opinião

A Cidade para os muitos ou para os poucos?
Por Diogo Vintém
Montijo

A Cidade para os muitos ou para os poucos?<br />
Por Diogo Vintém<br />
Montijo Há 38 anos, a 14 de agosto de 1985, Montijo era elevado a Cidade, em razão do crescimento e desenvolvimento económico a que até então se vinha assistindo no território. Desde então, e em particular desde a construção da Ponte Vasco da Gama, a Cidade não parou de crescer e de se transformar, atraindo mais famílias para cá morarem e mais empresas para cá desenvolverem a sua atividade.

O grande desafio que se colocou então foi o de organizar a Cidade de forma sustentável, sem que o crescimento demográfico e económico descaracterizasse a Cidade e prejudicasse a qualidade de vida e segurança das pessoas que aqui decidiam fazer a sua vida.

Em alguns territórios à nossa volta, assistimos então à proliferação da construção ilegal e desordeira, à construção em altura (excessiva), à multiplicação dos condomínios privados e à privatização do espaço público, com a consequente expulsão dos mais pobres, da classe média e, em particular, das famílias mais jovens para localizações cada vez mais periféricas, distantes dos locais de trabalho e dos locais de convivência social.

No Montijo rejeitaram-se e combateram-se sempre esses modelos e tendências, que mais não eram do que investidas dos grandes interesses económicos para tirar vantagem do crescimento da Cidade, com graves prejuízos para a população e para a vida em comunidade. A Cidade de Montijo, em consonância com a sua história, soube preservar o seu caráter interclassista, multicultural e integrador, acolhendo todos, sem escorraçar ninguém. Não se permitiram condomínios privados. Não se permitiram situações de guetização e exclusão social, harmonizando as habitações sociais e a custos controlados com as demais. Não se permitiu a construção sem regras ou a descaracterização da paisagem urbana com betão e arranha-céus. Criaram-se espaços verdes, ciclovias e parques de lazer. Procurou-se integrar os novos residentes na vida coletiva da Cidade, nas suas dimensões culturais, desportivas e recreativas, com um forte apoio ao associativismo. Este é o caminho que o Partido Socialista tem traçado nas últimas décadas na Cidade e no Concelho face a esse grande desafio.

Mas esse desafio continua a colocar-se hoje, talvez de uma forma ainda mais impetuosa.

Por um lado, o Montijo sofre hoje as consequências da especulação imobiliária e da expansão descontrolada do Alojamento Local em Lisboa (onde em algumas freguesias se atingem rácios de 20 a 70%), que não só gentrificaram e descaracterizaram a Cidade, como expulsaram os seus moradores para as periferias. No Montijo os mais pobres, a classe média e os jovens já sentem na pele a crise da habitação.

Por outro, a muito provável localização do novo Aeroporto na BA6 ou no Campo de Tiro aprofundará ainda mais esta dinâmica. Se é verdade que dinamizará a atividade económica no Concelho, criando vários milhares de empregos, também é verdade que conduzirá ao mesmo tempo a uma maior pressão demográfica no Montijo e a um risco de turistificação da Cidade, se os poderes públicos não souberem conter e equilibrar este crescimento.

Será necessária uma política urbanística e de habitação que promova a construção de habitação pública, privada e a custos controlados de forma harmoniosa.

Essa construção terá de ser feita de forma séria e com critério, até porque não é todo e qualquer tipo de construção que nos interessa. Não queremos um Montijo dominado pelos fundos imobiliários, onde impere a construção desenfreada, desordenada, sem regras, de condomínios privados e mega empreendimentos de luxo. E também não queremos uma Cidade do betão e dos arranha-céus que a descaracterizam, banhados por grandes centros comerciais e hipermercados.

Queremos sim uma construção planeada e inclusiva, para as classes baixa, média e para os jovens, que renove, reabilite e requalifique os imóveis devolutos do centro histórico. Queremos uma Cidade verde, com espaços comuns destinados à vida coletiva, com jardins horizontais e verticais, parques infantis, parques caninos, ciclovias, equipamentos desportivos e de lazer, infraestruturas culturais, quiosques e comércio de proximidade, centros de saúde e escolas.

O Montijo terá de saber ser Cidade e não um mero aglomerado urbano, descaracterizado e desprovido de identidade.

Terá de resistir aos fenómenos de neoliberalização da gestão autárquica, de privatização do espaço público e de exclusão social urbanisticamente programada. Terá de saber integrar os que chegam à nossa Cidade, acolhendo-os e introduzindo-os à nossa vida coletiva. Terá de assumir o seu legado histórico de Cidade aberta, inclusiva, justa e solidária, para os muitos e não para os poucos.

Diogo Vintém,
Presidente da Concelhia do Montjo da JS
Vice-Presidente da Federação de Setúbal da JS

14.08.2023 - 13:33

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