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BARREIRO - Por dentro dos Dias
Kira – O sonho de uma exposição a florir na Primavera

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Kira – O sonho de uma exposição a florir na Primavera Hoje, sábado, depois de um almoço marcado por uma saborosa sardinhada, com a minha Lurdes, uma agradável companhia de todos os dias, ali, no Terrace House Loios, num tempo livre que há muito não tinha fui, durante a tarde, com calma e serenidade, visitar o meu amigo Kira.

O Kira no passado dia 28 de Maio, celebrou os seus 80 anos (no mesmo dia que faria anos o meu irmão, se fosse vivo). Nesse dia foi-me impossível estar com ele, porque fui ao Montijo participar numa Mesa Redonda com o tema «Envelhecimento Bem – Sucedido», no âmbito da IV Jornadas de Saúde Sénior. Conversámos nesse dia ao telefone. Mas, já tinha saudade de estar a conversar com o Kira, mesmo com as palavras a correr, na leveza dos lábios.

Hoje, dia 31 de Maio, cantámos os parabéns, soprámos as velas e provámos o bolo de ananás e amêndoa. Não podia deixar de assinalar os teus 80 anos de vida. Sabes Kira, nunca é tarde para festejar a vida. E tu, sei, amas a vida, sempre sentiste o colorido dos dias a nascer nas tuas mãos. As tuas telas são a tua visão do tempo e o teu amor e paixão pela vida.

Fui até ao teu quarto ver os teus desenhos. Os desenhos que estás a criar, com entusiasmo, para realizar uma exposição. Uma expisção prometida e adiada. Desenhos que nascem nessa tua energia, única, essa força e beleza que quer agarrar o tempo, este tempo, que é o que temos para existir, onde está inscrita a tua sabedoria. Não abdicas de existir. Resiliente. Mostravas um dos desenhos e coloquei-te perguntas. Sorrias. “Diz lá o que pretendes”, interroguei. Disse-te : “ Tu, não fazes um risco sem colocar nele intencionalidade. Interpretação do mundo”. Sorriste. E baixinho, como quem conta um segredo revelaste o teu sentimento.
É verdade, a tua obra é o teu silêncio. A tua ironia. A tua ternura. Os teus eus. O eu da intimidade, do infinito, está vivo na tua pintura, seja em Alburrica, seja no Alentejo, floresces vivo nas paisagens. O eu da tua inteligência, da tua capacidade de desbravar a luz e dar à lua a dimensão do sol.

Hoje, tive a alegria de observar os trabalhos que o Kira, está a realizar com amor, desenhos arrancados do fundo dos nervos, sementes puras que emergem como ondas na beleza que nasce no seu coração. Simplicidade. Humildade.
Temos vindo a conversar sobre a realização de uma exposição. Ele está a erguer paulatinamente, a ferros, puxando tudo da energia dos seus ossos, fazendo renascer o que gosta, o que sempre gostou – viver a arte pela arte. O seu sonho de realizar uma exposição de desenhos, floresce, como uma semente que dá vida à vida dos seus dias. Força Kira!
Um homem só é derrotado quando desiste de amar. E tua amas as cores e tens a brisa da criatividade nos teus dedos como pássaros a rasgar a luz da solidão.
Dizias-me, sobre os teus desenhos: "Uns, os primeiros, estão marcados de alguma tristeza”.
Olhavas para mim, com aquele olhar único, e, entre as centelhas das pupilas a sorrir, acrescentavas: “Outros, os mais recentes, já expressam alguma alegria".
Olhavas, por cima dos óculos. Disse-te: “O teu olhar parece o olhar do Mestre Augusto Cabrita, quando olhava, para as pessoas, a pensar com os olhos.”
Um a um, os teus desenhos, saltitavam nas minhas mãos. Ternura. Solidão. Amor. Máscaras. Crenças. O céu e luar. A cadeira alentejana. Tanta vida. Tanta raiva. Tanto amor.
Olhaste para mim, com aquele teu olhar de criativo a sorrir. Esse olhar de quem ama a vida. Um olhar de quem sente a vida a pulsar nos olhos. Sente-se, serenamente, o teu amor à arte e ao mundo.

Sim, a tua exposição vai ser planeada e concretizada. Os sonhos são para realizar, porque um sonho que não se realiza é uma parte do futuro que fica adiado.
No final de conversa perguntei-te : “Então estás feliz por o teu nome estar numa rua do concelho”. Sorriste feliz e disseste que sim, um sim que registei marcado de pureza da alma.
“Gostaste?” perguntei. “Gostei”, respondeste. Perguntaste: “Onde fica?” Disse-te: “Não sei”. Sorriste com aquela alegria, que nasce, numa pomba a voar numa tela. Sim, conheço esse sorriso. É aquele sorriso que só a velhice sabe transmitir. Um sorriso que faz sentir, um sentir que se faz pensar, um pensar que se faz…amor à vida.

Ah é verdade falei-te, ainda, da nossa crítica literária Manuela Fonseca e do nosso poeta Emanuel Gois, e, dos dois flamingos a voar sobre as águas do Tejo.
Kira, parabéns. Gostei de estar contigo, após estes dias de ausência. Tu sabes as razões. Desculpa. Um grande abraço!

António Sousa Pereira
TE – 180
Equiparado a Jornalista

31.05.2025 - 21:06

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