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MOITA - CARTAS DA PRISÃO DE LEONEL COELHO
“Porque me privam do direito de ser aquilo que sou”
A Feira do Livro de Alhos Vedros, organizada pela Academia Musical e Recreativa 8 de Janeiro, de Alhos Veros, é um evento cultural inscrito nos dias de resistência, resiliência, luta pela democracia e Liberdade.
Leonel Coelho, dirigente associativo, activista politico, homem que viveu a sua vida lutando por valores que abraçou e pelos quais conheceu as prisões do regime deposto no 25 de Abril e a repressão da PIDE, policia politica que a todos vigiava.
Neste ano que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril, a Feira do Livro de Alhos Vedros, assinalou essa efeméride com a publicação do livro «CARTAS DA PRISÃO DE LEONEL COELHO», e durante os dias do certame esteve patente ao público uma exposição que proporcionava uma viagem por dentro das páginas escritas por Leonel Coelho.
Este foi o primeiro que ele escreveu
No dia da inauguração da 51ª edição da Feira do Livro de Alhos Vedros, foi apresentado o livro CARTAS DA PRISÃO DE LEONEL COELHO. O preso político que todos conhecem com justiça como “o pai da Feira do Livro”, que faleceu em 2021.
Dores Nascimento, filha de Leonel Coelho, recordou que as cartas editadas na obra, foram escritas entre Maio e Dezembro de 1970, quando seu pai esteve detido nas masmorras da PIDE. Salientou que seu pai escreveu diversos livros, mas, “este foi o primeiro que ele escreveu”, só que nunca foi publicado.
Referiu que este livro, que reúne as cartas do seu pai, apenas foi lido pela sua mãe e pela censura, e, portanto, não foi escrito pelo seu pai para ser lido, para ser um livro pelo público – “ele escrevia o que lhe ia no coração”.
Dores Nascimento, recordou que seu pai tinha 36 anos quando escreveu estas cartas na prisão – “era um jovem”.
Cartas de Prisão – encontrei a pessoa que eu já conhecia
Luis Diogo, que conheceu e conviveu com Leonel Coelho, começou por referir – “o Leonel talvez fosse a imagem mais próxima do que é ter um avô”, o meu contacto com ele foi uma coisa “muito nova, porque ele era uma pessoa muito imprevisível”.
Recordou que um dia partilhou com ele uma música clássica, com o objectivo de olhar para a expressões dele e sentir se aprovava, ou não, o que estava a ouvir. Notou que ele tinha uma expressão apreensiva, o que lhe parecia que não Leonel não estava a gostar. Quando acabou perguntei-lhe : Que achou? Ele, com a mesma expressão, de quem não estava a gostar disse: “Esta é uma composição absolutamente brilhante”.
Era uma pessoa assim, disse, por essa razão, ao ter lido a esta obra – Cartas de Prisão – encontrei a pessoa que eu já conhecia, que tinha uma grande sensibilidade para as palavras e para as reflexões, consegui, ver pormenores deliciosos, com escrever numa carta, de forma especifica para duas pessoas, com linguagens diferentes, porque eram pessoas, em fases distintas da vida – a sua esposa e a sua filha, com 10 anos.
Ele vivia à frente do seu tempo
Gostei da forma como o Leonel se dirigia, falando com linguagem própria para a Dores, e, o mesmo fazia para a sua esposa, para que transportava o seu romantismo.
Salientou que para Leonel Coelho ser oprimido, ou ser torturado, por ter livre opinião – “era uma coisa completamente descabida, porque ele vivia à frente do seu tempo”, por isso, comentava que talvez tivesse sido preso – “porque em pequeno matou um lagarto”.
“Não descansarei enquanto não descobrir os motivos porque me privam do direito de ser aquilo que sou”, recordou Luis Diogo, como uma frase de uma carta que define Leonel Coelho.
04.07.2024 - 19:37
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