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Custos com alimentação e transportes já superam dois terços de um salário dos Barreirenses
Luís Tavares Bravo
Barreiro

Custos com alimentação e transportes já superam dois terços de um salário dos Barreirenses<br />
Luís Tavares Bravo <br />
Barreiro O custo de vida está a aumentar de forma significativa todos os meses em Portugal, e a agravar de forma significativa a vida dos portugueses. Esta é uma conclusão inequívoca, que todos nós confirmamos diariamente, e que o governo socialista não é isento de responsabilidades, porque não soube antecipar e preparar-se.

Nem quando vivíamos com taxas de juro nulas ou negativas, quando podíamos ter implementado reformas para obter maior competitividade económica que nos assegurasse outro conforto para que os salários acompanhassem agora este aumento dos preços, e muito menos quando se tornou óbvio para todos os observadores e analistas que o conflito militar na Ucrânia iria tornar inevitável um período difícil de ajustamento para toda a União Europeia – obtendo resultados fiscais verdadeiramente imorais, e que apenas são compatíveis com os escândalos políticos relativamente à gestão do interesse público, como é o exemplo o dossier da TAP. Mais uma vez, o Partido Socialista com a sua agenda imobilista e estatizante, colocou o país na linha de tiro, e com isso criou mais uma situação de potencial crise social no nosso país, e que pode ser ainda mais grave num município onde os rendimentos das famílias são mais baixos, como é o caso do concelho do Barreiro.

O artigo do Jornal de Notícias divulgado no princípio de maio, expõe a realidade cruel do custo de vida. De acordo com números do Banco Central Europeu e da OCDE, e à data de final de março, as despesas médias dos portugueses com a alimentação são agora 19,6% do que há um ano, e os preços de bens e serviços de restaurantes, cafés e hotéis estão mais caros 13,5%. Nos transportes, embora os preços globais tenham descido 0,8%, os portugueses compram mais carros novos do que a média da Zona Euro e a inflação registada nesta categoria foi de 6,1%. A despesa em restaurantes e cafés segue a mesma tendência: gastamos mais do que a média e a subida foi de 10,1%.

Cada português gasta agora 318 euros em alimentação e bebidas, 221 euros em transportes e 219 euros em restaurantes, cafés e hotéis. Tudo somado, são 758 euros por mês que em média, cada português despende em alimentação e mobilidade em 2023, mais 91 euros (14%) que há um ano. E se excluirmos a componente de despesas em restaurantes e cafés, o valor é agora de 539 euros por mês, 17% acima de 2022, ou que corresponde a mais 78 euros por mês.

Ou seja, apesar da ligeira diminuição da taxa de inflação, o impacto na carteira dos portugueses ainda tem sido evidente. E na carteira dos Barreirenses ainda mais. Considerando que - de acordo com os dados disponibilizados no portal Pordata - o ordenado médio de cada Barreirense é de 1107,8 euros mensais, o peso de todas esta destas despesas atinge 68%, ou seja, mais de dois terços dos rendimentos brutos de um trabalhador que more no Barreiro. Se excluirmos a restauração, o peso é de cerca de metade (49%), e isto dá-nos a real perceção da perca de poder de compra acentuada que os munícipes sofreram no último ano.

Os custos com a habitação no Barreiro estão a caminho de serem incomportáveis. Acresce a este fator do agravamento do custo de vida, ainda o facto do Barreiro ser o município do país que nos últimos anos mais viu subir os valores das rendas, e por consequência, dos custos associados à habitação. De acordo com o estudo do semanário ONOVO, nos últimos anos, o valor mediano das rendas por metro quadrado dos novos contratos de arrendamento de alojamentos familiares cresceu a um ritmo médio de 13,21% por ano; e o valor mediano das vendas por metro quadrado disparou, em média, 16% por ano. Citando esta peça de reportagem “Entre o primeiro semestre de 2018 e o primeiro semestre de 2021, o preço das casas na cidade do Barreiro teve um incremento global de 56% e que as rendas dos novos contratos de arrendamento aumentaram 45%. Por exemplo, em 2018, um apartamento com 100 metros quadrados estaria no mercado à venda, em média, por 73,5 mil euros e hoje supera os 114 mil. No caso das rendas, o mesmo imóvel poderia ser arrendado no final do primeiro semestre de 2018 por cerca de 479 euros por mês e, hoje, por não menos do que 700 euros."

A evolução vertiginosa dos custos alimentares, e da habitação é um bloqueio na já grave e estrutural erosão demográfica Barreirense. Para além dos custos de vida, o peso crescente das rendas das casas sobre o rendimento disponível médio dos habitantes subiu de forma muito significativa, e hoje vive uma situação que pode rapidamente tornar-se um fator de bloqueio para fixação de jovens na idade de constituir família, e aumentar o carácter estrutural da erosão demográfica da cidade. Se também considerarmos que o poder de compra das famílias Barreirenses degradou-se, e é agora pior que a média do Distrito de Setúbal e abaixo da média nacional, a atual situação potencia uma gravidade ainda maior a prazo.

O PSD apresentou em devido tempo uma proposta de curto prazo, que fosse compatível com a execução das receitas da autarquia e temporária (cerca de 500 mil euros), e que pudesse ajudar as famílias do município a acomodar parcialmente o impacte da subida dos preços, com um pacto de local de combate à inflação. Que podia ser de arquitetura aberta, oferecendo desconto na fatura água e saneamento, ou nos transportes municipalizados. O Partido Socialista recusou, e neste momento teria sido uma ajuda para mitigar o impacte dos primeiros trimestres do ano, sem dúvida, os de maior dificuldade de ajustamento.

Mas é evidente que acima das medidas de curto prazo, o Barreiro carece urgentemente de uma estratégia municipal de médio prazo que responda estruturalmente a estas questões concretas, e que vão além da habitação, que é uma das falhas que urge colmatar, e colocar em cima da mesa de forma séria e com um compromisso político e de financiamento agregador para dois mandatos, de forma que seja uma resposta musculada, rapidamente executável, e resiliente no tempo. É preciso criar condições para criar mais economia, mais resiliência, para que o Barreiro seja uma cidade efetivamente mais atrativa para viver. Um Barreiro mais forte, e não apenas mais mediatizado.

Luís Tavares Bravo
Presidente da secção do Partido Social Democrata no Barreiro

14.05.2023 - 14:56

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