inferências
Barreiro – Rosto da Semana
Padre Luís Martins- a vida vivida de um Padre – Operário
Conheci o Padre Luís Martins, no Lavradio, onde a comunidade católica foi marcada, ao longo de décadas, pela cultura dos padres-operários, sacerdotes que assumiram viver as suas vidas na condição de operário. O Padre Luís Martins foi um homem da Equimetal, um homem do sindicalismo, um lutador pela Liberdade e Democracia.
Por essa razão, no ano de 2015, a Câmara Municipal do Barreiro, atribuiu o Galardão Barreiro Reconhecido, na Área da Resistência Antifascista, Democracia, Cidadania e Luta pela Liberdade aos Padres Operários do Lavradio: Padre Rodrigo Mendes; Padre Luís Ferreira; Padre Manuel Pereira Crespo; Padre Constantino Alves; Padre Joseph Poiron – a Título Póstumo. Conheci todos, com alguns partilhei momentos que guardo com ternura – o Padre Rodrigo, com memórias de antes do 25 de Abril, de amor à democracia e antifascismo, e, aquela decisão que partilhámos de propor a atribuição do nome de Monsenhor Óscar Romero, ao espaço envolvente da Igreja de Santa Margarida – Lavradio; Padre Joseph, que me casou, e, aceitou que as nossas leituras fossem os Direitos Humanos, e o evangelho que escolhemos fosse “amai-vos uns aos outros”, e, no meio da cerimónia matrimonial, um minuto de homenagem a Che Guevara, posteriormente, num jantar, em minha casa, ofereceu-me um livro sobre a “Teologia da Libertação”. Ou o Padre Constantino, que conheci nas suas lutas sindicais, ou o Padre Crespo que conheci nas aventuras e sonhos do PREC, nesses dias de Conselhos Revolucionários. Homens que abraçavam a vida com paixão pelo ser, e não pelo ter, que sempre admirei.
A apresentação do livro do Padre Luis Martins trouxe á minha memória essa presença da Igreja na comunidade lavradiense, sempre viva e sempre activa, sempre solidária, na primeira linha das Comissões de Moradores, na primeira linha a lutar pela abertura da Cantina na Escola Primária, para servir refeições, com trabalho voluntário e amor à comunidade.
O Padre Luis Martins é um desses rostos, que abraçou a luta pela vida nos dias de maio de 68, em França, e esteve, em muitas lutas, pelo pão, pelo direito ao emprego, soube o que foi viver sem salário, como muitos no Barreiro e na região de Setúbal, soube o que foi trabalhar na fábrica, uma fábrica real, onde se sente e viva a palavra solidariedade – de trabalho, resistência e luta.
Pela sua coragem de dar a conhecer e legar para memória futura esta presença da Igreja, no mundo operário, no Barreiro e em Portugal, merecidamente, recebe a distinção Rosto da Semana.
António Sousa Pereira
TE – 180
Equiparado a Jornalista
04.11.2024 - 10:51
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