opinião
A PROPÓSITO DE URBANIDADE E REDES SOCIAIS
Por Ana Luz
Barreiro

Nunca na minha infância ou mesmo adolescência, almejei o sonho ou ambição de ser advogada. Contudo, descobri primeiro o Direito, depois a Advocacia. Primeiro o curso, em que aprendi a pensar os direitos, liberdades e garantias, com a íntima convicção que era capaz de mudar o Mundo. Acho que todos acalentámos essa esperança interior de sermos e contruirmos um Mundo melhor. Depois a nobre profissão de Advogado. Sim, por ela me apaixonei quando nas sessões de Deontologia se indicou a leitura do Saudoso Causídico Dr. António Arnault, em “Iniciação à Advocacia”.
Ali apaixonei-me pelo que é ser advogado: “(…) um agente da convivência cívica e da paz social (…) lutar contra o arbítrio e as iniquidades, pugnar por uma sociedade mais justa e convivente.
Na minha formação tive o privilégio de ter como Patrono um Advogado naquilo que considero a verdadeira acepção da palavra. Alguém que estava disponível para o outro, clientes e colegas a quem ministrava a sua formação, que pautava a sua conduta pessoal e profissional como um exemplo de Ser Humano e Causídico.
Sempre o observei com admiração, como a todos os outros Ilustres Advogados da comarca, mais velhos, mas sempre disponíveis, para uma palavra amiga, para um ensinamento, para um sorriso ou carinho. Pensava: quero concluir a minha formação e ser assim – “perfeito”! Perfeito não imaculado, no sentido de alcançar um papel social de respeito e admiração, pelos pares, pela família, pela sociedade em geral. Servir de exemplo pelo bem que faria na busca e construção da Justiça.
E isso implicaria sempre o respeito pelos demais, por clientes, agentes da justiça e, sobretudo, todos os Colegas, porquanto cada um desenvolve o seu patrocínio, defendendo da forma mais dedicada e prestimosa o seu Cliente, mas respeitando igualmente o outro ponto de vista – o do Colega que representa o lado oposto da barricada.
Contudo, ao longo da última década, talvez duas, o respeito e urbanidade que deveria ser devido ao outro, se não por ser uma questão de educação, seria sempre pelo cumprimento da Lei que é o Estatuto da Ordem dos Advogados, caiu em desuso.
Os advogados têm-se boicotado a si mesmos. Têm contribuído para o descrédito com que nos olham, nós que sempre estivemos para servir o outro, qualquer que ele fosse porque não nos cabe a nós juízos de valor ou de moralidade. Cabe-nos exigir ao Estado que atue e atue sempre em estrito cumprimento da Lei e da Constituição.
Hoje corremos as redes sociais e a leviandade com que se escreve, se insulta o outro, se procura descredibilizar, se põe em xeque, é tudo menos um exercício de urbanidade que a todos é exigido e devido. Mais, é um arrepiar de um dos princípios mais basilares do Estado de Direito Democrático: respeitar a opinião do outro, por o mesmo a ela ter direito, ainda que da mesma se discorde, mesmo frontalmente. Isso é viver em Democracia: poder ter um credo, uma posição, uma opinião diferente dos demais; poder dizê-lo sem ser insultado ou afrontado por isso. Poder discordar porque penso diferente, mas saber que ao outro assiste o mesmo direito.
É a velha máxima que todos aprendemos no primeiro ano dos bancos da Faculdade: a minha liberdade termina onde começa a do outro.
E ser advogado é exercer uma profissão nobre, é assumir um papel diferenciador na Sociedade. Não somos sapateiros, cozinheiros, barbeiros, ou qualquer outra profissão que terá, certamente, aspectos diferenciados e merecedores de respeito.
Somos Advogados e de nós se exige (devemos nós próprios exigir, cada um de per si) um humanismo, um papel interventor e cívico, na busca de uma melhor Justiça e de uma Sociedade mais equitativa. E para tal, temos de nos respeitar, a nós mesmos e ao outro!
Ana Luz
06.02.2025 - 18:21
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