opinião
A saúde e o PS Barreiro. Um caso de dupla personalidade.
Por André Carmo
Barreiro

Mas defender às segundas, quartas e sextas que a saúde é um direito e às terças, quintas e sábados promover a saúde como negócio, só o PS Barreiro é capaz de fazer.
Como é possível que o mesmo partido que apresentou, na Assembleia Municipal do Barreiro, uma saudação ao 25 de abril onde se manifestava a favor de um “Serviço Nacional de Saúde, universal e gratuito” possa, ao mesmo tempo, ter um presidente da Câmara que, referindo-se à abertura prevista de um hospital da CUF no Barreiro em 2028, “vê com bons olhos o investimento privado agora anunciado”?
Os mesmos que agora apelam a manifestações são aqueles que não se cansam de menorizar a Comissão de Utentes de Serviços Públicos sempre que esta promove uma concentração ou vigília.
Os mesmos que ficam de braços cruzados sempre que serviços médicos encerram no Hospital do Barreiro. E quando o acesso ao seu estacionamento passou a ser cobrado.
Os mesmos que, em junho de 2022, dezembro de 2023 e junho de 2024, chumbaram as moções apresentadas pela CDU em defesa do SNS e do seu reforço.
Os mesmos que entregaram terrenos públicos para construção de uma clínica da CUF por 500 euros mensais.
A 14 de abril, no jornal Público, António Correia de Campos (ex-Ministro da Saúde de governos PS) escreveu: “Devido à escassez conjuntural de recursos humanos e estrutural dos recursos financeiros, em contexto de forte rigidez de regras da gestão pública, cada acréscimo no desempenho do setor privado tem reflexos negativos no SNS. Os mais visíveis são a drenagem de médicos em algumas especialidades, obrigando a encerramentos de urgências e a perdas de eficácia e qualidade em alguns serviços de internamento (…) [concluindo que] Em contexto de crescentes necessidades e de permanente limitação de recursos públicos, a complementaridade sem erosão do SNS é difícil de compatibilizar com o interesse público, baseado no acesso igual para todos, sem barreiras financeiras”.
É evidente.
Na saúde, como noutros sectores do Estado Social, a relação público-privado é um jogo de soma nula. O esvaziamento de um corresponde ao crescimento de outro e não é possível satisfazer ambos. Ou se defende a saúde como direito ou se promove o negócio da doença. Ou se investe e reforça o SNS ou se contribui para o seu desmantelamento.
Sabemos que, entre 2023 e 2024, os lucros da CUF Saúde cresceram 15%; que, no dia 31 de março de 2025, abriu 12 centros de saúde na Grande Lisboa; e que, no Barreiro, vai investir 55 milhões de euros e criar mais de 300 postos de trabalho.
O PS Barreiro também sabe.
Por isso, quando escolhe promover e apoiar o grupo CUF sabe que está a prejudicar o Barreiro e os barreirenses. Sabe que uma parte significativa dos postos de trabalho será desviada ou subtraída aos equipamentos públicos de saúde existentes. Sabe que, na saúde, o financiamento dos lucros privados é feito às custas de recursos públicos. Sabe que está a atacar o SNS e a defender o negócio da doença.
Sabe que está a fazer o contrário do que diz. Sabe que está a fazer o que sempre fez.
André Carmo
Deputado municipal eleito pela CDU Barreiro
26.04.2025 - 22:56
imprimir
PUB.
Pesquisar outras notícias no Google
A cópia, reprodução e redistribuição deste website para qualquer servidor que não seja o escolhido pelo seu propietário é expressamente proibida.
Fotografia e Textos: Jornal Rostos.
Copyright © 2002-2025 Todos os direitos reservados.