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Barreiro - Por dentro dos dias
A Liberdade e a Utopia que descobri nos JJB

Barreiro - Por dentro dos dias <br />
A Liberdade e a Utopia que descobri nos JJB As memórias são aqueles factos que se inscrevem na consciência, coisas vividas, coisas que sentimos ajudaram a escrever páginas da história da comunidade, aquela realidade que é totalidade do tempo que vivemos.

Tive o privilégio de integrar a Comissão Organizadora dos Jogos Juvenis do Barreiro, através da Comissão de Redação do Boletim – “Continuando”, uma experiência que não esqueço porque com ela aprendi a viver a palavra utopia, por dentro do fazer vida e cidadania, num tempo de nervos, medo e esperança.
Ontem, quando José Pacheco Pereira, a propósito da apresentação do catalogo da exposição “Unidos venceremos”, dedicada ás lutas e movimentos nos anos 1968 – 1974, a dita “Primavera marcelista”, e comentava a diversidade de dinâmicas politicas e culturais que emergiram naqueles dias de cosmética da ditadura, quando a PIDE passou a ser DGS, a censura passou a ser exame prévio, etc, recordei aquele artigo que editei no jornal “Noticias da Amadora”, nesses tempos antes de Abril e dei-lhe o título – Jogos Juvenis do Barreiro – desporto do povo para o povo. A censura, dita exame prévio, cortou diversas partes do texto e no título cortou “desporto do povo para o povo”.

E foi, por esse, e outros pensamentos que me ocorreram que interroguei se podia fazer um comentário, para sublinhar a importância dos Jogos Juvenis do Barreiro, enquanto movimento desportivo e cultural, cuja utopia era construir liberdade, defender e valorizar os direitos da criança e os direitos humanos.
Recordei que, os JJB foram para além do Barreiro, como projecto de envolvimento da comunidade na valorização do desporto de todos para todos, de actividades culturaias e formativas.
Por essa razão, nasceram em Guimarães, em Abrantes, na Moita e noutros locais que não recordo, por essa razão, o regime até desejava integrar o modelo dos Jogos Juvenis na Mocidade Portuguesa, posição que foi sempre, mas sempre, rejeitada pela Comissão dos JJB.

E, fiz esse comentário, ali, naquele espaço da Startup, onde está patente ao público a exposição: Liberdade – uma força que tudo muda”, que “conta histórias” e “comemora os 50 anos do 25 de Abril, falando na sua primeira e mais poderosa consequência, a liberdade”.
Refere-se as “liberdades que se desejaram e as liberdades que se afirmaram, que mudaram as nossas vidas e a nossa cidade do Barreiro”.

E, nas voltas que por ali dei, os meus olhos, não encontraram um painel, uma referência, a esse movimento de luta pelos direitos da criança – Dia que era sempre comemorado, antes do 25 de Abril acontecer, pelos JJB – ou os Direitos Humanos, outro Dia, sempre assinalado pelos JJB. Uma epopeia de amor à vida, de resistência e resiliência, que foi para lá do desporto.
Ainda nos dias de hoje, quando percorro o Parque Catarina Eufémia, naquele tempo Parque Oliveira Salazar, escuto as canções a soar na memória – eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida, como bola colorida entre as mãos de uma criança. Ou, o sorriso da canção – olha a bola Manel, olha a bola…foi-se embora fugiu! A bola que eu imaginava como sendo a Liberdade!
Se houve quem se ergueu para trabalhar e por afirmar os Direitos da Criança, os Direitos Humanos, foram os homens e mulheres dos JJB, todos, estiveram nesse combate. Mesmo depois do 25 de Abril.

E, já agora, onde estava sentado na sala a assistir aquelas conversas sobre a liberdade, a democracia, reparei que estava um espaço dedicado à comunicação, nomeadamente à imprensa regional, e, curiosamente, os jornais expostos eram várias edições do Jornal do Barreiro, neste caso, de antes do 25 de Abril.
E, para quem não sabe, se algo se alterou na vida local foi também a presença da imprensa regional ou local. Nasceram e morreram vários títulos, gritos de esperança, vozes em busca e luta pela democracia e liberdade.
Só de memória, recordo alguns, nascidos após o 25 de Abril, nessa afirmação do direito ao pluralismo e diversidade : “O Jornal Daterra”, «Proposta», revista CRL, “Margem Sul”, “Voz do Barreiro”, revista C&S – Comércio e Serviços, «O Cachaporreiro», jornal “Rostos”, e, outros títulos que de momento não recordo, também, as rádios Rádio Sul e Sueste, Rádio Margem Sul, para não falar de boletins que foram editados por Comissões de Moradores e associações, e, também, a própria comunicação ao nível municipal e de freguesias..

É verdade a Liberdade é a “força que muda tudo”, é por isso, foi por isso, que recordei os dias do JJB, esse tempo que vivi, um tempo onde aprendi a viver, a sentir e a abraçar a palavra Liberdade!
É verdade a Liberdade e a Utopia que descobri nos JJB, mudaram a minha vida e deram-lhe o sentido de nunca perder o respeito pela vida, porque, afinal, Liberdade rima com Dignidade!

António Sousa Pereira
TE – 180
Equiparado a Jornalista

23.10.2024 - 17:10

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