opinião
Ontem acabou mal em Palhais : Rir ou chorar?
Por Joaquim Escoval
Barreiro
Do alto do poder de que foi investido puxou dos galões e desatou a dar, a mim e a outro presente, uma valente ensaboadela, mesmo sem nunca ter intervindo, nem feito sequer qualquer observação, e aí sim não me contive e o caldo entornou. O Excelentíssimo Senhor Presidente elevou o tom de voz para me mandar calar, e eu respondi no mesmo tom, depois ameaçou chamar a GNR, eu disse para chamar, mas não chamou. Teve de dar os trabalhos por concluídos.
Não sabe ele que sou filho de um GNR que até era militante ativo do PS, mas muito orgulhoso do seu filho mais velho ter sido o primeiro presidente da JF da Brandoa e candidato à CM de Moura onde foi vereador, e do seu outro filho, eu, ter um passado de muitos anos em organizações de trabalhadores. Orgulhar-se-ia agora se fosse vivo, de um dos seus netos ser o porta-voz do Movimento Porta-a-Porta que vai, no próximo dia 30/9, fazer manifestações por 23 cidades deste país.
Se o Excelentíssimo Senhor Presidente soubesse tal perceberia, talvez, como são vãs as ameaças de chamada da GNR, até porque esta não encontraria motivos para atuar. Creio que até aconselhariam que o Presidente fosse mais contido mais assertivo e mais sensato para com os membros do público.
Creio ter sido o Dr. Mário Soares que disse uma vez em jeito de elogio: “Os alentejanos são os únicos que não tiram o chapéu para falar com um doutor”. Fazendo jus às minhas origens e às palavras desse antigo Primeiro-Ministro também não dobro a cerviz a qualquer um, ainda que seja presidente do que quer que seja.
Entendo que uma Assembleia de Freguesia (AR) não é uma catedral, onde nem as moscas podem fazer ruído ao bater as asas. Não é assim em nenhuma das casas da democracia, basta ver por exemplo na Assembleia da República, quantos não se manifestam para apoiar ou criticar, nos mais diversos tons e maneiras, quem está a intervir. Na atualidade, os casos mais flagrantes são as disputas políticas entre o Presidente da AR e os deputados do Chega, e especialmente o presidente deste. Sim, bem sei que são deputados e eu sou tão somente um cidadão, no caso um humilde e simples freguês, que só busco a melhoria da qualidade de vida da população do meu bairro, do meu conselho e do meu país. Não abdico, contudo, de exercer os direitos constitucionais de liberdade de expressão e do direito à indignação, que se sobrepõem na hierarquia de direitos ao regimento da Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de Palhais e Coina.
Porque pretensamente nos ríamos e ainda por cima de modo silencioso, não num riso desbragado, nem estridente, nem espalhafatoso, mas de uma forma contida e silenciosa, mas em todo o caso um riso? Que outra coisa podem os fregueses fazer quando vão a uma AF e questionam os seus representantes eleitos sobre diversos assuntos, que implicam com a vida de todos, e só ouvem como resposta: “Não sei, não sabemos de nada, isso é com a camara, não é connosco, isso é uma obra da camara, nós não sabemos de nada”? Foi assim em relação aos transportes, à recolha de lixo, às obras de construção de um crematório.
Afinal só queremos perceber onde vão estacionar os veículos que vão rumar a este equipamento, como serão os acessos ao mesmo e ao cemitério de Palhais, qual o teor do estudo de impacto ambiental que obrigatoriamente terão efectuado, para onde vão os cheiros e fumos?
Se a obra é assim tão boa porque é que a Câmara Municipal do Barreiro não a divulga junto da população? E pelos vistos fez o mesmo com a Junta de Freguesia? Nem sequer colocaram aquele dístico gigante com o número do alvará, o proprietário da obra, o prazo de entrega etc.
Afinal só queríamos saber como vai ser a nossa vida num futuro próximo, e se nos garantem que não haverá problemas para a população que vive logo do outro lado da rua, na Quinta do Castelo do Outeiro, mas a resposta é sempre: “Não sei, não sei, não sei”. E nós? Rimo-nos ou choramos?
Errei ao tentar defender a minha honra e a rejeitar aquela intervenção injusta e despropositada do Excelentíssimo Senhor Presidente que dirige os trabalhos da AF da UFPC?
De forma alguma, vai fazer 50 anos que acabou o tempo do come e cala, muito menos numa Assembleia onde antigamente quase todas as moções eram aprovadas, nem que para isso se tivessem de fazer ajustes ou fusões de textos, em que a tolerância imperava, em que todos eram tratados de igual forma.
Agora é outro tempo: o de rejeitar tudo o que vier da oposição, de cumprir rigidamente o regulamento quando se trata da oposição. Ainda ontem se discutia o ponto sobre a Informação Escrita da Senhora Presidente, e o Senhor Secretário faz uma intervenção a pedir que se peça ao PCP para recolher o que ele chama de lixo. Não tinha nada a ver com o ponto de ordem de trabalhos, mas o Excelentíssimo Senhor Presidente da Mesa da Assembleia ouviu, permitiu e calou. Mas depois grita exaltadíssimo: “Eu é que sou o presidente!”
E nós? Rimo-nos ou choramos? Rimo-nos para não chorar!
Joaquim Escoval
29.09.2023 - 16:15
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