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A RECONCILIAÇÃO COM O RIO" - UMA ESPÉCIE DE PIREXIA DE OUTONO
Por Luís Batista
Barreiro

A RECONCILIAÇÃO COM O RIO Por Luís Batista
Barreiro

"> O Sr. Presidente da Câmara Municipal do Barreiro tem usado as redes sociais para fazer o ponto da situação sobre a limpeza dos terrenos da Torralta junto ao terminal fluvial. Segundo a última informação veiculada pelo próprio, cerca de 42.000 m² foram devolvidos à cidade, o que, e nas palavras do Sr. Presidente, significa que depois de se ganhar o Polis seguimos em frente na reconciliação do Barreiro com o rio.

De recordar que estes terrenos transitaram para a gestão do município em Janeiro último e após o desencadear de legislação específica que permitiu essa operação.
É de aplaudir o esforço feito na recuperação desta zona, sempre na expectativa que, num futuro próximo, possam aqui nascer espaços e equipamentos de uso colectivo.

Mas apetece perguntar por onde andou o Sr. Presidente até hoje?
É porque o mesmo Frederico Rosa que preside esta Câmara Municipal desde 2017 só agora parece ter percebido a importância do rio, da dita "reconciliação com o rio" e da recuperação do espaço verde e da zona ribeirinha para a cidade.

Estamos a falar do mesmo Frederico Rosa que, num passado recente, anunciou uma coisa e fez exactamente o contrário.
É a mesma pessoa que herdou do seu antecessor, e de mão beijada, a Quinta do Braamcamp e que depois de tomar posse empenhou todos os recursos na tentativa de a vender. E para tornar tudo isto muito mais bizarro, durante a primeira campanha eleitoral anunciou mesmo uma visão de utilização do espaço, assumindo que este território nunca deveria sair da esfera do município.

O Sr. Presidente que agora quer a reconciliação com rio desprezou o facto de, à época, a dita Quinta do Braamcamp ter em curso uma candidatura no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU) e que integrava o Plano de Ação de Regeneração Urbana (PARU), onde ficaram inscritos os projectos para a reabilitação do Moinho de Maré e requalificação do espaço público e dos espaços verdes da área da Quinta.

Porque é que quem agora faz bandeira da “reconciliação com o rio” abandonou este espaço e menosprezou as candidaturas?
Aliás, a requalificação da Quinta do Braamcamp fazia parte de um projecto mais alargado de requalificação da zona ribeirinha e que ia desde o Clube Naval até à Estação Sul e Sueste.
Para quem tanto se orgulha de exibir à população o espaço que se está a ganhar na zona ribeirinha tinha na Braamcamp a oportunidade de ouro para efectivar esses ganhos e essa reconciliação.

Mas como o Sr. Presidente apregoa uma coisa e faz exactamente o contrário, em vez de reconciliação com o rio, a Quinta do Braamcamp foi transformada, por este executivo, numa espécie de "Faixa de Gaza" de escaramuças entre munícipes e entre os munícipes e o executivo camarário.

E vem novamente a mesma questão...
Por onde andou este Sr. Presidente até hoje, que só agora acordou para as potencialidades do rio?

Um Sr. Presidente que até aqui nunca soube tirar partido dos recursos naturais que o Barreiro oferece e que, ao fim de mandato e meio, ainda não conseguiu apresentar uma estratégia para a região.
Alias, não existe estratégia alguma para o Barreiro além do betão e do incentivo à construção de prédios.
Não há estratégia nem no curto, nem médio, nem no longo prazo.
O que é que foi feito para potenciar o território da Baía Tejo?
O que é que foi feito para nos tirar deste isolamento peninsular que estamos condenados, onde não há sequer uma acção planeada, um singelo projecto para nos ligarmos, por exemplo ao Seixal, ou explorar outro tipo de soluções e acessibilidades?

O importante agora é a reconciliação com o rio.
Mas será que o Sr. Presidente Frederico Rosa também estava a pensar na reconciliação com o rio quando, num imoral acto de desespero, implorou à CCDR LVT, imagine-se, a desafectação de terrenos da Quinta do Braamcamp da Reserva Ecológica Nacional (REN), para transformar a zona num espaço de betão.
Estaria apaixonadamente a pensar no rio e nas suas potencialidades quando quis deixar esse espaço aberto à construção e à especulação imobiliária, sempre na ganância de facturar os IMI e as taxas de urbanização?
O Barreiro com os recursos que possui e que ultimamente conquistou, tem de ser, obrigatória e seguramente, muito mais que rotundas e betão.

A agora tão hiperbolizada “reconciliação com o rio” nunca deveria ter sido, de forma alguma, vender um espaço que foi comprado e entregue ao Barreiro pelo executivo que antecedeu este Sr. Presidente.
A reconciliação com o rio não é oferecer a um operador turístico, num Contrato Comodato, a única embarcação, digna de nome, que a cidade possui, a Muleta Álvaro Velho.
Esta dita “reconciliação” parece-me mais uma pirexia pontual e sazonal do que algo que tenhamos que levar a sério.

Contudo, e repito, aplaudo esta reconciliação com o rio e aplaudo o investimento na zona ribeirinha, como também fico empolgado com as fotografias tiradas pelo drone que exibem o quanto se fez numa semana.
Mas se o drone inclinar um pouco mais a sua objectiva, teremos a triste imagem da tal "Faixa de Gaza" que este executivo criou. Teremos sucessivas "frames" de uma Quinta do Braamcamp que ainda hoje está ao abandono porque este Presidente assim o quis, por retaliação e por retaliação. Teremos uma fotografia de um espaço em total desprezo por decisão do actual executivo municipal, um terreno que lhe foi negada a reconciliação com o rio, que não foi cuidado e que o Sr. Presidente e o seu executivo orgulhosamente usam como vingança.

Benjamin Franklin sabiamente deixou-nos esta frase... "O orgulho que se alimenta da vaidade termina em desprezo..."

Luis Batista

27.09.2023 - 15:42

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