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A(nota)mentos – Barreiro
A passagem estreita do Lavradio e o comércio local

A(nota)mentos – Barreiro <br>
A passagem estreita do Lavradio e o comércio local Há uns tempos atrás, no mês de novembro ou dezembro, do ano da graça de 2024, encontrei um amigo, um lavradiense, que, por mero acaso, comentou comigo, naquele encontro e conversas que costumamos partilhar, disse-me: “Sabe que vai ser resolvida a situação da passagem estreita da entrada do Lavradio”.

Comentei que sabia, na verdade, ser uma intenção e uma decisão assumida há muitos anos, e, que, ao longo dos anos escutei como desejo de concretizar por mais que um presidente de Câmara, e, por mais que um vereador da área do planeamento.
“Sim, é verdade, o assunto esteve mesmo prestes a ficar desbloqueado, com o Carlos Humberto, mas houve umas coisas que acabaram por, mais uma vez, adiar. Agora já está resolvido. É para breve, o assunto vai para a frente”, disse-me o meu amigo.
Fiquei feliz, uma informação que, na altura, não quis partilhar, mas que aguardava com entusiasmo, porque aquela passagem estreita é um problema que afecta a mobilidade e emperra o trânsito á entrada da vila. Em boa hora, finalmente o assunto vai ser resolvido. Uma intenção e decisão assumida por diferentes executivos municipais e, certamente, envolvimento de técnicos da autarquia.

Por estes dias, surgiu então a notícia que confirma as palavras do meu amigo. A passagem estreita da entrada do Lavradio vai ser aberta, porque o município adquiriu, por 125 mil euros, três habitações, e, assim, será possível alargar a via pública e concretizar um sonho de gerações. Estamos de parabéns.
Mas, o que me admirou, no que por aí foi dito, a propósito da abertura da passagem estreita foi escutar que este melhoramento vai contribuir para que o comércio do Lavradio tenha mais vida e que a vila irá rejuvenescer. Fiquei curioso e, na verdade, gostava de conhecer, se é que existe, algum estudo económico que permita estabelecer uma relação de causalidade entre a existência da passagem estreita da entrada da vila do Lavradio e a crise que afectou o comércio local. Nunca tinha pensado, sinceramente, nunca tinha pensado. Problema meu, certamente, no pensar, nesta relação causa-efeito, que a passagem estreita originava na vida do comércio lavradiense, e, nem sequer no envelhecimento da população do Lavradio, pois, também escutei que o fim da passagem estreita vai contribuir para o rejuvenescer da vila.

Pensando em tudo isto, na minha ignorância e incapacidade de perceber, os futuros resultados para a vila do Lavradio, fruto desta medida – dita estratégica, de repente dou comigo a pensar, naquele sítio, sim aquele sítio - a passagem estreita do Lavradio. Ela mesma, só nela, e recordo que afinal, ainda pelos anos 80 e 90 do século passado, aquela passagem estreita, que já vinha do século XIX, era afinal, no século XX, um espaço vivo e com uma grande actividade social e comercial.

Ali, sim ali, na passagem estreita, em plena passagem estreita existia – uma Loja de electrodomésticos, do meu amigo Teodoro, onde comprei diversos equipamentos a prestações. Existia uma padaria. Existia um clube, que era o ponto de encontro do grande Chalana, com os seus amigos - o Desportivo do Lavradio. E existia uma Casa de Comidas – Taberna. Tudo isto só na zona da passagem estreita da entrada do Lavradio. Comércio vivo, com algumas dezenas de postos de trabalho, Eu recordo. E, pelo que sei, não era a passagem estreita que bloqueava essa actividade comercial.
E, já agora, mesmo ao lado logo a seguir à passagem estreita, muito próximo, talvez 20 ou 30 metros, existia o Café Moderno e uma Loja de Roupas, de alta qualidade, para quem caminhava para dentro da vila, e, para quem saía, igualmente a uns 20 metros, existia um Restaurante de alta qualidade, onde se realizavam festas, baptizados e casamentos.
Ora a zona da passagem estreita da entrada do Lavradio era um autêntico centro comercial, a céu aberto, com muitos postos de trabalho.
E nesse tempo o comércio do Lavradio – quer lojas, quer restauração, quer os bares da vida associativa era pujante e vivo. Eu recordo! E a vila tinha juventude e dinâmicas sociais diversas, mesmo com a existência da sua histórica passagem estreita.
Todos sabemos, por experiência, empíricamente, pelos dados da vida, pela história da comunidade, que tudo isto encerrou, tudo isto envelheceu, fruto do encerramento das fábricas, da desindustrialização – do concelho do Barreiro e da península de Setúbal - da desferroviarização do concelho. Estas as causas de perda de emprego, na região, no concelho e, mesmo ali, no sítio da passagem estreita do Lavradio, com a descormecialização.
Foram estas, penso eu, as principais causas que afectaram o comércio local e estão na raiz do envelhecimento da comunidade.

Por essa razão, fiquei perplexo e não consigo, equacionar qual a relação existente, no plano económico e social, entre a existência da passagem estreita e o comércio, nem sequer na minha mente sou capaz de perceber o dito “sentido estratégico” que existe entre a eliminação desta barreira urbana, e, pensar, como é que, essa mudança, vai contribuir para valorizar o comércio e rejuvenescer a população.
Fiquei a pensar em tudo isto, e, gostava de conhecer se existe algum estudo estratégico, onde se insere esta medida, que prove esta relação de causalidade.
Para mim, estamos todos de parabéns, e, na verdade, o actual executivo municipal merece uma saudação por levar a bom porto as negociações que se arrastam há décadas e, desta forma, ter dado o seu contributo para melhorar a mobilidade urbana e valorizar a qualidade de vida da comunidade lavradiense, colocando ponto final nesta barreira urbana, tal, como aconteceu, para quem não recorda, nos idos anos 70, ter sido eliminada a barreira urbana - o túnel junto à Escola Álvaro Velho.
Enfim, é por isso que não percebo esta equação – passagem estreita versus comércio local. Ou por outra, percebo…estamos no ano de 2025.

António Sousa Pereira
TE – 180
Equiparado a Jornalista

20.01.2025 - 15:27

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