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Barreiro - Por dentro dos Dias
50 anos de Abril…a Liberdade, a Liberdade!
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Lá estive com o meu amigo Armando Seixas Ferreira, numa amena troca de ideias sobre os dias antes de abril, depois de abril, e, sublinhar a grande herança desta data histórica – a Liberdade!
No começo, um grupo de alunos, em fase de aprendizagem de leitura, leram o poema da gaivota, aquela que voava, voava, e, dizia, somos livres, somos livre…não voltaremos atrás. Um momento que na verdade é o Abril vivo, este abril, deste Portugal que continuamos a construir.
Foi, igualmente, projectado um trabalho produzido pelos alunos que estão a adquirir competências na área de informática, que percorreu os dias desde o golpe militar do 28 de maio, que instaurou a ditadura, passando pela guerra colonial, as condições adversas dos portugueses, as prisões, a censura, até, ao dia libertador – 25 de Abril.
Depois, o Armando perguntou-me, com aquela conhecida pergunta do escritor e jornalista Baptista Bastos: Onde estavas no 25 de Abril? E recordei a minha história desse dia de barco do Barreiro ao Terreiro do Paço, que estava cercado por uma coluna militar. A minha ignorância que estava a acontecer uma revolta militar. A minha tomada de consciência e alegria, ao sentir que estava em marcha uma mudança, ao escutar no eléctrico, no Cais do Sodré, os sons de um pequeno rádio, que alguém transportava, e, no ar ouvi o comunicado do Movimento das Forças Armadas e conhecidas músicas de intervenção. Depois, chegar ao Quartel de Lanceiros 2, onde cumpria o serviço militar, e, pouco depois saber que a posição da unidade era de confronto com os militares revoltados. Viver aquele dia, numa agitação, governantes que ali se esconderam, um helicóptero a descer na parada para os levar, os canhões da Unidade Militar de Vendas Novas, instalada no Cristo Rei, em Almada, com a mira rumo a Lanceiros, dizia-se. A formação de todos na parada, ao meio da tarde, e, o Furriel Ramos a colocar uma bandeira branca, na porta de armas. Foi o último quartel a render-se.
Depois falou-se de tudo um pouco, de coisas de antes do 25 de Abril, dos Jogos Juvenis do Barreiro, como projecto de democracia, desporto e cultura. Onde aprendi a palavra Liberdade. Da censura que num artigo com o título – Jogos Juvenis do Barreiro – do povo para o povo, Cortou em todo o meu artigo a palavra povo e no título - #do povo para o povo”.
Das prisões de membros da CDE, em 1973, na sede perto na Avenida da Praia, perto do Largo das Obras, de repente cercada por jipes da GNR, com os guardas a sair de espingardas nas mãos e prenderem todos os que lá estavam. Eu ia para a sede da CDE, naquela manhã de sábado, e, a cena que descrevi desenrolou-se na frene dos meus olhos. Fiquei especado na Avenida da Praia, a observar aquele aparato. Tive medo. Sim tive medo, contei.
Era este Portugal que vivíamos antes do 25 de Abril, de censura, prisões por ter ideias diferentes e opiniões politicas. Falámos da Guerra Colonial. Falámos das condições de saúde, de abastecimento de água, do saneamento inexistente. No país e no concelho do Barreiro. Falámos das ruas sem passeios, dos logradouros abandonados, de um território sem rei, nem roque, e , como o tudo isso mudou nos dias pós 25 de abril.
Falamos de Paz, que se concretizou no primeiro D, do programa do MFA – Descolonizar.
Falámos de liberdade – que se concretizou no segundo D, do programa do MFA – Democratizar.
Falámos de Progresso, que se concretizou no terceiro D do programa do MFA - Desenvolver.
Falámos de Liberdade. Falámos de democracia. Falámos que democracia não é uma ideologia, mas, sim, o diálogo e o confronto de ideologias.
Falámos do passado. Falámos do presente. Falámos do futuro. Dos receios, das dúvidas, da manipulação, da culturas do pensar a preto e branco, essa herança de 48 anos, que se projecta no tempo e no pensamento.
Foi uma conversa pela noite dentro nesta terra, que não é minha, mas é a terra dos meus filhos e neta, a terra onde aprendi a viver e a amar a Liberdade, que inscrevi no meu sangue, nos meus nervos, nesse percurso que vai do sentir, pensar e fazer-se saber.
O Barreiro que devia orgulhar-se desse seu património imaterial, uma herança de muitas gerações, marcada por 424 presos, e, muitos que não tendo sido presos ergueram a voz pela democracia e liberdade, fazendo desta terra um símbolo da resistência e da Liberdade.
Por isso, disse, já era tempo de o Barreiro ergues um memorial à resistência e Liberdade. E, ter um grande orgulho desse seu passado, da luta de pais e avós, de sucessivas gerações.
Obrigado pelo convite. Foi uma noite de saudade no futuro. Uma noite que findou com a projeção de cartazes, criados pelos alunos, evocando 50 anos de abril e a Liberdade.
Qual achas que é o maior legado do 25 de abril? – perguntou o Armando.
A Liberdade, a Liberdade, respondi.
António Sousa Pereira
TE – 180
Equiparado a Jornalista
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25.04.2024 - 12:48
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