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BARREIRO - Viagem ao mundo da Ópera
A educação pela arte ou quando a criatividade é sublime
No Auditório Municipal Augusto Cabrita tive o prazer de assistir aos dois espectáculos – Viagem ao mundo da Ópera – uma concepção de Mariana Gomes, dinamizada no âmbito do projecto “Caminhos(com)sentidos”, da Escola Secundária de Casquilhos.
“A viagem ao mundo da Ópera”, contou com a participação da Orquestra Metropolitana de Lisboa, com a direcção do Maestro Miguel Sepúlveda; do Coro da Universidade Nova de Lisboa, com a direcção do Maestro Diogo Gonçalves, de Mariana Gomes, Soprano, e, Francisco Henriques, barítono.
Pedro, é isto Educação pela Arte
O primeiro espectáculo foi dirigido para alunos dos 4º anos aos 6º anos. A sala repleta. Escutava-se o burburinho normal, como se fosse um convívio no recreio da escola, uma polifonia de risos e conversas entre crianças, que se misturava com a sonoridade da afinação dos violinos e dos instrumentos da Orquestra Metropolitana. Uma festa de vivacidade e alegria, que era, já ela mesma um prólogo do espectáculo.
As luzes deram sinal. Fez-se silêncio. O espectáculo começou.
Escutavam- se os sons melódicos a percorrer aquele silêncio que subitamente invadiu a plateia.
No palco as ilustrações, feitas em sala de aula, cativavam os olhar, enquanto uma voz de menino, narrava a história.
Ao meu lado estava sentado o meu amigo Pedro, que comentou para mim: “Esta é a voz do Gil”. Escutava-se a narrativa fluída. O mundo da ópera “povoado de deuses, ninfas, feiticeiras, rainhas”…as histórias eram contadas e as ilustrações de uma beleza pura, colocavam em cena as personagens da Óperas de Mozart, Rossini, Handel.
Histórias contadas e ilustradas pela criatividade e pela sonoridade dos alunos do Agrupamento de Escolas de Casquilhos, tendo sido envolvidos no projecto 130 alunos e 10 professores, de diferentes disciplinas.
O Pedro, escutava embevecido a voz do seu filho Gil, senti que a sua emoção, vibrante na ternura do olhar, quando o Gil entrou numa cena.
“Pedro, é isto Educação pela Arte”, disse-lhe.
Das artes plásticas ao trabalho o texto
As ilustrações garridas permitiam sentir a energia dos personagens de cada ópera em sincronia com a brilhante execução musical da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Para dar voz às personagens, ora o barítono Francisco Henriques, com a sua voz potente, ressoava no espaço e encantava, ora a soprano Mariana Gomes, com sua voz melódica e divinal, em plena harmonia com a Orquestra Metropolitana de Lisboa.
Um espectáculo marcado de cor, música, palavras, uma interdisciplinaridade total. Das artes plásticas, ao trabalhar o texto e sua interpretação, da dramatização à música. Esplêndido.
Um trabalho de equipa que passou pela sala de aula, certamente envolveu as famílias, e, resultou naquela vivência em pleno, que explodiu em aplausos, e, encerrou em perguntas, no final do espectáculo, na procura de uma resposta à pergunta: Afinal o que é ópera?
A ópera é, talvez o silêncio, o fogo e a água, sentida nos instrumentos e nas vozes daquele instante de grande beleza – estético e emocional – da Flauta Mágica, de Mozart.
“A ópera é um pouco como a vida – a magia e o imaginário”, recordava Mariana Gomes.
E respondendo a uma pergunta daquela plateia de crianças, porque razão cantavam com aquelas vozes, a soprano, referiu que nos tempos da origem da ópera não existiam microfones, nem amplificadores, por essa razão, o nosso corpo é o nosso amplificador, sendo necessário trabalhar, treinar bastante, usar técnicas, para conectar com corpo a voz, e assim projectar a voz para ela ressoar e ser escutada em toda a sala.
Experiência piloto de um projecto de excelência
Um espectáculo que, pode dizer-se é uma experiência piloto, que pode ser recriada, noutros concelhos, um pouco por vários pontos do país, claro, se existirem mecenas e autarquias que, tal como a Câmara Municipal do Barreiro, criou as condições técnicas e económicas para viabilizar este projecto, de excelência.
Nos anos 80, quando li, uma obra de Herbert Read, sobre Educação pela Arte, que me inspirou uma campanha de comunicação, de banda desenhada, e de produção de trabalhos na sala de aula, fiquei sensibilizado pelo sentido da educação estética, o significado da valorização dos sentidos, essa educação, que, como refere Herbert Read, articula :educação visual - a vista; a educação plástica - o tacto; a educação musical – ouvidos; a educação cinética – os movimentos; a educação verbal – a palavra; a educação construtiva – a arte.
Ora foi tudo isto que senti e vivi, neste espectáculo - «A viagem ao mundo da ópera”, na estética das ilustrações, na hermenêutica dos textos, na harmonia da arte – através de uma viagem pela história da ópera de forma divertida e cativante.
Foi, sem dúvida, uma tarde de arte, de beleza sonora, de beleza plástica, foi sem dúvida um momento de excelência para a comunidade escolar do Agrupamento de Escolas de Casquilhos e para a vida cultural do concelho do Barreiro, sentiu-se no silêncio dos que viveram o espectáculo e nas experiências vividas na sala de aula, ali, partilhadas.
A cereja em cima do bolo
Depois, ao fim da tarde, vivi o segundo espectáculo, este dirigido para alunos dos 7º anos aos 12º anos, que, sublinho foi a cereja em cima do bolo, porque, desta vez, no palco contou-se com a participação do Coro da Universidade Nova de Lisboa, e, saliente-se também com um maior envolvimento dos alunos figurantes que integram a Oficina de Artes Dramáticas - (Des)dramatiza-te, coordenado pela Professora Filomena Veloso, estes actores e actrizes, que trouxeram para a cena, a dança, o ritmo, a cor e alegria.
Estão de parabéns as professoras Helena Sardinha Pereira e Maria Filomena Veloso, com esta «Viagem ao mundo da ópera», de Monteverdi a Rossini. Eu adorei Mozart, porque traduz todo o espectáculo – a beleza do silêncio, a energia do fogo, e, a vida da água.
Na verdade, se a primeira sessão foi cativante, a segunda sessão foi sublime.
Obrigado pelo convite!
António Sousa Pereira
TE – 180
Equiparado a Jornalista
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26.03.2024 - 17:52
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