inferências
Barreiro – Por dentro dos dias
Ilha do Parque : portão na ponte só dá acesso ao espaço comercial
Não quis, até ao momento dar qualquer opinião sobre o equipamento comercial instalado na Ilha do Parque. Escutei muitas opiniões, diferenciadas, desde o pleno descontentamento, até à plena satisfação. Depois, em torno de comentários, como é habitual, nos tempos de hoje, qualquer posição diferente da “opinião dominante”, é rotulada pela retórica do costume – aziados, comunistas, agora também já vai surgindo o rótulo de populistas, e, sempre com as óbvias afirmações que “está melhor có que estava”, “que não fizeram e não querem que isto mude”, enfim, as narrativas, as bolhas mediáticas, para silenciar a debate de ideias e o pensar a cidade e dar força à cidadania.
Por mim, não gosto daquela densidade volumétrica a ocupar de forma abrupta aquele espaço “natural” no centro da cidade. A paisagem tem memórias inscritas. A cidade precisa de respirar e, ali, era belo sentir a frescura no meio da cidade a sorrir nos meus olhos.
Nos tempos idos, muitas vezes, disse, em escritos diversos, que uma cidade não é feita só de obras, de grandes obras. Há mais vida para além das obras! Há cidadania.
Ora as conversas que se escutam em torno da Ilha do Parque, ao redor da Urbanização dos Fidalguinhos, ou outras que pululam pelas redes sociais – o espaço privilegiado do fazer acção politica nos tempos actuais – é porque não existe uma estratégia de comunicação com a cidade, nem de valorização da cidadania.
Que saudades tenho dos discursos sobre orçamento participativo e das críticas que apontavam para a existência de “déficit democrático”.
A obra da Ilha do Parque era merecedora de esclarecimentos à população, de ser esclarecida e fundamentada num âmbito de uma estratégia e do pensar, presente e futuro, do centro da cidade.
Uma cidade tem que respirar. Tem que sentir a natureza a pulsar no espaço urbano. Já existia, no século XVIII, quem defendesse essa ligação das cidades à natureza, criando jardins, zonas verdes amplas.
Aquele nosso central Parque é um nicho criado no centro da cidade, na época marcada pela poluição industrial.
Nos dias de hoje, merecia mais atenção, ter, por exemplo, uma iluminação com mais qualidade, ter programas regulares de animação e valorização dar vida àquele coração verde.
A ilha era um espaço único de recreação, que gerava tranquilidade e serenidade no centro da cidade. Uma cidade que não valoriza o seu património, natural, humano, nega seu o passado e destrói, no presente, a sua identidade, que é sempre a raiz do seu futuro.
Ali, na Ilha do Parque estão inscritas memórias de muitas gerações. A ilha do Parque é nossa da comunidade, ou por outra, era nossa da comunidade, agora, com portões, está totalmente “privatizada”. São, afinal as leis do mercado que definem as estratégias politicas e urbanísticas.
Na realidade, quase tudo, em todo lado, é feito sem grandes explicações, sem justificações. Encerra-se. Muda-se. Vamos fazer isto e aquilo. Ah , é isso uns falam, outros fazem.
Depois os aziados vão falar, e, para o marketing politico, isso, até é bom, porque vai manter em “banho de maria” aquele caldo que gera a indiferença, estimula a critica fácil, e gera ausência de pensamento sobre a cidade e o seu espaço urbano.
Por fim, a conclusão é sempre a mesma : “Está melhor có que estava”!
António Sousa Pereira
TE – 180
Equiparado a Jornalista
13.11.2024 - 12:59
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