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BARREIRO - Dia Internacional da Mulher
Isana escreveu uma página histórica de enorme dimensão estética
. 40 obras de arte únicas de homenagem à mulher
Foi uma noite de «Sabor e Arte», uma noite que ficará inscrita como um dos momentos mais belos e criativos da brilhante carreira de Isana, que, com a sua criatividade fez do Excelentíssimo Senhor Prato - obras de arte, telas, poemas, únicos, num total de 40 peças, todos com uma dimensão estética que prende o olhar e beija o coração.
A minha amiga Isana deu-me a honra de me convidar para falar na abertura do Jantar com Arte. Aqui fica para memória futura a minha intervenção:
Exposição «Sabor e Arte»
Isana
Dia Internacional da Mulher
Um dia, em tempos idos, no princípio dos anos 90, no âmbito das comemorações do 25 de Abril, foi programada a realização de uma conversa com José Saramago.
Tinha o contacto dele, das relações que mantivemos quando o convidei para vir ao Barreiro participar numa conversa, cujo tema foi o seu livro «Jangada de Pedra», por essa razão, fiquei de o contactar.
Liguei-lhe e convidei-o para participar na tal conversa, no âmbito da programação do 25 de Abril.
De imediato respondeu-me que não vinha, porque estava cansado de colóquios e conversas sobre o 25 de Abril.
Então, respondi-lhe que o tema da conversa era : “O sabor da palavra Liberdade”.
Retorquiu José Saramago: “Podes contar comigo”
E cá esteve na Biblioteca Municipal numa conversa sobre esse tema.
No ano seguinte foi editada uma brochura com o conteúdo integral dessa conversa, com o título : “O Sabor da Palavra Liberdade”, este foi o lema que criei e foi aprovado para slogan das comemorações do 25 de Abril.
Por isso, costumo dizer que o Prémio Nobel tem uma obra editada que fui eu que lhe dei o título.
Agora, passados mais de 30 anos, aqui estou de novo, em vésperas das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, convidado pela minha amiga Isana, para conversar sobre “Sabor e Arte”, a propósito da sua exposição servida ao jantar, para nos deliciarmos com os olhos e sentirmos o sabor da Arte a entrar no coração.
O sabor dá-nos sensações. O sabor tem essa missão de ligar o corpo às emoções. O sabor é sentir. E, de facto só quando sentimos, damos passos em frente na aprendizagem da vida. Sentir. Pensar . Saber, como diria António Damásio.
Esta exposição que a Isana hoje promove tem essa virtude de nos fazer sentir mais humanos, de saborearmos a arte, com criatividade, numa vivência comum, sentados ao redor de uma mesa. O sabor da arte que se estende ao sabor da fraternidade. O estarmos todos de corpo inteiro, olhos nos olhos, a conversar e viver um instante, único, que vamos guardar num cantinho do nosso coração.
Mas, a Isana, para além desse sentido de nos proporcionar o «sabor e arte», decidiu dar um conteúdo aos seus trabalhos, enriquecendo-os com o sal da vida – rostos.
Sim, os rostos são o sal da vida, os rostos que fazem o quotidiano, todos os seres humanos, todas as pessoas – eles e elas - que começam sempre num abraço de ternura que se escreve no poema dito - nós. Esse instante de sabor e arte que se diz amor. Um amor que une o paladar ao olhar, numa corrente emocional que transporta a arte para a nossa interioridade.
Sim, estes trabalhos da Isana escrevem-se com a palavra amor. O amor de muitas mulheres que escreveram páginas da história da humanidade, páginas da história do meu país, páginas da história do nosso Barreiro.
Mulheres que inspiram arte. Mulheres que tocam com as palavras o nosso pensamento. Mulheres que foram mães, avós, irmãs, amigas, lutadoras, resistentes. Mulheres que cantaram a vida. Mulheres que afirmaram o sabor da palavra Liberdade.
Elas estão nos nossos pratos, feitas flores, paisagens, cores, traços, telas, frases, poemas…são sabor e Arte. São arte e sabor.
A Isana com este seu projecto escreveu uma das mais belas páginas do seu amor à cerâmica, depois de um dia ter erguido Sua Excelência o Azulejo, agora deu vida e honra ao Excelentíssimo Senhor Prato.
Obrigado Isana, por dares sabor à Arte, porque a arte sem sabor, é como a Liberdade sem amor.
E, para findar gostava de recordar que também em tempos idos, no dia 7 de março de 2007, escrevi um artigo no jornal Rostos, no qual tecia diversos comentários sobre a arte e os artistas barreirenses, homens e mulheres que, com a sua criatividade, escrevem memórias, inscrevem no tempo emoções, partilham vivências, são património material e imaterial do concelho, mas que têm sido tão, tão, tão esquecidos.
Na época, escrevia no meu texto – “a ideia que tenho é que os artistas do Barreiro estão «cansados» de estar «cansados». Cresceram a sonhar. Desenvolveram projectos e descobriram que, afinal, o mundo continua a rodar... eles sentem que o sol nasce todos os dias. Sabem, até que o sol brilha. Sabem que na sua arte vivem o quotidiano da cidade as suas emoções – as nossas emoções, de uns de outros, palavras e cores que se cruzam no pensamento.
Nomes que se apagam no silêncio. A inexistência de um Espaço Museológico, que seja um ponto criativo e de preservação da nossa memória artística. São tantos.
Por exemplo, que na nossa arte urbana fosse possível capaz de perpetuar nomes apagados. Que belo seria.
Mas, o mal é que há quem pense que no Barreiro, o que temos de referência são os barreirenses que foram campeões europeus. A malta do Benfica.
Ou então, só contam aqueles que, um dia foram rostos na televisão.
Coisas. Ícones. Enfim, vive-se muito da imagem.
Os nossos artistas – de muitas artes – são protagonistas no fazer cidade e cidadania. O que falta, escrevi em 2007, é que exista, no Barreiro, uma energia que seja capaz de envolver e potenciar, fazendo da arte e dos nossos artistas referências estratégicas para criar cultura de cidade, de amor ao lugar onde inscrevemos as nossas vidas.
A Isana, natural da Moita, desde criança, muito criança, com o Barreiro a pulsar dentro de si, é bem um exemplo da energia da arte e da criatividade.
Ela é um exemplo vivo da palavra resiliência. Do silêncio que abraça a vida.
Uma veterana que, aos 79 anos, ainda tem o privilégio de nos surpreender e alegrar os nossos olhos, e dizer-nos poeticamente: A arte é para saborear!
Saboreiem, essa Arte que dá força à memória que faz história, porque ergue bandeiras de luta, em rostos de sempre, que fazem presente e constroem futuro.
Isana, uma mulher, que dá voz à voz do silêncio, que faz da resiliência um grito de amor e paixão.
Afinal, essa será sempre a luta de ser mulher.
A luta do amar a vida. E viver a vida com amor.
A luta que dá sabor aos dias, e, à arte dá sabor.
Obrigado Isana!
Barreiro, 8 de março de 2024
António Sousa Pereira
TE – 180
Equiparado a Jornalista
09.03.2024 - 00:54
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