inferências
Por dentro dos dias – Barreiro
As obras de Santa Engrácia
Mas recordemos. O novo poder assumido no Poder Local, no ano 2017, nesse ano, que se assinalava o centenário da criação do surrealismo, ao anunciar este projecto de defesa e valorização do Património, queria, pelas narrativas da época, demonstrar três coisas
– primeiro que estava aqui para valorizar o património ferroviário e mais que falar, fazer;
segundo criar condições para receber turistas, dando um passo em frente numa cooperação pública – privada, avançando com a construção de um hostel;
terceiro provar que era possível a criação de emprego e atrair jovens para se fixarem no concelho.
Tudo perfeito. Isto era mesmo marcar a diferença.
Estas ideias-força eram anunciadas, em vídeo, fotos, noticias – “isto é uma boa noticia”. As pessoas tinha que sentir a mudança.
O importante era fazer brotar na opinião pública, com factos e não com palavras, pois, isso das palavras era o que faziam os antecessores, no dizer, naturalmente, do novo poder, sempre em busca de demonstrar o seu perfeccionismo.
Este era um exemplo que, a partir de agora, demonstrava como tudo iria ser diferente. Os outros falavam. Nós fazemos.
Assim foi anunciado com pompa e circunstância a defesa do património ferroviário, um projecto, de recuperação do edifício do dormitório e do Armazém de Víveres da CP, fruto da assinatura de um contrato de subconcessão entre a Câmara Municipal do Barreiro e a IP – Património.
Hoje, ainda não se sabe, eu desconheço, se estou errado, a verdade, é que nunca foi feito nenhum vídeo a divulgar, se aquele património é municipal ou se continua a ser propriedade da IP – Património.
A recuperação do edifício do dormitório e do Armazém de Víveres, afirmava-se iria possibilitar o nascimento, naquele local, de uma hospedagem - um hostel, zonas de restauração e de lazer.
Por outro lado, a recuperação do antigo dormitório da CP, junto à estação ferroviária, este seria um edifício âncora para transformar aquela área numa zona de turismo e lazer. Escrevia-se – «permitindo a criação de emprego e a requalificação daquela área, conhecida como “a linha do Alentejo”.
Assim em agosto do ano 2018, a Câmara Municipal do Barreiro anunciava o início de um processo de requalificação, afirmava as transformações que estavam em curso ali – “um dos locais emblemáticos do concelho, contribuindo para o início de uma fase em que se pretende atrair e fixar a população mais nova no concelho”.
Foi anunciada uma hasta pública para todos os interessados no investimento. Dito que o total do montante a investir seria privado assegurando a requalificação de uma área com mais 296.00 m2, num processo que deveria estar concluído antes do final de 2019.
O tempo passou. A autarquia concretizou empréstimos com o objectivo de realizar esta importante, obra, a tal, de acordo com as suas próprias palavras – um local emblemático que iria contribuir para a criação de emprego e a requalificação daquela área.
A ideia de mudança estava inscrita nas narrativas locais. O turismo. O emprego. A defesa do património. Um mundo novo. Um tempo novo. Viviam-se os tempos de celebração do centenário da criação do Surrealismo, da Aparição de Fátima, da Revolução Russa. Era um tempo mítico, de epopeia revolucionária e criativo. A imaginação acima da razão.
As obras arrancaram, pararam, arrancaram,…e, hoje, ao passar no Ramal das Lezirias. O meu o olhar fixou-se nas gruas, das obras privadas, e, ali, naquela obra anunciada em 2018, com a conclusão se concretizar, foi dito, nos finais de 2019. Ah claro, houve a pandemia. Ah claro, houve eleições com os resultado da maioria absoluta. Agora, isto pode esperar…
Nunca escutei, ou li, justificações. Nunca mais vi um vídeo sobre esta obra de valorização do património ferroviário, de criação de emprego, de criação de um nicho turístico.
As obras continuam, lá estão, no terreno, avançando, serenamente, uma espécie de obras de Santa Engrácia. Um dia ficarão concluídas. Serão inauguradas. Com festa e vídeos e um novo nicho turístico nascerá, junto ao Ramal das Lezírias.
Teremos vídeo. Narrativas. Estará tudo bem, porque acaba tudo em bem.
Só então, saberemos quantos postos de trabalho serão criados.
Só então saberemos que nicho de turismo é que por ali vai nascer. Já me constou que será um Espaço Memória, talvez recauchutado.
Aqui fica este registo, que me ocorreu hoje, dia 28 de agosto de 2023, ao passar num local de uma obra que foi anunciada, em 25 de agosto de 2018, como exemplo de mudança e de inspiração de novos tempos, o tal, que previa passar das palavras à acção. Só que esta acção foi mesmo e está ser mesmo uma verdadeira cesariana. Assim seja, a César o que é de César!
Pelo meio, ficaram as divertidas conversas e polémicas, sobre denominações do espaço do Dormitório da CP, onde, quando estiver concluído, diz-se, terá com função ser a casa da Assembleia Municipal - a Casa da Cidadania - tal com foi divulgado, nas Festas do Barreiro, num folheto do PS 2830.
É isto, a cidadania será vivida na Casa da Assembleia Municipal. Afinal, este é o fruto, real, do “estado da nação local”.
António Sousa Pereira
29.08.2023 - 20:15
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