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Mas onde estão as referências a esse passado industrial, como encontramos em outros concelhos do nosso país?
Por Augusto Coelho
Barreiro

Mas onde estão as referências a esse passado industrial, como encontramos em outros concelhos do nosso país?<br />
Por Augusto Coelho<br />
Barreiro Hoje dia 8 de Maio, resolvi passear de bicicleta por dentro da fábrica da CUF, talvez não seja legal, mas… veio-me à memoria os tempos idos que são muito comuns a grande parte dos barreirense da minha geração, o ir esperar o pai ao portão da fabrica, a Escola Primária, a ida para a Colónia de férias, mais tarde o trabalho na fábrica, o sentir o pulsar da revolta e as conversas às escondidas.

Depois o 25 abriel, e pensar que os tempos novos que se apregoavam, aí vinham, e assim foram chegando os novos tempos e percebendo que o futuro é construído de memórias de lutas, mas também de consensos entre pessoas que embora pensem de maneira diferente têm o mesmo objectivo, contribuir para melhorar o ambiente e a vida de todos nós.

O que é a memoria?

Deixo essa explicação aos filósofos, e eu nem lá perto estou, mas penso que a memória sobre algo é sempre diferente de pessoa para pessoa, por exemplo; já a todos aconteceu quando mostramos a alguém uma foto tirada algures, a observação, é bonita, também já lá estive. Já lá esteve com certeza, mas não esteve naquele nosso momento, quem lá esteve fomos nós, por isso não vê, como nós, que aquela foto tem cheiro, sons, sabores, sentimentos, recordações, é a nossa memória e só para nós essa foto é especial.

E o que é a memoria de espaços e monumentos construídos por gerações e gerações?

Deixo aos historiadores, a consideração se o que escrevo é verdade ou não, para mim é, e isso vale o suficiente, não sou historiador nem lá perto, mas reconheço que hoje apreciamos grandes feitos da humanidade e temos orgulho no que os homens contruíram e nos deixaram. Grandes feitos da humanidade foram por iniciativa dos poderosos da época, mas à custa de sofrimento de milhares e milhares de homens e mulheres anónimos. Na antiguidade, as Pirâmides do Egipto, quantos morreram na sua construção e nunca as chegaram a ver. Nos tempos modernos, Paris de que tanto gostamos, lembramo-nos que foi Napoleão, quem mandou contruir aquelas avenidas largas e alguns dos monumentos mais apreciados, destruindo as habitações da população pobre e afastando-os para longe da cidade. Nos tempos actuais, o Palácio de Ceausescu, grandiosa construção que é hoje o centro do poder político da Roménia, talvez a construção mais apreciada deste país e que foi construída, sobre a destruição de quase metade da cidade de Bucareste, e cujo custo acrescentou mais pobreza a esse povo.

São alguns pequenos exemplos de que a memória é sempre preservada muito embora sobre pontos de vista diferentes, e o tempo faz esquecer o sofrimento de quem esteve na sua construção, e o futuro valoriza e agradece o que nos foi deixado.

E isto vem a propósito da CUF, porquê?

Vem porque na nossa cidade, sempre coexistiram diferentes pontos de vista, quer políticos, sociais, económicos ou históricos, alguns recordam que as fábricas, eram onde a repressão política mais se sentia, a ameaça do despedimento era uma constante, a pobreza era generalizada, a poluição era aceite como custo pela manutenção dos empregos. Outros recordam a quase não existência do desemprego, os melhores salários comparativamente aos da restante população, o pequeno comercio florescia, as regalias que a fábrica oferecia assistência na saúde, escolas, desportos e cultura, eram apreciadas, etc.

As autoridades politicas no nosso Concelho, após o 25 Abril, representadas por diferentes partidos políticos, procuraram manter vivas as memória desses tempos e respeitaram quem nos deixou esse legado, são exemplos disso, as várias referências ao industrial Alfredo da Silva, que foi o responsável pelo que é hoje conhecido o Barreiro. Temos a Av. Alfredo da Silva, a Escola Alfredo da Silva, o Estádio Alfredo da Silva, o Cemitério onde está o seu tumulo, a Estátua na Praça Central, a Casa Museu Alfredo da Silva, etc.,

Mas onde estão as referências a esse passado industrial, como encontramos em outros concelhos do nosso país?

Não temos uma Rotunda com referências à industria, que mostrem aos visitantes o passado recente do nosso concelho. Existem objetos e maquinarias (RODAS DENTADAS, por exemplo) na fábrica, ou guardadas por entidades diversas, e artistas capazes de os reproduzir, que muito bem ficariam em locais de passagem que orgulhariam os barreirenses.
A fábrica tem GRUAS antigas magnificas ( não sei se ainda são utilizadas), que convém preservar, temos várias CHAMINÉS a degradarem-se que podiam ser recuperadas e aproveitadas para manter esse testemunho, e com possível aproveitamento para fins turísticos, que com alguns meios em pelo menos uma delas, poderia ser contruído um observatório visitável, de onde se poderia ver, não só todo o concelho, como todos os concelhos ao seu redor, considerando Lisboa e o Tejo, Alverca, Almada, Moita, Montijo, Seixal, Serra da arrábida, Palmela, etc
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É chegado o tempo de todos em conjunto, sem atavismos políticos, sem pôr em primeiro lugar interesses partidários, saber o que queremos guardar para as novas gerações, esta é a minha pequena contribuição para a reflexão necessária.

Augusto Coelho

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08.05.2022 - 19:32

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