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Barreiro – A liberdade que tu amaste
O adeus ao Kira entre aplausos e lágrimas
. Obrigado!

Kira é um nome indissociável das memórias culturais do concelho. Um criativo que amou a palavra Liberdade. Um homem das artes, da vida e a da cidade. A cidade de gente vinda de muitos lados.
No Cemitério de Vila Chã, curiosamente, seu corpo desceu à terra, num talhão localizado em frente do Jazigo onde está o corpo do seu amigo e eterno companheiro o Augusto Cabrita. Os dois que viveram a palavra amizade por dentro dos olhos, inscrita nas paixões e da beleza que dá sentido à vida.
“Faz este quadro em grande. Pinta em grande, porque Tu és grande”, disse-lhe um dia o Mestre Augusto Cabrita.
Dois inseparáveis amigos, agora, ali, na Vila Chã, estão ao lado um do outro, na terra que eles amaram e à qual deram tudo de si, sem querer nada em troca, apenas o reconhecimento e o direito ao não esquecimento.
Viveram com amor. Serviram o Barreiro e do Barreiro quiseram, apenas, receber a palavra gratidão.
Foram muitos os amigos que, hoje, estiveram presentes na despedida de Kira, alguns vindos de longe, de muito longe, para, nesta hora, dar um abraço com o coração e expressarem aa ternura vivida na palavra fraternidade..
No instante que abriram a urna, ali, de pé, na sua frente, olhei seu rosto marcado de uma luz de serenidade. Tranquilidade. Pureza.
Escutei o silêncio aquecido pelo sol abrasador. Três pássaros esvoaçaram, no céu azul. O vento deslizou no olhar.
Na minha mão, transportava um cravo vermelho e uma “geribera” amarela.
Coloquei o cravo na urna, sobre os seus braços, e disse-lhe: “A Liberdade que tu amaste. Barreiro.”
Coloquei a “geribera” sobre os seus braços, e disse-lhe: “A beleza que tu criaste. Alentejo. Obrigado Kira.”
E, nesse instante, entre aplausos, a tua família e amigos, despediram-se de ti. Teu corpo, desceu à terra…mas, tu, estás cá entre nós a sorrir!
Acredito que, logo, ao por do sol, os dois Mestres – Tu e Ele - vão sentar-se, divertidos, a falar de muitas histórias, dos Concursos Barreiro Florido, das noites na Barrind, nas conversas no Kira Bar, nas exposições para comer, na fotografia da bicicleta, nas caracoladas no Largo Casal, nas viagens no barco, no dia-a-dia, rumo a Lisboa. Na alegria que vocês colocavam na vida, na forma como amavam a vida. Viver é preciso! Na ironia. Na ternura. Nas viagens de cumplicidade.
Vão recordar e vão encontrar-se com o António Monginho, cujo centenário de nascimento, agora, foi celebrado. O poeta que tu, Kira, trouxeste à luz do dia. Falou-se nisso na sessão da Biblioteca Municipal. Falou-se de ti e do Monginho. A vida de estórias que se cruzam do Alentejo ao Barreiro.
É isso, de certeza, que vocês – Kira, Augusto Cabrita e António Monginho, vão continuar a manter vivos os sonhos que fazem sentir a beleza infinita da eternidade. Afinal, é por esse sonho do belo, do sublime, que se faz poema, que nasce arte, que humanidade se faz eternidade e, em cada presente, entra pelos olhos de quem sente a vida no pulsar dos ossos com amor.
Uma luz que brilha de velas soltas ao vento.
É esse o lugar dos poetas e de todos os que escrevem a vida com a palavra Amor.
Obrigado Kira!
António Sousa Pereira
01.07.2025 - 16:51
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