opinião
O 1º maio, os desafios futuros e o Barreiro
Por Luis Tavares Bravo

Consequentemente, o movimento operário desempenhou um papel fundamental na história da cidade do Barreiro, moldando profundamente a sua identidade social, económica e também política, fazendo da nossa cidade um bastião de resistência, que foi influente na transição para a democracia após o 25 de Abril de 1974. Mais de 50 anos depois do 25 de abril, o mundo mudou, o país mudou, e o Barreiro também. E numa década de enorme transição tecnológica e social, existem algumas reflexões que podemos fazer enquanto cidade para os desafios do futuro de todos Barreirenses que lutam e anseiam por melhores condições de vida, e sobretudo de progressão pelo mérito e redução das desigualdades.
A primeira reflexão é sobre como podemos trabalhar para trazer mais investimento em projetos industriais estruturais que criem os empregos qualificados das próximas gerações. Se é verdade que o movimento operário e sindical é icónico da nossa cidade, a verdade é que está umbilicalmente ligado aos grandes projetos de implantação industrial, de que o grupo CUF era a principal face, mas não a única. Na década de 70, apenas este grupo representava cerca de 5,5% da economia portuguesa, e a cidade estava profundamente envolvida com o seu enorme complexo industrial, e o dinamismo do Barreiro contribuía significativamente para o PIB nacional, fomentando a exportação de produtos transformados e impulsionando o desenvolvimento urbano e social da região. A desindustrialização das últimas décadas trouxe muito menor centralidade da cidade que era um verdeiro “coração industrial” do país, e que deve ser tentar recuperado, desta feita nos sectores mais inovadores e tenham capacidade de voltar a transformar a cidade num organismo produtivo vivo, onde a expressão fabricado no Barreiro seja mais que uma frase estampada numa t-shirt. Mais indústria inovadora, mais emprego, e melhores salários.
Numa segunda inferência, dizer que é essencial cuidar do talento humano local. Isto significa que devemos em primeiro lugar desenhar políticas publicas locais que permitam ajudar apostar na qualificação dos nossos jovens, e na requalificação dos menos jovens para os novos desafios industriais que vão marcar as próximas décadas. Iniciativas como a Startup Barreiro devem estar muito mais preparadas para apoiar os pequenos empresários, e serem um mecanismo de captação de negócio e crescimento da base de capital ao invés da alternativa redutora atual de ser um mero centro de eventos. Obviamente, o mercado de habitação precisa também de ter soluções acessíveis que ajudem a reter o nosso talento local – que não pode nem deve ser reduzido a soluções de arrendamento acessível. Tem de existir espaço para habitação que os trabalhadores possam pagar, e serem proprietários. E isso não é atualmente compatível com casas que custam entre 350 mil a 500 mil euros. O Barreiro precisa também de ter oferta para valores que quem cá mora possa pagar.
Por fim, mas não menos relevante, podemos e devemos produzir reflexão local sobre políticas publicas que fortaleçam maior coesão social e melhorar as condições das mulheres e comunidades que suportam injustas desigualdades salariais para o mesmo trabalho. Na nossa cidade – de acordo com os dados do pordata disponíveis - as mulheres ganharam em média, menos entre 20% a 25% menos que os homens numa década. Este diferencial tem vindo a ser reduzido, mas deve continuar a ser um dos principais focos de preocupação nos dias de hoje. Da mesma forma devemos e podemos pensar na forma como podemos ajudar a criar mecanismos locais que ajudem no chamado elevador social, no apoio ao sistema escolar do concelho, no apoio à transformação profissional das gerações de meia-idade que terão de se adaptar à automação e estagnação profissional, enquanto asseguram responsabilidades dos filhos estudantes e pais idosos, e no apoio ao pequeno empresário, ou ao pequeno comerciante tradicional. A cidade pode e deve refletir sobre como procurar criar condições para que todos possam prosperar e contribuir para um Barreiro mais competente a decidir, economicamente mais relevante e socialmente muito mais coeso.
Luis Tavares Bravo
Economista e candidato a presidente da Assembleia Municipal do Barreiro pela coligação PSD/CDS
03.05.2025 - 14:38
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