opinião

25 DE ABRIL
Os 50 Anos num tempo de amnésia obrigatória
Por Luís Santos Batista
Barreiro

25 DE ABRIL<br />
Os 50 Anos num tempo de amnésia obrigatória <br />
Por Luís Santos Batista<br />
Barreiro Num destes dias de Abril, algures num daqueles recantos onde os aromas, os paladares e as sedes se cruzam, qual centro do mundo de quem passa, e eis que me deparo com uma imagem alusiva aos 50 anos da revolução de Abril.
Essa imagem, um cravo estilizado, recuperou em mim a escrita de Carlos Drummond de Andrade, no seu livro - A Rosa do Povo.

Nas páginas desse livro descobrimos a perturbante provocação de “A flor e a náusea”, um corajoso acto escrito, de revolta, que nos conta que uma flor nasceu na rua, que iludia o sistema repressivo e que rompia o asfalto.

A liberdade de Abril também nos chegou com uma flor que nasceu na rua, uma flor que perturba, que incomoda, e que, no seu vermelho, ergueu a dignidade de uma nação contra um sistema repressivo.

Abril construiu-se num caldeirão de emoções onde, com o passar dos anos, nos fomos deixando invadir por um impreciso conformismo que nos adormece e embala.
Há uma crise da meia idade neste Abril, neste meio século!
Uma crise de um tempo onde neste "hoje", neste agora, não conseguimos estar à altura do "ontem". Falta-nos tanto "Hoje" neste tempo onde as palavras de ordem e de desordem se misturam sem alma.
No seu jeito de inventar trocadilhos, Paulo Leminski tinha razão quando nos alertou - “Haja hoje para tanto ontem...".
Eis um poema inteiro em cinco palavras e que nos alerta para esse perigoso vazio que tem transformado o vermelho dos cravos num encarnado censura que nos quer condenar por celebrar Abril em Abril.
Haja hoje coragem para lutar contra o obscuro desejo de querer reescrever a história, um querer raspar para escrever de novo, qual "palimpsesto de Arquimedes" ou um outro qualquer palimpsesto que nos quer restaurar as memórias e obrigar a esquecer neste tempo de amnésia obrigatória.

Abril fez-se na rua, lado a lado, e lado a lado somos mais que dois...
Lado a lado seremos muitos, muitas vezes muitos. Seremos memória e seremos futuro.
Seremos o povo que não teme se, porventura, num destes dias, voltemos a encontrar uma bala perdida de um cobarde tiroteio de há 50 anos.

Escutemos ainda as vozes que sobram onde, sem fazer grandes contas, tenho a certeza que somos muito mais que um milhão...

Sem Amnésia ou Preconceito....
Viva o 25 de Abril, Viva a Liberdade

Luís Santos Batista

21.04.2024 - 00:22

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