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Opinar ou ter opinião, eis a questão!
Por João Naia da Silva
Barreiro

Opinar ou ter opinião, eis a questão!<br>
Por João Naia da Silva<br>
Barreiro Há coisa de mais ou menos meia dúzia de anos, enquanto navegava por uma qualquer rede social, entre várias publicações deparei-me com uma do Jornal Rostos, cujo tema, que recordo fraca e talvez grosseiramente, abordava algo que, resumidamente, incidia sobre o ter-se opinião e poder-se expressá-la livremente.

Nos comentários a essa mesma publicação, lembro-me de ter tido a necessidade de escrever que, do meu ponto de vista, opinar era também exercer a minha democracia, e era talvez, se não por certo, a mais válida prova dessa mesma democracia! Pouquíssimo tempo depois, arrisco mesmo a considerar menos de 5 minutos, recebi uma mensagem privada do meu amigo A. Sousa Pereira, relativa ao comentário por mim feito na publicação, a explicar-me a enorme importância de nunca confundirmos o “opinar” com o “ter opinião”. E de facto há uma abismal diferença entre a primeira e a segunda.

Opinar, todos nós opinamos. Basta observarmos e termos a capacidade de, independentemente do método, nos expressarmos. É simples e todos o sabemos, desde cedo, fazer. Opinamos disto e daquilo, do vizinho e do carteiro, do clima e das alterações climáticas, do governo e da sociedade, de tudo. Opinar é das coisas mais fáceis, espontâneas e praticáveis que há. Eu não gosto disto porque é feio. Isto é, grosso modo, opinar! E porque é que não gosto? Porque é amarelo, considero feio, e estou no meu direito de não gostar!

Agora, ter-se uma opinião é diferente, muito diferente por sinal! Ter-se uma opinião exige de nós muito mais empenho do que simplesmente observar e expressar. Exige também que se leia, se ouça, se aprenda, se tenha espírito crítico, se pense e se reflita! Para termos uma opinião é importante que saibamos do que estamos a falar, que conheçamos o assunto, que nos coloquemos em várias situações, pontos de vista e posições, e desta forma formemos um juízo com base em todos estes pequenos, mas enormes, pontos.

Ao contrário de “opinar”, “ter opinião” torna-nos mais cultos, mais conhecedores, mais abertos mentalmente e espiritualmente. Torna-nos pessoas mais construtivas de uma sociedade mais justa e livre, e pessoas mais colaborativas de uma civilização evoluída.

É como se de uma receita para um bolo mais complexo e ornamentado se tratasse. Exige naturalmente mais tempo, mais dedicação, mais vontade, mais paciência, mas no fim o resultado é muito melhor!

Por todo o lado encontramos hoje pessoas que opinam, mas que de certa forma não têm uma opinião. E isso considero, hoje, ser dos mais perigosos e irresponsáveis movimentos da sociedade. Quando a determinado momento passamos a achar que não precisamos de ter opinião e que nos basta opinar. É que opinar é muito mais fácil que ter opinião, mas também pode ser muito mais prejudicial.

Para opinar basta observar, expressar e já está. Ao contrário do “ter-se opinião”, no “opinar” não há espírito crítico, não há reflexão, não há receção de outros pontos de vista, pensamentos, teorias, afirmações e conceitos, não há nada disso. Há sim um trabalho muito individualista e nada recetivo a outros. E isto, quando pré-orientado para ma determinada direção, pode ser perigosamente utilizado como arma para movimentações em massa, boas ou más.

Concluindo, é por isto preciso, aliás, crucial, que do ponto de vista da sociedade, se deixe tanto de opinar e se passe mais a ter opinião! Não só se cresce como ser humano, como sociedade e como civilização, mas acima de tudo garante-se a prevalência da democracia e da liberdade e diversidade de pensamento e de opiniões!

João Naia da Silva

26.03.2023 - 11:27

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