poesia

Aqui a noite é calada
Por Fernando Reis

Com saudações poéticas, a todos os poetas do “Rostos”

Aqui a noite é calada

É noite fria
nesta aldeia quase inabitada
que adormeceu no regaço
da montanha que a vigia
no seu sono profundo até de madrugada.
Sente-se o tempo que aqui parou
em harmonias de cansaço…

Faz frio lá fora.
Oiço a voz do vento que passa e diz
das coisas que a noite tem
imaginárias
e murmura melodias
com as folhas das mimosas
que no terreiro da capela se erguem
solitárias.

As folhas e o vento
numa voz que só eu entendo
compõem canções de outros tempos
com notas de saudade.
São memórias desses tempos sem idade…
Gosto da voz do vento que me acalma
deste silêncio comprometedor que só eu sei
ler a voz e ver a alma.

Eu leio a alma do vento
e entendo a sua voz também!
Sei de cor a luz da noite e as agonias da vida
que a noite tem.
Vejo na noite a luz mesmo estando a noite
no seu silêncio apagada.
A noite que traz no seu seio
sombras de tudo e restos de nada.

Quem diz que a noite é medonha,
mente.
Ela também tem alma. E sente.
Se a noite traz consigo a voz dos mortos
que vagam em melodias de silêncio feitas
é para nos prevenir da falta da voz dos vivos
que não sentem a paz da noite
em demasiadas guerras envolvidos.



Vou pela noite dentro esventrar no seu negrume
a alma das coisas mortas
para ver se eu entendo o que deu razão
à sua vida.
Esta voz do vento é a voz das almas mortas
que passam aqui ao lado
à espera que alguém lhes dê guarida.

É pela mão da voz da noite que eu me deixo ir
por aí na noite cansada
solitariamente, só…
Leio na voz do silêncio a vida que há
na alma das coisas mortas
para além desta vida reduzida a nada,
a pó.

Agora a voz do vento parou.
E o murmurar das folhas das árvores
erguidas solitariamente, sós,
também parou da voz cansada.
Comigo apenas o silêncio na noite…
Em paz, totalmente em paz esta aldeia
vazia de tudo e cheia de nada.

Fernando Almeida Reis

14.6.2007 - 20:57

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