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Barreiro - Grupo de Teatro Projéctor
“Ocidental Praia” – a vida num contexto entre a ironia e o humor
Uma peça que aborda um tema actual, um tema que marca a agenda politica nacional – o direito à habitação.
A “Ocidental Praia”, teve a sua estreia no dia 25 de Março. Esta é a 43ª Produção do Teatro Projéctor.
Antes de outra qualquer nota, salientar que este é um espectáculo marcado por uma dinâmica de diálogos, através da qual os actores vivem, com entusiasmo, e protagonizam os personagens com intensidade dramática, com tensão e naturalidade.
São na verdade um conjunto de boas interpretações, com perfeita dicção, que dão força ao texto, que, na verdade, nesta peça tem um papel central, quer pela sua natureza sociológica, quer pela sua riqueza dramática. Os actores vivem as personagens, de forma viva, pela expressividade, pela comunicação, e valorizam o contexto irónico-dramático.
Todos, na sua relação dialéctica contribuem para despertar, no espectador, sentimentos de adesão aos valores em conflitualidade, a conflitualidade social, própria de uma peça que pode ser pensada como “teatro épico” – de luta, critico, irreverente, ideológico, mordaz.
Uma peça marcada por momentos cénicos de grande beleza estética, com música original, bem enquadrada nos contextos cénicos, com momentos brechetianos, que ganham com as interpretações, tornam-se por vezes sublimes, nas movimentações dos personagens que dão beleza e força ao texto e ao contexto.
Uma peça marcada por uma encenação que enquadra, com mestreia e beleza, os actores e os contextos num espaço de “teatro de bolso” com plena harmonia e plasticidade, sem excessos e com harmonia.
Os momentos vividos no jazigo fazem emergir no cenário, de forma refinada, a ironia da vida, colocando de forma materializada a lei da sobrevivência no limite da existência humana, o confronto entre a tragédia e a comédia, o olhar entre quem vive entre a morte vivida e a morte matada.
O rico. O pobre. A engrenagem de uma sociedade que esmaga até à morte e que da morte ergue a esperança.
Uma peça que, sem dúvida, pode considerar-se “teatro de intervenção”, com um texto sóbrio, com registos que vão do irónico ao humor, que através de situações caricatas procura de forma aberta, descomplexada, motivar o espectador a reflectir e adquirir consciência sobre um tema de grande importância, que afecta a vida das cidades, das famílias – o direito à habitação.
O teatro é sempre expressão da vida. O teatro de intervenção é sempre uma afirmação de uma visão, de um projecto de acção social, de intervenção cívica, com esta peça o Projéctor opta por fazer teatro dentro do tempo que somos e dentro do tempo que vivemos, dar o seu grito de dignidade e humanismo.
Estão de parabéns os actores. Está de parabéns Paulo Cavaco, pela música. Está de parabéns Inês Nunes pela excelente coreografa. E, obviamente, está de parabéns Luciano Barata, que enquadra todo o conjunto da arte que é o teatro que nasce no palco, ali, um espectáculo com dimensão ética e estética, positivo e com perfeição.
Uma nota final sobre o espaço- auditório - Teatro de Bolso do Projéctor - que, sem dúvida, tem vindo a ser valorizado. Estão de parabéns todos os que de forma voluntária contribuem para enriquecer os espaços culturais da cidade, dando um exemplo vivo de quem sente o teatro com paixão.
António Sousa Pereira
Texto do Programa
A nossa Constituição no seu art.º 65 sobre “Habitação e Urbanismo” diz que: “Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene, conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar.
O Estado adotará uma política tendente a estabelecer um sistema de renda compatível com o rendimento familiar e de acesso à habitação própria.
Estimulará a construção privada, com subordinação ao interesse geral, e o acesso à habitação própria ou arrendada.”
Sinopse
Nesta Ocidental Praia, que caracterizamos por Lusitana, foram estas premissas que desencadearam todas as situações caricatas que nesta estória têm lugar. Porque como em qualquer outro recanto do planeta, as pessoas, agrupam-se em casais, para viverem de forma convencional, pois necessitam de um lar, no sentido de lugar independente, onde pos sam dormir, discutir, amar e eventualmente procriar…Obviamente que os sem-abrigo por qualquer motivo já desistiram disso, e, não é deles que esta peça se ocupa. É dos outros. Daqueles que sendo trabalhadores de outrem, consigam o direito de alugar uma casa e não de a adquirir,
pois não têm essa possibilidade. Daqueles que sentem, na pele, nos ossos e porventura no sangue, a falta do que a sociedade moderna ainda necessita para exigir ajustamentos que permitam dar aos vivos a mesma importância que, alguns, vêm dando aos mortos.
E com o todo o nosso respeito, e uma enorme ponta de humor que nunca fez mal a ninguém, mesmo que seja quase negro, é que aqui estamos para vos contar mais esta…
F i c h a T é c n i c a
Texto Original: “Praia Ocidentalar” - Autor: Eduardo Freitas
Título da Peça: Ocidental Praia
Imagem do Cartaz: João Santos
Concepção do Cartaz: Diogo Lencastre
Música: Paulo Cavaco
Coreografias e Guarda Roupa: Inês Nunes
Adaptação e Encenação: Luciano Barata
A c t o r e s
Maria J. Quaresma
Svetlana Manta
Paula Almeida
Rosa Dias
Sandra Pereira
Ebi Nangura
Íris Póvoa
João Santos
Diana Neves
Lídia Baptista
Luis Soeiro
Valter Soeiro
Telmo Póvoa
Elsa Coelho
Auditório do Teatro Projéctor
Rua Prof Joaquim Vicente França, nº 103
Barreiro
13.04.2023 - 20:31
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