opinião
Os Mitos, Desafios, Pressões e Frustrações da Resolução de Ano Novo
Por Ivo Pereira
Barreiro

Com quem falamos ao redor, menciona o mesmo, mais que não seja em tom de tradicionais desejos de bom ano, “Feliz ano novo!” ou “Que o novo ano seja mil vezes melhor que o ano anterior!”. Sem nos apercebermos por vezes, criamos expectativas.
A passagem do ano é simbólica, numa representação de renovação ou reinvenção. No ano passado, ficou muita coisa por fazer. Projetos cujas pequenas folhas espreitam da gaveta que não se conseguiu abrir nos 12 meses antes, a dieta que foi adiada pelas circunstâncias do dia-a-dia, a tentativa de mudar de emprego que se preferiu deixar para outra altura porque “agora não é tempo para riscos”.
Tudo vai ter de acontecer no novo ano. Cria-se uma lista, por vezes mental, por vezes escrita num papel, onde nos propomos riscar cada item, um por um, ordenada e metodicamente até garantir aquela satisfatória sensação de trabalho concluído.
Com a aproximação do final de Janeiro do novo ano, no entanto, vai-se apoderando um estado de desânimo, pois algumas das coisas que se queria fazer, de repente parece que tomam uma distância quase inalcançável. Fazemos contas à vida e afinal, temos menos dinheiro do que esperávamos ter agora. As despesas com as refeições e prendas natalícias e até mesmo os preparativos para a celebração da passagem do ano, foram como sempre, avultadas. Janeiro está quase a terminar e já há pouco dinheiro na conta e ainda para mais, Fevereiro é um mês pequeno! E então, se calhar tem de se adiar por mais algum tempo aquela viagem, ou a procura de um novo emprego…
Os dias no início do ano continuam a ser curtos e anoitece cedo. A chuva e o frio nem sempre dão tréguas, pelo que… “se calhar ainda não é já que faço a inscrição no ginásio”.
À medida que as desilusões perante os objetivos propostos, vão dando lugar a uma frustração, vamos sabotando o nosso próprio projeto de melhoria “Se começo a tentar deixar de fumar agora, depois ainda ando com mais ansiedade” ou “Se tento agora fazer dieta, sei lá onde vou parar com tanto stress”.
E crescem assim as nossas crenças, de que não conseguimos, de que não somos capazes… de que não somos suficientes.
E tudo isto se ressente na nossa saúde mental, com a agravante da repetição anual, promovida pela cultura comercial e tradicional patente no slogan “Ano Novo, Vida Nova”.
Então e porque não, passarmos a respeitar o nosso próprio ritmo de transformação? Sem necessidades de comparação a ninguém, sem objetivos de esforço hercúleo, sem tempos limites sobretudo. O ser humano é um “work in progress” e deverá ser auto percepcionado como tal, respeitando o seu próprio tempo de mudança.
Pela sua saúde mental.
Ivo Pereira
Psicólogo Clínico
18.01.2024 - 15:49
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