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Por dentro dos Dias
RESPEITO – GRATIDÃO – OBRIGADO
Por António Sousa Pereira
Barreiro

Por dentro dos Dias<br>
RESPEITO – GRATIDÃO – OBRIGADO<br>
Por António Sousa Pereira<br>
Barreiro E, nestes, 51 anos, nesta terra Barreiro, onde aprendi a sentir e a pensar a palavra Liberdade, o direito à indignação, e, a viver a alegria de ser insubmisso, hoje e aqui, quero apenas recordar os dias de Abril, escrevendo três palavras – Respeito, Gratidão e Obrigado.

O tempo passa, vai ficando distante, esse dia, tão lindo, aquele dia de gaivotas a voar em pensamentos livres, de armas a florir, e, escutámos as vozes em coro, vibrante a sonhar e viver os sons da vida em Liberdade.
Vai ficando distante o tempo, de trovas e poemas de resistência e resiliência, nas ruas, nas igrejas, nas fábricas, nos escritórios, nas escolas, nas matas e no capim de África, esse tempo, que calava as ideias diferentes, impondo o pensamento único.
Lá vai, esse tempo, que cantávamos a sorrir: Canta, canta amigo canta, vem cantar a nossa canção…
Olho para esse tempo, a sorrir, sem sentimentos de nostalgia, apenas estendo o meu olhar por dentro da energia dos meus braços, para erguer, bem alto, um cravo de Abril.
E, nestes, 51 anos, nesta terra Barreiro, onde aprendi a sentir e a pensar a palavra Liberdade, o direito à indignação, e, a viver a alegria de ser insubmisso, hoje e aqui, quero apenas recordar os dias de Abril, escrevendo três palavras – Respeito, Gratidão e Obrigado.

RESPEITO

Sim, RESPEITO pela memória, respeito por todos que sofreram e sentiram na pele, nas prisões, nas torturas, ou mesmo, sem ser em prisões, mas sentiram nas vivências quotidianas, a castração, o silenciamento, o medo, o desemprego, a fome, a guerra, a morte, a corrupção moral, o sofrimento.
Esta terra, Barreiro, terra militarizada, onde, pela Liberdade, ergueram as suas vozes comunistas, anarquistas, socialistas, católicos, cristãos, maçons, gente anónima, gente esquecida, que está inscrita, no grandioso património imaterial desta terra. Terra da Liberdade…
RESPEITO. Sim, respeito, porque pode mudar muita coisa, pode mudar a forma de se olhar para o tempo e o mundo, pode pensar-se que o mundo mudou e mudou, pode pensar-se que, na verdade, os tempos são outros, pode pensar-se desconstruir memórias, pode pensar-se com fantasmas inventados, misturando o passado com o presente, pode-se tudo isso, mas nada mudará o passado. Nada mudará uma coisa que está inscrita na história da comunidade, nada, nem nunca ninguém irá apagar, porque a memória, pode não ser “presentismo”, mas é, e será sempre futuro, porque é história viva.
Por isso RESPEITO. O meu Respeito pela resiliência, de muitos homens e mulheres, que viveram sempre com amor à Liberdade e Democracia.
RESPEITO, porque tudo isto, todas estas memórias, nestes tempos de guerras e decadência, onde dominam os likes, cada vez mais, tem mais significado dar força às memórias, essas feitas de valores, ideias, ideais, sonhos, memórias que devemos passar às futuras gerações.
Sentir que a Liberdade não é um vazio, a Liberdade está inscrita na memória do que fomos, somos e seremos.
Sim, essa memória inscrita no património cultural do desta terra Barreiro, merece RESPEITO..
Sim, tudo muda, mas que nunca deixemos de celebrar Abril com RESPEITO pelo legado de muitas gerações. Abril com valores!

GRATIDÃO

Sim, Gratidão por tanta transformação e mudança na vida de Portugal e nas suas aldeias, vilas e cidades fruto do 25 de Abril. Recordo, por exemplo, que nesse dia 25 de Abril, há 51 anos, quando saí de casa, pela manhã rumo a Lisboa, na minha rua não existiam passeios, assim como acontecia em imensas ruas do concelho. Não existiam passeios, existiam eram dezenas de logradouros degradados, não tínhamos pressão de água em casa para tomar banho, mesmo com água fria. Sim, é verdade existiam zonas do concelho do Barreiro sem abastecimento de água potável, sem saneamento básico, não havia recolha de resíduos urbanos, existia lixeira a céu aberto. Foi o Poder Local, primeiro a Comissão Administrativa depois os primeiros eleitos, que deram passos decisivos para mudar, e mudaram, a qualidade de vida da população.
Foram construídos passeios, arruamentos, logradouros, criados parques infantis, muitas vezes com voluntarismo. Um Poder Local com imensas dificuldades mas com muito amor.
Foram construídas redes de abastecimento de água, redes de saneamento, estradas, escolas, ou salas de aula, milhares de contos. Valeu a pena.
Iniciou-se o planeamento da cidade, ainda hoje, base de trabalho, defendeu-se a valorização das zonas ribeirinhas.
Tudo isto foi possível com homens pioneiros que deram de si pela comunidade, para servir a comunidade. Homens e mulheres que deram rosto ao Poder Local, esta que é uma das mais belas conquistas do 25 de Abril.
Sim, GRATIDÃO a esses pioneiros que valorizaram o concelho. Que transformaram, que mudaram, que merecem o reconhecimento. Registo dois nomes, aqueles que lideraram as equipas: Helder Fráguas, a Comissão Administrativa; Helder Madeira, a primeira Câmara Municipal eleita. Através deles todos que foram os protagonistas nas muitas mudanças que abriram caminho a outros projectos futuros.
GRATIDÃO, é sabermos que nós não somos o começo do mundo, outros nos antecederam e desbravaram caminhos para um futuro melhor.
GRATIDÃO, porque este património do Poder Local faz parte dos sonhos do 25 de Abril.

OBRIGADO!

Sim, OBRIGADO, por a vida me ter proporcionado viver por dentro da história, em movimento, o dia “puro e limpo”.
Obrigado aos militares de Abril. Obrigado a todos os resistentes - homens e mulheres. Obrigado aos cantores de intervenção, que me deram energia para resistir. Obrigado aos poetas que colocaram palavras no meu coração : “eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida”.
Ou aquela canção: “Olha o sol que vai nascendo, anda ver o mar…”. Cânticos que eram sangue a pulsar no coração. Lágrimas a sonhar futuro.
Obrigado Abril, esse dia único, que guardo dentro das raízes do meu pensamento.
Obrigado Barreiro, por tudo o que as tuas gentes deram para construir…um sonho chamado Abril e sentir o sabor da palavra Liberdade!
OBRIGADO BARREIRO!

António Sousa Pereira
TE – 180
Equiparado a Jornalista

23.04.2025 - 12:36

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