inferências
BARREIRO - Acontecimento do Mês.
OUT.FEST - sentir, pensar, viver
O OUT. FEST é, sem dúvida, o «acontecimento do mês de outubro». Um exemplo vivo de criatividade que está inscrito na frase – só se ama aquilo que se conhece.
Está a findar o mês de outubro, olho para trás, pelo retrovisor dos dias, deito-me por dentro do tempo. O outono bateu à porta. A hora mudou. Ah, é verdade realizaram-se eleições autárquicas. E é caso para dizer – a oeste nada de novo, ou, talvez, friamente, pensar, afinal, colhe-se aquilo que se semeia. As sementes começam a dar os frutos que anunciam o futuro. Só não vê quem não quer ver. A Marcha Solidária da AMPM, saiu à rua, mantendo a tradição. Esse sinal de uma cidade que, neste tempo de perda de identidade, tem causas inscritas nas suas memórias.
E, a propósito de tudo isto, ocorreu-me registar aquele que, no tempo vivido, senti como o “acontecimento do mês”, olhar pelo retrovisor do tempo e encontrar um momento que tocou a vida, por dentro do sentir, do pensar e do viver.
Descobri-me sentado na bancada do antigo Estádio de Santa Bárbara, a olhar o Mausoléu de Alfredo da Silva, a olhar o luar que se erguia, em silêncio, na penumbra do anoitecer, sereno, no azul, vindo dos lados da Ilha do Rato.
E, pensei, sim, foi este o acontecimento do «mês de outubro», aquela peça musical, de Erik Dæhlin, inspirada no tecido industrial e nas memórias de um território que inscreveu o Barreiro na história industrial, na modernização de Portugal, no movimento das ideias, terra pioneira. Terra de muita gente vinda de muitos lados, aqui, junto ao Tejo, abriram caminhos de esperança.
Foi essa energia que senti, naqueles sons exploratórios a rasgar o silêncio. Os gritos das bancadas dos jogos de futebol. Os sons da fábrica a rasgar os nervos. A história a marchar nos passos sóbrios, orgulhosos, do Coral TAB, naquele lugar, frente ao refeitório, onde outrora os operários, em plenários, debatiam as greves, reivindicavam a palavra dignidade. E, naquele murmurejar de sons, dos lados do Mausoléu, a Orquestra de Câmara Portuguesa, com pompa e circunstância, anunciava a fraternidade. Envolvendo o mausoléu de sons épicos. Entrou, em marcha, apoteótica, a Banda Municipal do Barreiro, uma sonoridade que tocou os nervos do tempo, a evocar a Grândola, com os tons vermelhos das fardas, refletindo as cores da bandeira da cidade. Essa banda, com raízes na banda da CUF, hoje, municipal, como municipal, afinal, é muita coisa, numa terra que, cada vez mais se inscreve, nas ondas dos tempos que vivemos neste mundo do século XXI. Depois, o público entrou em cena, caminhou entre as margens do tempo, rumo à fábrica, rumo ao mausoléu, o lugar, onde nasceu o mito urbano do leão que foi roubado. Sim, roubado, nas barbas do espaço, onde esteve instalada a força paramilitar da GNR, ali, dentro da fábrica. Um acto dito revolucionário que não passa de um fake story.
Mas, de novo, agora sentado, em frente ao Mausoléu com a noite a deitar-se nos meus olhos. Um jogo de sombras e sons. A caverna de Platão. Fechava os meus olhos e deixava-me partir em viagem na noite. O Coral TAB. A banda. Os sons ritmados perdiam-se na luz. Eramos envolvidos em luz e som, numa ternura, que nos convidava a sentir, a pensar, a viver.
Este espectáculo encerrou a 21ª edição do OUT.FEST – Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro, uma marca de referência, que colocou o Barreiro na senda de festivais europeus e internacionais. Um projecto que nasceu na raízes da força que emerge, da história, esse lugar onde estão inscritas muitas iniciativas realizadas, com algumas ideias força – liberdade, criatividade, voluntariado, amor à cultura, paixão pela terra que somos e suas memórias.
O OUT. FEST tem tudo isso nos seus valores, na sua construção, e, este espectáculo vivido no dia 5 de outubro de 2025, a evocar memórias quer de empreendedores, quer de quem labora, sente-se tem orgulho no seu passado que une com as energias do presente. Este, é, sem dúvida, o «acontecimento do mês de outubro». Um exemplo vivo de criatividade que está inscrito na frase – só se ama aquilo que se conhece.
Obrigado OUT. FEST. Obrigado OUT.RA. Um exemplo vivo de cidadania activa, num tempo que se cultiva o consumismo.
António Sousa Pereira
VER FOTOGRAFIAS
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.1411869280946882&type=3
31.10.2025 - 22:04
imprimir
PUB.
Pesquisar outras notícias no Google
A cópia, reprodução e redistribuição deste website para qualquer servidor que não seja o escolhido pelo seu propietário é expressamente proibida.
Fotografia e Textos: Jornal Rostos.
Copyright © 2002-2025 Todos os direitos reservados.
RSS
TWITTER
FACEBOOK