entrevista
Rosto do Ano 2015 – David Sobral
«Papel fulcral que as professoras e professores das escolas públicas do Barreiro tiveram no meu percurso»

. Só conhecendo outros sistemas e outras culturas podemos perceber o valor que a escola pública em Portugal tem internacionalmente
No próximo dia 15 de Dezembro vamos assinalar o nosso 15º aniversário. No decorrer do jantar evocativo da efeméride vamos proceder à entrega das Distinções «Rostos do Na o 2015».
O ROSTO DO ANO 2015 foi atribuído a David Sobral, investigador do Barreiro que foi uma referência internacional pela descoberta da Galáxia mais brilhante do Universo CR7.
O jornal Rostos, com a colaboração de jornalistas da Imprensa regional e técnicos de comunicação, atribui anualmente em diversas áreas a distinção «Rosto do Ano», através da qual presta um justo reconhecimento a personalidades e entidades que pelo seu trabalho contribuíram para dignificar a cidade e promover a sua imagem.
David Sobral, foi escolhido como «Rosto do Ano 2015».
É obviamente excelente sentir que o meu trabalho é reconhecido
David Sobral, em declarações ao jornal «Rostos», a propósito da distinção que lhe foi atribuída sublinha – “confesso que a distinção foi tão inesperada que tive que perguntar se não tinha sido alguma espécie de engano. É obviamente excelente sentir que o meu trabalho, e dos estudantes fantásticos que trabalham comigo, é reconhecido para além da comunidade científica/Astrofísica”.
Motiva ainda mais a fazer mais e melhor
Para David Sobral esta distinção – “tem por isso um significado ímpar. Sem dúvida que me motiva ainda mais a fazer mais e melhor, e a continuar a não ter medo de percorrer novos caminhos e aceitar os desafios mais complexos.
Quem faz Ciência e Investigação fá-lo por querer saber mais, para solucionar problemas altamente complexos, para tentar ver mais longe, e nunca por prémios ou recompensas. No entanto, qualquer reconhecimento, sobretudo por parte da sociedade em geral, é extremamente gratificante”,
Investigação em Portugal compete com o melhor que se faz na Europa e no Mundo
Como analisa a actividade de investigação em Portugal nos dias de hoje?- perguntámos.
“Em algumas áreas, a actividade de investigação em Portugal compete com o melhor que se faz na Europa e no Mundo. Não há razão nenhuma para que assim não seja: há dinheiro, condições-base, e estudantes capazes de fazer descobertas fantásticas. Sobretudo quando é feita num ambiente internacional, multi-cultural e diverso. O problema principal é que em muitas áreas e locais a “endogamia” e a vontade de se nivelar “por baixo” atinge níveis extremos e leva a problemas em muitos níveis. Falta essencialmente coragem e diversidade/capacidade de ver soluções alternativas e de resolver problemas - e isso nunca pode ser feito por pessoas que passaram toda a sua carreira no mesmo sítio, rodeadas das mesmas pessoas.”
Concursos para contratar os melhores
“Para mim é óbvio que se tem que fazer uma reforma profunda do sistema Universitário, para o tornar atrativo internacionalmente, minimamente diverso, e capaz de gerir verbas de forma responsável para se poder voltar a fundir o sistema de “investigação” com o Universitário sem que o Universitário seja um gigante buraco negro que absorve todo o dinheiro (sem gerar conhecimento). É preciso dar-se menos aulas no sistema universitário português, reduzir a carga horária (de alunos e professores!), e dar-se mais importância à investigação (não apenas ao dizer-se que se faz investigação) e à prática. E é preciso que pelo menos uma vez, de vez em quando, se abram concursos que são mesmo concursos para contratar os melhores (um conceito estranho no sistema Universitário Português), e não contratar a pessoa que está há mais tempo numa lista de espera que não tem nada que ver com qualidade ou produtividade…”, salienta David Sobral.
Capacidade de motivar e por acreditarem sempre em nós
“Gostava imenso de frisar o papel fulcral que as professoras e professores das escolas públicas do Barreiro, que tive a sorte de frequentar (Quinta da Lomba, Santo André e Alfredo da Silva) tiveram no meu percurso. Não só pelo que ensinaram e pela paciência, mas também pela capacidade de motivar e por acreditarem sempre em nós. Caso tivesse sido confrontado com situações que encontrei na Universidade (em que pensar pela própria cabeça, e chegar a solução correcta, era penalizado, enquanto que quem copiasse palavra por palavra tinha nota máxima…) teria sido completamente destruído - eu e tantas e tantos mais”, refere o Rosto do Ano 2015..
Perceber o valor que a escola pública em Portugal tem internacionalmente
“Só conhecendo outros sistemas e outras culturas podemos perceber o valor que a escola pública em Portugal tem internacionalmente (e o quão Excelente é): um país em que as condições económicas e sociais contam muito menos para o sucesso do que em países ultra-desiguais como os Estados Unidos da América (em que o que importa é apenas o dinheiro). Devíamos valorizar muito, muito mais a qualidade imensa dos recursos humanos do ensino público e a sorte que pelo menos a minha geração teve, de podermos ser tão livres quanto a nossa vontade de chegar mais longe, de uma forma que não é apenas uma função directa da conta bancária dos nossos pais”, sublinha David Sobral..
09.12.2016 - 00:22
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