inferências
A(nota)mentos – Porque gosto de pensar a cidade com memórias
Entrou em funcionamento a terceira rotunda da Avenida do Bocage
A abertura da terceira rotunda – ou quarta rotunda - da Avenida do Bocage, agora no cruzamento desta com a Rua Miguel Bombarda é uma obra que registo com agrado e que o município e os munícipes estão de parabéns.
Há 40 anos atrás, no mês de agosto de 1983, faz agora 40 anos, teve início uma obra que foi essencial para alterar completamente as condições de mobilidade numa via estruturante do concelho do Barreiro – a Avenida do Bocage. Foi a obra de abertura da Avenida do Bocage, o seu prolongamento até à zona ribeirinha, rompendo com a barreira existente, com as instalações da Bomfim.
Uma obra que demorou cerca de 150 dias, com um investimento de 20 mil contos. Uma obra que reflectia uma forma de olhar para o território e para a importância de aproximar a cidade do rio.
Recordo, que nessa época, estava em construção o novo Hospital do Barreiro e, por essa razão, a decorrer, igualmente, as obras da zona envolvente do Hospital do Barreiro, as obras de ligação à via rápida, as obras do nó viário do Lavradio que, por fim, abria um novo viaduto, e, eliminado um velho túnel centenário, naturalmente este processo também contribui para ligação da Avenida do Bocage até à Via rápida IC 21.
Nesse tempo o Poder Local dava os primeiros passos, tinha dificuldades de recursos técnicos e humanos, tinha dificuldades financeiras enormes, davam-se os primeiros passos na aplicação da Lei de Finanças Locais, que raramente era aplicada, e, também na implementação da autonomia do Poder Local. Enfim um tempo de muito voluntariado e dedicação sem limites, Um tempo sem fundos europeus, sem PRR, e, que somo em todos os tempos a principal fonte de receita das autarquias são as taxas de urbanizações.
Nesse tempo, o Poder Local era, ele mesmo um espaço de aprendizagem, de descoberta de saberes e de formas de pensar, fazer e viver a cidade. Tudo era inovação. Na recolha dos resíduos urbanos à implementação de zonas verdes.
Um tempo em que emergiam novas abordagens na forma de pensar o território urbano, no seu planeamento, na criação de equipamentos, na mobilidade, por exemplo, a plantação de milhares de árvores, a criação de zonas verdes em espaços degradados por urbanizações, antes do 25 de Abril, sem respeito pelos espaços envolventes.
Um tempo em que se aprendia a pensar cidade, a pensar território, a pensar instrumentos de gestão do território, planos de urbanização, planos de pormenor, essas ferramentas essenciais para pensar as cidades e fazer cidades.
Isto, num tempo que o concelho do Barreiro atingia os 86 mil habitantes, um tempo em que ainda havia emprego no Barreiro – na então Quimigal e nas Oficinas da CP, que existia um comércio local pujante, com marcas de referência na região.
Nesse tempo que o Barreiro tinha duas vidas próprias – uma aule a de quem vivia cá e trabalhava cá, composta por largos milhares de pessoas, situação que não acontece nos dias de hoje; outros aqueles que viviam cá e trabalhavam ou em Setúbal – Setenave e outras empresas, Lisnave, ou em Lisboa.
Hoje, o rumo é Lisboa ou a Autoeuropa e outros concelhos limítrofes, porque trabalho por cá, é do estado, do Tribunal ao Hospital, dos Centros de Saúde às escolas, da Câmara às Junta de freguesia, do centro de emprego a Misericórdia e IPSS’s que vivem dos apoios do estado.
Depois, cada vez mais, continua a ser Lisboa a força centrípeta para onde diariamente se deslocam milhares e milhares de pessoas que aqui nasceram, ou que aqui vivem, estes, para além daqueles que a bolha imobiliária de Lisboa está, neste século XXI, de novo, tal como aconteceu nos anos 70, a empurrar de Lisboa para a margem sul.
Um território é um espaço onde se inscreve a forma como se faz cidade e pensa cidade. E para fazer uma cidade, talvez o mais importante é que exista uma ideia de cidade, que se mobilize os agentes da cidade para fazer cidade e cidadania.
E, nunca esquecer, que no território só é possível realizar, nos dias de hoje, certas intervenções porque os que antecederam desbravaram caminhos e deixaram um legado. Com defeitos e certamente com algumas virtudes, como hoje, ficará outo legado para os vindouros. É assim a cidade é um corpo em movimento em transformação que envelhece e se rejuvenesce.
Esta reflexão ocorreu-me à memória, a propósito da abertura da terceira rotunda – ou quarta rotunda - da Avenida do Bocage, agora no cruzamento desta com a Rua Miguel Bombarda.
Uma obra que registo com agrado e que o município e os munícipes estão de parabéns.
Depois da rotunda junto ao Hospital do Barreiro, a segunda rotunda junto ao Edificio Europa, para não falar da “rotundinha”, estruturada pela União de Freguesias do Alto do Seixalinho, Santo André e Verderena, na época com a presidência de Carlos Moreira. Se contarmos com esta serão quatro rotundas.
As rotundas são obras que beneficiam a circulação rodoviária, a mobilidade, e, pela sua presença no espaço urbano, são obras com visibilidade.
A Avenida do Bocage, na sua diversidade, de construção urbanística, de seu enquadramento urbano, no ser uma via estruturante, merecia ser um caso de estudo, e, olhando para ela, pensar a cidade e o fazer a cidade. Nomeadamente na sua polinuclearidade.
Desde a abertura, que aconteceu há 40 anos, que estabeleceu a ligação desta avenida à zona ribeirinha, desde o seu enquadramento na zona urbana, em trono do novo Hospital do Barreiro, desde a sua ligação à Urbanização dos Fidalguinhos e ao concelho da Moita, as diferentes intervenções ao seu redor são uma riqueza enorme, no pensar e fazer cidade.
Eu ainda sou do tempo que se ia a pé do Lavradio para Casquilhos, por uma azinhaga, e, hoje, olhando para a paisagem já nem recordo o que era aquele território, comparando com o que ele é hoje, tanta coisa mudou, e tanta coisa foi feita, por diversos executivos anteriores – Helder Madeira, Pedro Canário, Emidio Xavier (este, por exemplo, com uma importante obra estruturante de ligação de Avenida do Bocage - Casquilhos/Hospital a Santo André), também Carlos Humberto, a culminar no actual executivo liderado por Frederico Rosa.
É isto o território de uma cidade, vai-se transformando, uns dão os primeiros passos, outros dão passos seguintes e outros vão dar novos passos perante novas circunstâncias.
Abriu a terceira rotunda ( ou quarta da Avenida do Bocage), e, certamente outra ou outras ainda terão que surgir, sendo concretizadas com custos mais caros, ou com custos mais baratos, com recurso a contrapartidas, ou com verbas da autarquia.
É assim, será assim, sempre assim…
Mas, o que eu gostava é que um dia, no futuro, a Avenida do Bocage, em vez de ser essa a “via rápida”, onde se poupa ( diz-se, agora, poupa-se 10 minutos para chegar ao barco, coisas que se dizem) fosse transformada numa Avenida central da cidade, uma zona verde até à zona ribeirinha, uma avenida da Liberdade, com habitação, lojas e comércio, com passeios largos para passear, porque esse seria um sinal que as pessoas trabalhavam e viviam nesta margem. Uma avenida central de uma polinuclearidade, porque o concelho do Barreiro é mais, muito mais, que o que está perto dos Paços do Concelho.
E, essa mudança, por fim, seria a prova real, que o Terminal Ferro Rodo Fluvial já tinha sido deslocado para a zona da Baía do Tejo, e para aquele território estendia-se o centro da cidade. Um espaço com futuro, com uma área de emprego, habitação, serviços e um nicho cultural único na AML, tudo isto, com vias ferroviárias ou de Metro de superfície com ligações ao Seixal e ao mundo.
Mas isso sou eu a sonhar…
António Sousa Pereira
07.09.2023 - 12:12
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