entrevista
Joaquim Brás de Oliveira do Barreiro para Bruxelas
Pastelarias Forcado em Bruxelas – o sabor diário da pastelaria portuguesa tradicional

Joaquim Brás de Oliveira, fundou em Bruxelas o Restaurante «O Forcado», que deixou para trás já lá vão 18 anos. Mas, o bichinho da criatividade gastronómica estava vivo e mudou de rumo, passando para o mundo da pastelaria, hoje, tem duas pastelarias de referência e excelência em Bruxelas – Pastelarias Forcado.
Joaquim Brás de Oliveira, natural do Lavradio, onde nasceu a 3 de fevereiro, no ano de 1952. Foi nas ruas e nas salinas do Lavradio que brincou e cresceu, filho de Joaquim Oliveira, ferroviário, homem lutador, uma referência da luta antifascista, militante do PCP – “o meu pai era um homem bom”.
Campeão Nacional e record nacional dos 600 metros
Joaquim Brás Oliveira, frequentou após concluir a Escola Primária, começou a sua actividade profissional, aos 14 anos era trabalhador da empresa Grandela, em Lisboa.
Abraçou a prática do atletismo, nos tempos dos Jogos Juvenis do Barreiro, sendo seu treinador José Picoito, foi atleta do Grupo Desportivo da CUF, posteriormente vestiu as cores do Sporting Clube de Portugal – “eu treinava com o Carlos Lopes, ainda ele estava a começar”.
Foi Campeão Nacional. Na época obteve o record nacional dos 600 metros. Tendo sido selecionado para o encontro ibérico Lisboa – Madrid, no Estádio Nacional.
Ganhamos as eleições no Barreiro
Joaquim Brás de Oliveira, na nossa conversa refere que mantinha uma intensa vida social, recordando os dias, nas eleições no ano de 1969, que se envolveu na acção politica, com seu primo Adriano Oliveira, como activista do MDP/CDE – “ganhamos as eleições no Barreiro”.
Joaquim fala das suas memórias, os dias de luta pela democracia, refere a fuga do seu primo Adriano para a Bélgica, recusando-se participar na guerra colonial.
“O Adriano enviou-me um postal dizendo: o primo está em Bruxelas. Se quiseres vem para cá, e, quinze dias depois arranquei para a Bélgica”, recorda.
“Uma ida a salto”, atravessando a fronteira na zona da Guarda, de mochila às costa, numa aventura que muitos jovens portugueses – pelas terras de Espanha, percorrendo os Pirinéus – “dormimos num banco nas ruas de Paris, até que ficámos na casa do Luís Carraça, que nunca mais o vi, e, gostava de me encontrar com ele para lhe agradecer”.
Comecei por estar a retirar os pratos das mesas
Em Setembro de 1971, Joaquim Brás de Oliveira, chegou a Bruxelas, cidade que acabou por adoptar como a sua terra, onde construiu a sua vida e família.
Em Novembro, desse mesmo ano, começou a sua actividade profissional na área da hotelaria, a trabalhar no Western Stak House – “ a especialidade era entrecosto de vaca grelhado ou assado no forno, com batatas fritas, ou batatas no forno, naquele tempo não havia hamburguer’s, nem nada disso. Era um self servisse. Comecei por estar a retirar os pratos das mesas. Depois passei para o bar, e passei a fazer os bifes”, comenta.
Eu não tenho curso nenhum, sou um autodidacta
“Eu sempre tive o sonho de abrir um restaurante. Comecei a estudar, comprei muitos livros em segunda mão, para conhecer a gastronomia. Eu não tenho curso nenhum, sou um autodidacta”, recorda.
No ano de 1981, conheceu aquela que seria a sua futura esposa, que lhe deu todo o apoio – “alugamos o espaço, onde nasceu o Restaurante «O Forcado»”. Recorda que foram tempos de luta e difíceis, principalmente durante os dois primeiros anos.
“Em 1985, foram lá comer quatro jornalistas. A minha grande especialidade era santola recheada, que eu chamava o «caviar dos portugueses». Eles comeram. Adoraram, ficaram maravilhados. Quinze dias depois, num dos jornais, apareceu um artigo com o título «Caviar dos portugueses». A partir daí, nesse mesmo dia à noite, o telefone não parou de tocar. Nesse dia recusei mais de 100 pessoas. Queriam todos o caviar português, e eu não tinha. Foi assim que se fez a casa. Depois os jornalistas interessaram-se, dei muitas entrevistas a jornais e televisão.”
Um livro que conta as memórias de um lavradiense em Bruxelas
«A cozinha do Joaquim», foi um livro editado, em Bruxelas, por iniciativa do meu filho, com a colaboração de um jornalista gastronómico. É um livro com 50 receitas – “são receitas minhas, sempre fui muito criativo”.
“É um livro que também conta as memórias de um lavradiense em Bruxelas.”, sublinha.
Joaquim Brás de Oliveira, deixou para trás o Restaurante «O Forcado», já lá vão 18 anos. Mas, o bichinho da criatividade gastronómica estava vivo e mudou de rumo, passando para o mundo da pastelaria, hoje, tem duas pastelarias de referência e excelência em Bruxelas – Pastelarias Forcado.
Criei há volta de 15 receitas diferentes de pastelaria
E, neste novo ramo, não abdica da criatividade – “criei há volta de 15 receitas diferentes de pastelaria. Revisitei uma receita do século XIX, de Rosa Araújo, um homem que foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que tinha uma confeitaria na Rua dos Douradores, ele criou os “cócós do Rosa Araújo”, feito com toucinho, canela, amêndoa e maçã. Fiz a receita original, que encontrei num jornal velho, com um homem de barbas muito grandes, com o título – “Os cócós do Rosa Araújo”. Fiquei entusiasmado e vi como era interessante aquela receita. Fiz a mesma coisa, com 16 folhas, como se fosse um hamburguerzinho. Teve imenso sucesso.”
Faço os verdadeiros pasteis de nata
Joaquim, fala das suas receitas com paixão, seus olhos brilham de entusiasmo, e, fala dos pasteis de nata – “os meus pasteis de nata”.
“Eu faço a receita de 1834, com massa folhada, ainda feita ao rolo e creme original. Faço os verdadeiros pasteis de nata, aqueles que são os antigos pasteis de nata. Faço-os todos os dias. Eu ainda não vi pasteis de nata em Portugal, aqui, vemos «pasteis de belém», com o nome genérico de «pasteis de nata». O pastel de nata é feito com nata, nata limão. O pastel de belém é feito com leite. O pastel de nata verdadeiro, eu faço-o.
Eu estou muito orgulhoso de ser o líder, na Bélgica, de pastelaria portuguesa. Nós fazemos todos dias pastelaria portuguesa tradicional, ou da minha criação, por consequência são portuguesas. Todos os três meses, fazemos pastelaria de edição limitada, saem quatro produtos e entram quatro novos. Faço 50 bolos diferentes.”
É sócio da SFAL e usa na lapela o emblema da velhinha
A nossa conversa com Joaquim foi deliciosa, apesar de estar há décadas a viver e trabalhar em Bruxelas, continua a manter o Lavradio no seu coração. É sócio da SFAL e usa na lapela, com orgulho, o emblema da velhinha lavradiense – “eles na Bélgica olham para o emblema com curiosidade”.
Recorda os dias da sua juventude na SFAL, o António João, o Fernandinho do Ti’Jerónimo, o Cuissa, o Dias – “no Carnaval eramos especialistas, um dia apresentei aqui um festival da canção. Eu e o Veríssimo, íamos buscar as cordas dos estendais, para fazermos as cabeleiras. Eu vestido com o fato do meu pai, era o Henrique Mendes. O Hernâni Corona, entrava, montado no pau de uma vassoura. Era o cavalo à solta, do Fernando Tordo. Era uma revista. Divertíamo-nos tanto”.
Recorda as noites do Capri. Os dias que guarda na memória. A sua terra que está no seu coração.
Hoje, em Bruxelas, é uma personalidade, uma referência na actividade económica na cidade. As «Pastelarias Forcado», onde, os sabores de Portugal tornam os dias mais doces e sempre com novidades e criatividade, têm a marca do Lavradio, do Barreiro e de Portugal.
António Sousa Pereira
09.02.2023 - 22:51
imprimir
PUB.
Pesquisar outras notícias no Google
A cópia, reprodução e redistribuição deste website para qualquer servidor que não seja o escolhido pelo seu propietário é expressamente proibida.
Fotografia e Textos: Jornal Rostos.
Copyright © 2002-2025 Todos os direitos reservados.