobra”. Eu discordava porque achava que a democracia não tem que ser autofágica, nem na vida interna dos partidos, nem no combate entre os partidos.
Mas, a vida, deu-me uma lição, essa que se vive no mundo de hoje, onde o pragmatismo substitui cada vez mais a democracia, quer pela ausência do debate de ideias (nem falo em ideologias), mas sim, de facto, a ausência de ideias e ideais.
É, pois, urgente repensar as heranças democráticas vindas dos séculos XVIII, XIX e XX, porque, sem dúvida, o mundo mudou, e, isso exige a necessidade de ser repensar a democracia, para a fazer crescer, para a enriquecer, para lhe dar energia, e, dessa forma, motivar os cidadãos especialmente pela acção e estratégias de proximidade, que acreditem e vivam a vida politica, vivam a cidadania, e, nunca, mesmo nunca, abdicarem ou desistirem de ser actores no construir a cidade e viver a cidadania.
De facto, cada vez mais, os cidadãos estão sendo reduzidos a meros consumidores de pacotes, e pacotes e pacotes, ou tratados como simples algoritmos de gestão de imagem.
Mas, a terra continua a girar…porque, na verdade, ainda há quem não desista de acreditar que é possível construir, sim construir, um mundo onde a liberdade seja sinónimo de dignidade, e, não seja apenas, isso que alguns querem, uma mera alforria que, pouco a pouco, vai transformado a democracia em autocracias.
António Sousa Pereira
Foto - ONU
15.09.2022 - 23:28
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