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Por dentro dos Dias – Barreiro / Montijo
Envelhecimento bem sucedido…é ter tempo para viver!

Por dentro dos Dias – Barreiro / Montijo<br>
Envelhecimento bem sucedido…é ter tempo para viver! Não. Não quero viver um dia de cada vez. Quero acordar, dizer : Boooom Diiiiaaa”. Abrir os olhos ao dia e afirmar: “Eu quero viver um dia todos os dias!” É isso, viver um dia todos os dias. Viver!

Ontem, no Montijo, estive presente nas IV Jornadas de Saúde Sénior, tendo como temática «Viver mais com Saber». Uma tarde de aprendizagem. Um encontro que contou com mais de 200 pessoas, que viveram o evento com entusiasmo, divertindo-se com os momentos culturais e interrogando os prelectores convidados.

Aceitei o simpático convite para integrar o painel da Mesa Redonda que tinha como tema – “Envelhecimento Bem Sucedido”. Foi uma troca de opiniões em torno de experiências vividas, numa conversa moderada pelo jornalista Carlos Anjos, que sublinhou a sua ligação à Universidade Sénior do Montijo, onde dá aulas, partilha conhecimentos e forja amizades.
António Crespo, engenheiro, centrou os seus comentários na importância da qualidade de vida e sermos felizes. É professor de Dança e, para ele, este hobby, é um contributo para se manter activo, e, viver com a comunidade uma paixão que o motiva treinar diariamente com alegria e satisfação.
Maria João Carmo, professora de Educação Física, sublinhou a importância de sair de casa, “toda a gente deve fazer caminhadas”, apesar de aposentada, afirmou, que quer continuar a fazer as coisas que gosta, porque, “quero trabalhar até morrer”, e sente que com a sua actividade “ajudo as pessoas”.
Tomei umas notas tendo por finalidade orientar algumas ideias que poderia partilhar no painel, mas, nestas coisas, como as conversas são como as cerejas dispersamos.

Antigamente é que era bom…

Assim, aqui ficam as reflexões que partilhei no painel. Referi que, todos nós, eu incluindo, por vezes, falamos do antigamente. Antigamente é que era bom, naquele tempo, contextos marcados de nostalgia. Remoemos esses pensamentos, como para querer reviver e estar de volta ao que já não existe, nem voltará a existir. Revivemos não vivendo. Uma catarse. Saudosismo.
E, neste contexto, sublinhei que mais que falar do passado, o importante é pensar o passado. Mergulhar no vivido com o pensamento. Repensar a experiência de vida não para catarse mas para colher as lições do passado. A beleza da vida de um idoso reside nesse saber acumulado. Pensar o passado é mais belo que falar do passado. Pensar no passado é sentir que as sementes do passado estão vivas no nosso presente. Nós somos o que nos trouxe até aqui, pensar esse passado no presente é sentirmos que o presente é, já, o nosso passado a nascer futuro.

“Eu quero viver um dia todos os dias!”

Outra reflexão que partilhei foi acerca dos dias da pandemia do COVID, quando disse e escutei tantas vezes a frase: “Tem que ser um dia de cada vez”. Um dia decidi que iria evitar utilizar essa frase. Um dia de cada vez parece que nos dá um sentimento de arrastar os pés. Vamos lá ver, talvez seja possível. Então, nesse contexto decidi, Não. Não quero viver um dia de cada vez. Quero acordar, dizer : Boooom Diiiiaaa”. Abrir os olhos ao dia e afirmar: “Eu quero viver um dia todos os dias!”
É isso, viver um dia todos os dias. Viver! Viver a alegria da vida, sentir que este tempo que vivo é uma oportunidade única. Sentir que a minha vida é, afinal, um “nonononogémiso de milésimos de milésimos de décimos de segundo” da vida da humanidade. Viver este tempo único. Amar a vida, com a consciência desse infinito onde ficarei em silêncio.

Fazer Comunidade. Fazer Cidadania. Fazer Futuro.

E, falar de envelhecimento “bem sucedido”, é sentir que todo o saber acumulado, toda a experiência vivida está na brancura dos meus nervos. Sorrindo.
Recordei que estive hospitalizado, uns dias no Serviço de Urgências e vivi, ali, a luta diária, 24 horas por ia, hora a após, um combate pela vida, de médicos a enfermeiros ou pessoa operacional. Homens e Mulheres que vivem o tempo com a intensidade real, entre a vida e a morte. E nesses dias senti a fragilidade da vida, como tudo pode findar num instante e ficamos, subitamente, nus como nascemos. Envelhecer com sucesso é sentir a alegria do tempo vivido e manter a energia de dar sentido ao futuro. Eu faço-o: escrevendo, lendo, estudando, produzindo, do sentir ao pensar e do pensar ao fazer.
Em suma, acima de tudo, procuro dar à comunidade a gratidão de tudo o que dela recebi. Fazer Comunidade. Fazer Cidadania. Fazer Futuro.

Aprendizagem permanente.

O envelhecimento é, sem dúvida, o tempo vivido que dá sentido à morte do tempo, esse que está vivo na consciência. Um tempo inscrito em tudo o que fomos e somos. A nossa história. A nossa inscrição na comunidade, que se faz no sentir, no pensar e culmina no agir. Somos ideias em movimento. Aprendizagem permanente.
O envelhecimento é, acreditem, a beleza de sentir a gratidão do tempo a pulsar no nosso coração, sorrindo!
Obrigado pelo convite. Foi uma tarde de aprendizagem e enriquecimento de energias.
E, por mero acaso, hoje pela manhã, no Passeio Ribeirinho Augusto Cabrita deparei-me com uma aula de ginástica na qual participavam, alguns com cerca de 80 anos. Lindo.
Acreditem, o envelhecimento bem sucedido…é ter tempo para viver!

António Sousa Pereira

29.05.2025 - 19:55

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