opinião

Páscoa ė Ressurreição ?
Por António Neves
Barreiro

Páscoa ė Ressurreição ?<br />
Por António Neves<br />
Barreiro Tive um grande amigo sacerdote com quem passei longas horas em reflexões sobre fé e Cristianismo.
Ele considerava-me como um verdadeiro e sincero cristão, mas entristecia-se quando eu duvidava da ressurreição de Cristo.

Concluía inevitavelmente as nossas conversas com a afirmação de que, "se Cristo não ressuscitou a sua vida não faria sentido," ( sua dele sacerdote).
Eu entendia-o, como entendo todos os que assim pensam.
É isso que distingue um crente dum não crente.
De qualquer modo, eu confessava-me e confesso-me cristão, não sendo crente.
E explicava ( e explico) assim as minhas razões:

Parece não haver dúvidas de que há dois mil e tal anos atrás, terá existido, em terras que hoje se chamam Israel ou Palestina,um homem chamado Jesus, a quem é atribuída a máxima que revolucionou o viver entre os humanos: " Ama o teu próximo como a ti mesmo ". O que da sua vida nos é reportado, é uma constante tentativa de mostrar uma nova relação entre todos os seres humanos, querendo ser visto sempre ao lado dos mais desfavorecidos da sociedade.

Dado que os historiadores da época pouco ou nada escreveram sobre este personagem, temos que nos socorrer dos livros atribuídos aos seu seguidores, sendo os quatro evangelhos os principais.
Não podendo tomar á letra tudo quanto nesses escritos é atribuído a Jesus, muito do seu conteúdo foi sendo assimilado e apontado como referência para a criação de uma sociedade mais justa e em que haja um lugar digno para todos.

É neste ponto que eu sempre me considerei um admirador desse personagem chamado Jesus ou Cristo, a ponto de gostar de dizer que sou seu fã, ou cristão.

E é nesta fase da sua vida pública em que sempre me procurei inspirar, vendo-o como um homem a que, com muito esforço, podemos tentar seguir, e não como filho de Deus, que também dizem que era.
Porque, se só podia viver como vivia sendo filho de Deus, então nunca conseguiremos "amar como Jesus amou"

Eram estes os argumentos que eu usava com o meu amigo sacerdote. Se Cristo foi um simples homem como nós, e tentou mostrar-nos que podemos viver de um modo alternativo e, com "pequenas coisas", ir transformando o viver em sociedade, então todos os homens podem e devem ser Cristãos ( fãs de Cristo).

O que me separava do meu amigo sacerdote era o outro lado atribuído a Cristo: o de filho de Deus, "enviado para dar a vida por nós, para nos salvar..."
Nesta parte já entra a fé.

Se para o meu amigo o importante era que Cristo ressuscitou e apareceu de novo aos discípulos, para depois " voltar para o pai",
para mim esta parte da história já é uma barreira.
Se, como seu fã, eu me sinto, dia a dia, obrigado a pôr-me no seu lugar em todas as circunstâncias, já enquanto "homem divino" eu não tenho um modelo que me possa servir de referência.

Eu acredito que o Cristo homem existiu e inspirou muitos homens que, ao longo destes dois mil e tal anos têm tentado seguir a sua " filosofia de vida", melhorando a história.
Tal como antes dele, e noutros pontos do globo, existiram outros Cristos, que inspiraram os seus contemporâneos a um viver mais justo, gerindo e partilhando o planeta, como um bem de todos e para todos.
Ressuscitado ou não, continuo a ver um Cristo homem em cada homem ou mulher que se confessa seu fã, ou cristão.
Isso acontece quando tomamos consciência de que vivemos num espaço que é de todos e para todos, ajudando a cuidar dele, assim nos mostrando gratos a quem nos antecedeu.
Feliz Páscoa para todos.

António Neves






30.03.2024 - 10:56

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