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Há espaço para ser jovem no Barreiro?
Por Diogo de Oliveira Martins

Há espaço para ser jovem no Barreiro?<br />
Por Diogo de Oliveira Martins Como jovem, que cresceu, estudou e viveu toda a sua vida no Barreiro, e que agora explora o mundo que é estudar na capital, posso afirmar que o Barreiro, não só não é atrativo para os mais jovens, como os expulsa das ruas da nossa cidade e os remete para os confins de suas casas. Parte do problema, passou pela adoção de uma visão de estratégia para a cidade que não se preocupou com os mais jovens, e que ainda perdura nos corredores da câmara municipal. É preciso trazer o Barreiro para o século XXI, se queremos que os jovens de hoje se fixem aqui e construam as suas famílias cá.

Nos dias que correm, no Barreiro, e talvez um pouco por todo o país, a atividade que faz com que os jovens não passem o dia inteiro dentro de quatro paredes, é a escola. A deslocação casa-escola ganha, por isso, grande relevância na vida dos mais novos, dado que é dos poucos momentos durante a semana que estão em contacto com o “mundo exterior”. E por mais que isto seja um choque para pessoas de gerações anteriores, esta é a realidade. E é por ter noção que isto acontece, que acho que se deve permitir que as crianças vão para as suas respetivas as escolas de manhã, e para as suas casas à tarde, de forma autónoma e sem recorrer a meios de transporte privados, como o carro de familiares ou recorrendo a motoristas de um C.A.T.L. Bem certo, que existem fatores como a distância que são impeditivos, mas em muitos dos casos deve-se a uma impedição dor parte dos pais, que não gostam da ideia de simplesmente deixar os filhos irem e virem sozinhos. E porquê? Porque acham que as ruas são perigosas.

Em primeiro, este sentimento deve-se ao facto da nossa cidade não estar construída e pensada para dar autonomia aos jovens. O Barreiro é uma cidade desenhada para os carros! Os transportes públicos não preenchem as necessidades dos estudantes e estes são quase impedidos de usar métodos de transporte alternativos. Vou vos dar um exemplo, no ano letivo anterior frequentei a Escola Secundária de Santo André, onde foram instalados, assim como no parque da cidade e em outros pontos públicos, pontos de estacionamento de bicicletas, fruto, não de pensamento do executivo camarário, mas sim de uma proposta vencedora do orçamento participativo de 2020 pelo grupo “BarreiroCicleta”, (nota: quando um destes pontos foi inaugurado, o presidente da câmara, admitiu-se surpreso com a quantidade de pessoas que apoiaram o projeto). Ora, a existência de um local onde os estudantes poderiam guardar as suas bicicletas, trotinetes e afins, fez com que os estudantes passassem a usar esses meios de transporte diariamente. A adesão foi tão significativa, que a ideia que ficou foi que seria necessário um local com maior capacidade para guardar tantas bicicletas e trotinetes. Contudo, há um senão, a cidade, como referi anteriormente, está desenhada para os carros, e o uso de bicicletas e/ou trotinetes entrou em choque com o uso do automóvel. Seja, porque estes meios de transporte são mais lentos e “atrapalham” o trânsito, seja porque os automobilistas, sem terem consideração por outros utentes da via, acabam por ameaçar a sua segurança.

Como o executivo não partilha da mesma visão que os mais jovens (e não só, pois existem pessoas de todas as idades que gostariam de um Barreiro mais amigo da mobilidade leve), o que se verificou no espanto do senhor presidente, não dotou a cidade com as estruturas necessárias para um desenvolvimento destes meios de transporte alternativos. Seja porque foram construídas ciclovias que não dão a devida proteção aos seus utilizadores, como por exemplo nos fidalguinhos, onde causa, inclusivamente, constrangimentos para os automobilistas, seja porque estas estruturas não são construídas de todo, ou até mesmo porque são construídas rotundas a mais. A realidade, é que as rotundas, por mais que permitam um maior fluxo de trânsito, em comparação com os cruzamentos com semáforos, sendo mais seguras para os automobilistas, são muitas vezes um obstáculo ao uso de transportes suaves. E o código da estrada tem isto em consideração, e é por isso, que existem medidas, nomeadamente permitir que os ciclistas transitem na faixa exterior, que visam proteger este grupo, que é mais frágil em rotundas. Quanto maior o raio de uma rotunda, maior a velocidade dos automóveis que lá circulam, e maior o perigo para os outros utilizadores. E o que vemos, é a construção de grandes rotundas pelo Barreiro a fora, (é certo que existem rotundas mais pequenas, havendo umas pequenas até demais), o que trava a independência do automóvel, e pior que isso, trava a independência, a liberdade e o desenvolvimento dos mais novos.

Outro fator que impede que os pais deem liberdade aos seus filhos para poderem andar livremente pelas ruas do Barreiro, é a insegurança. A lamentável realidade, é que, em comparação com o início do século, a criminalidade, especialmente no que toca a crimes contra as pessoas e a sua integridade física aumentou. Isto vai em sentido em contrário com o que se verificou a nível nacional e a nível da área metropolitana de Lisboa. E qual é o pai, mãe, avó, avô que quer deixar o(s) seu(s) mais novo(s) andar na rua sozinho(s), se tem a perceção de que as ruas são cada vez mais perigosas? Além disso, a insegurança tem um impacto negativo na ‘noite’ do Barreiro. Pois se os jovens não se sentem seguros para sair à noite, não o vão fazer, o que além de ser prejudicial para a imagem do Barreiro enquanto cidade atrativa para os jovens, é também, prejudicial para o comércio local.

Outro fator que imobiliza o desenvolvimento dos jovens na cidade, é o problema que existe na educação prestada no Barreiro. Não se trata da qualidade da educação em si, não se trata dos professores, trata-se, sim, de planos curriculares que não vão de encontro com a vontade dos estudantes. E esta é uma matéria que eu só vim a entender quando tive contacto com estudantes vindos de outras partes do país. Muitos destes tiveram acesso a planos curriculares, ou seja, disciplinas, às quais eu não tive, mesmo que quisesse. E os professores sabem disso, pois existem disciplinas que estes gostariam de ensinar, porque são da sua especialidade, mas que a escola não consegue abrir, o que limita o leque de opções dos estudantes. Para além disso, o parque escolar no Barreiro encontra-se bastante degradado, e excetuando talvez a Escola Secundária de Santo André, todas as outras escolas secundárias necessitam de obras de fundo o mais rápido possível. A degradação das mesmas, impacta negativamente, não só a sua educação, como a imagem que os estudantes têm da sua cidade.

A verdade é que, por mais que o executivo camarário esteja a tentar ativamente passar uma imagem mais cool, juvenil e próxima dos mais novos, o Barreiro continua a ser uma cidade impreparada para atender às necessidades dos que agora crescem no Barreiro. O que leva a que os mesmos, que também não são capazes de encontrar oportunidades de trabalho aqui, decidam a abandonar a nossa bela cidade. E esta perda de massa humana jovem verifica-se no facto de o Barreiro ser, desde os últimos censos, o único concelho do distrito de Setúbal que perdeu habitantes, sendo que desde o início do século, perdeu 9,1% da população na faixa etária dos 20 aos 34 anos. Se não queremos perder o que de mais valioso temos, os nossos jovens, há que mudar de estratégia e de visão, se não arriscamo-nos a ver o Barreiro a perpetuar-se como uma cidade que vive do seu passado e que desperdiça o seu futuro.

Diogo de Oliveira Martins
Estudante de Engenharia Aeroespacial
Barreirense e Social-Democrata

30.01.2023 - 18:00

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