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BARREIRO - Obrigado Helder Madeira!
O Homem. O Político. O Democrata. O Cidadão.

BARREIRO - Obrigado Helder Madeira!<br>
O Homem. O Político. O Democrata. O Cidadão. Conheci-te antes de Abril acontecer, numa noite, numa reunião que decorreu num andar, numa casa em frente ao Luso, que era de Álvaro Monteiro. Uma reunião onde discutíamos a preparação da sessão evocativa do 5 de outubro que, dias depois, iria realizar-se no Teatro Cine Barreirense.

Tinhas vindo de uma reunião, algures em Leiria, da Intersindical. As tuas informações eram importantes para os trabalhos da reunião. Foi nessa noite que te conheci, e, então, senti que conhecia um herói, um lutador. Nunca mantivemos uma relação de proximidade.
Até um dia, quando coisas da vida, recebeste-me no teu Gabinete, então Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, para iniciar as funções que vivi apaixonadamente durante mais de uma década da minha vida. Iniciar, desenvolver, estruturar, dar sentido a um Serviço de Informação e Relações Públicas, um serviço pioneiro no país, que foi exemplo e era uma referência para muitas autarquias.
Mantivemos uma relação cordial, de cumplicidade de ação, era uma enorme alegria saber que quando era necessário, estava a teu lado, a prestar serviço, com respeito e sem qualquer sentido de servilismo.

E, agora, nesta hora da tua partida, sinto que contigo vai um bocado da minha vida, de sonhos, de vontade de melhorar a cidade, de ideais que colocavas, sempre, em primeiro lugar na tua vida quotidiana. Eras um homem puro. Eras um homem de uma grande simplicidade e pureza no coração. Nunca te vi quereres ser o protagonista da história. Estavas sempre na primeira linha, mas no teu coração, estava sempre o desejo de servir o teu partido. Tinhas essa convicção que o teu partido era o motor da história e das mudanças da história da humanidade.

Olha, um destes dias estive com o teu filho Rui, no café a conversar. Ele disse-me: “Sousa Pereira, o meu pai está por uns dias. Está a desaparecer todos os dias”. Fiquei triste.
Ontem pela manhã o Rui enviou-me uma mensagem: “O meu pai partiu há pouco, que descanse em paz”. Sabes, quando li esta mensagem, uma lágrima desceu dos meus olhos. Sim, Helder descansa em paz.
Queria escrever um texto para te recordar. Tanta coisa ocorreu no meu cérebro, na consciência, no coração. Convergências. Divergências.

Hoje, dia 25 de Abril, este dia puro e limpo que tu festejavas com tanta ternura e paixão, decidi parar um pouco para te dedicar estas palavras.
Pensei que falar de ti, afinal, é simples, basta escrever que a tua vida foi uma entrega plena a três sentimentos, o Bem Estar, o Bem fazer, e, o Bem Comum.

O BEM ESTAR, não era o teu bem estar, era o bem estar com a tua consciência. O teu bem estar era, afinal, saberes que não eras presidente da Câmara, nem eras Governador Civil, nem eras Presidente da AMRS, estavas Presidente. Estar presidente é muito diferente de ser presidente. Estar é saber que esta função é apenas uma missão temporal, passageira, é um serviço público. Tu vivias essa missão política com plena entrega. Servias a comunidade. Amavas a comunidade. Podias ter um carro e um motorista. Nunca o quiseste. Eras tu que conduzias. E quando podias ter ficado mais um mandato, que, na verdade, nada o impedia, naquele tempo, que era um momento de mudança, porque o cargo de presidente de Câmara passou a ter uma remuneração mais interessante, e, diga-se muito diferente do vivido anteriormente, então, nada te incomodou e, prontamente, aceitaste a decisão de sair da presidência e passares a assumir o cargo de Presidente da Assembleia Municipal.
Servir a cidade. Servir o teu partido.
Esta era a tua dimensão de homem, dedicado, puro de ideias, aberto e fraterno.
Davas tudo de ti para valorizar as tuas opções ideológicas. Em silêncio e com esperança.
Era esta a tua satisfação o Bem estar, de tudo e de todos. O bem estar com a vida, com as emoções com as ideias. Viver com tranquilidade.

Outra dimensão da tua forma de estar na vida era o BEM FAZER, procuravas no teu quotidiano fazer o bem, praticar o bem, realizar o melhor, resolver os muitos problemas do concelho, com parcos meios financeiros. Recordo aqueles dias que nem havia verbas para meter gasolina nos autocarros. A lei das finanças não era cumprida. Faltavam recursos humanos para as muitas necessidades. Arranjar os muitos logradouros abandonados, Criar jardins. Servir a população da zona rural com redes de água e redes de saneamento. A falta de salas de aula nas escolas. Ruas sem estarem asfaltadas e sem passeios. Criar uma Biblioteca Nova, sendo uma das mais modernas do país, exemplo na AML. Realizar a BARRIND. Abrir as portas para modernizar o Barreiro, por exemplo, a nova urbanização da Cidade Sol, que no seu planeamento demonstrava que a habitação tinha continuidade no espaço exterior, na criação de estacionamento e zonas verdes. Provar que habitação não é só o betão, é humanizar o espaço da polis. Esta, recordo, era uma Urbanização na época visitada por grupos de estudantes de arquitectura, para observarem uma nova forma de pensar e fazer cidade. Rasgar até ao Rio Tejo a Avenida do Bocage. Recordo aquela noite da inauguração da Discoteca DNA, que foi o ponto de partida para dar vida à noite do Barreiro. Tanta coisa. O tempo que nasceu o novo Hospital do Barreiro, as batalhas pela reorganização do território envolvente.
Era isso, a tua força era a força de uma equipa, de vereadores de diferentes cores políticas, que criavam e recebiam o teu pleno apoio, no valorizar o ambiente, dinamizar a protecção civil. Coisas pioneiras.

Era por isso, é por isso, que me indignava e indigna, quando, por vezes, na vida politica falar-se desse tempo que lideraste a vida do concelho, como sendo um tempo de estagnação. Ofende-se, quem tanto deu, com amor e voluntarismo, quando se fala em 40 anos de estagnação. Se, nos dias de hoje, arranjar um logradouro, há quem diga que é estratégia de desenvolvimento, afinal, se forem contados os logradouros renovados, nos teus mandatos, então, sem dúvida, foste o maior estratega do concelho do Barreiro.

E finalizo, com o BEM COMUM, as tuas gestões, com as tuas equipas, com técnicos e trabalhadores, com que sempre mantiveste uma relação cordial, de amizade, era sempre uma aposta no servir o BEM COMUM, no criar cidade, no ser construtor da melhoria da qualidade de vida.
Só quem não tem memória, ou só quem quer apagar a memória pode afirmar que o Barreiro nos teus mandatos não progrediu, não evoluiu, não se transformou. Isso é ofender a tua memória, por essa razão, aqui, hoje, quero dizer – OBRIGADO HELDER!

Olha, recordo aquela sessão que dinamizei, como o Dourada Mendes, na SIRB «Os Penicheiros», com o tema : UM ABRAÇO AO HELDER! Que momento enorme de reconhecimento quando findou o teu mandato na presidência da CMB.
Bom, mas são tantas as recordações, que nunca mais findavam.

Sim, quando politicamente segui por outro caminho, ficaste zangado comigo. E, só voltamos a conversar num encontro no jornal Rostos, contigo e o Carlos Humberto, quando eram candidatos.

E, quando o ano passado expressaste a força do teu carácter, quando da atribuição de teu nome a uma rua do concelho ( nem sei onde fica), e, pela voz do teu filho, deste a tua opinião, de discordância, porque consideravas que essas homenagens deviam ser feitas noutra circunstância. Mais uma vez, demonstraste a tua humildade e pureza. Admirei.
Olha, o que eu acho é que um topónimo com o teu nome devia ser colocado numa Avenida, numa Praça, bem no centro da cidade do Barreiro. Merecias essa homenagem. Uma homenagem única.

A vila que se transformou em cidade quando estavas em presidente. O Barreiro deve orgulhar-se de ter em ti, Helder Madeira, um grande exemplo de homem politico, de cidadania, com uma cultura de respeito pelo outro, um político que gerava empatia, fraternidade, que serviu a sua terra e nunca dela se serviu.
Tu és, sem dúvida, um exemplo para futuras gerações, de como a política é uma causa nobre para desenvolver e construir um mundo melhor.
Tive orgulho em estar ao teu lado, em todos os momentos, enquanto trabalhador da autarquia.
Obrigado Helder Madeira! Até sempre!

António Sousa Pereira
TE – 180
Equiparado a Jornalista´
. Fotografia – Anabela Carreira

25.04.2025 - 18:24

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