entrevista

SETÚBAL - Miguel Assis – Actor, encenador e dramaturgo
Dom Quixote de La Mancha – “vê o mundo como pelos olhos de uma criança”

SETÚBAL - Miguel Assis – Actor, encenador e dramaturgo<br>
Dom Quixote de La Mancha – “vê o mundo como pelos olhos de uma criança” . Participação do Coral Luísa Todi uma profícua troca de experiências e uma parceria a repetir.

Dom Quixote de La Mancha, a 44ª produção da GATEM – Espelho Mágico, a estrear no dia 24 (sexta-feira), pelas 21H, no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, e com matiné agendada no mesmo local, para o dia 25 (sábado), pelas 17H, do corrente mês de Janeiro.

Dom Quixote de La Mancha, tem texto e encenação de Miguel Assis, músicas de António Carlos Coimbra, cenografia e guarda-roupa de Céu Campos, colaboração do Coral Luísa Todi, e promete levar ao palco um tratado de irreverência, criatividade e utopia.

Em declarações ao jornal “Rostos”, Miguel Assis – Actor, fala-nos do seu encontro com Cervantes, a peça, da actualidade de D. Quixote e Sancho Pança, da vida e dos valores que o movem pela construção de um mundo melhor.

Texto que cruza o humor com a poesia

Para muitos analistas Miguel de Cervantes é um génio. O Miguel Assis faz parte desse coro com história?
«Miguel de Cervantes tem uma vasta obra, desde textos de teatro a romances, passando por estilos diversificados, como a novela ou a poesia. D. Quixote de La Mancha é a sua obra-prima e é, por muitos, considerado o primeiro romance moderno. Pessoalmente, encanta-me a carpintaria do texto, que cruza o humor com a poesia, num casamento tão perfeito que me parece, só possível se saído das mãos de um verdadeiro génio da literatura. A sua obra em geral é tão significativa que o castelhano, sua língua nativa, é muitas vezes apelidado de "língua de Cervantes "»

Um excelente programa para toda a família

É uma peça para toda a família. Isso quer dizer que o prazer lúdico da diversão marca o compasso artístico da proposta?
«Na verdade, ao reler a obra, para fazer esta adaptação teatral, deparei-me, além da beleza das palavras, com o humor presente em cada passo, em cada capítulo, em cada folha. E foi o que tentei fazer: pautar o espectáculo de beleza e diversão. É, de facto, um musical que considero muito completo, pois tem comédia, romance, aventura, poesia e drama. Um excelente programa para toda a família.»

Procura e defesa de um mundo melhor

Vivemos um tempo global de grande convergência entre notícias verdadeiras e falsas. Neste espectáculo, a ilusão e a realidade também surgem de forma enredada?
“O Real e o imaginário estão, no universo de Cervantes, perfeitamente balizados entre a vida e o sonho. Ao contrário da época em que vivemos de fake news, de contradições e desmentidos, em D. Quixote de La Mancha, os seus delírios são aspirações e servem muitas vezes, como exemplos de altruísmo, na procura e na defesa de um mundo melhor.”

D. Quixote vê o mundo como pelos olhos de uma criança

Sem que o cavaleiro errante perca a figura de defensor da justiça, e inimigo da tirania e do opressor?
“D. Quixote é um aventureiro, mas é, sobretudo um apaixonado e é nessa condição que age. Apaixonado pela vida, apaixonado pela aventura, pela literatura, pelo seu povo, apaixonado pelo amor. Como é dito na peça "a sua loucura, não o é, pois D. Quixote vê o mundo como pelos olhos de uma criança."

Sancho há nele o humor dos simplórios

E o mundo de Sancho Pança, vale o quê? A folia do poder?
“Sancho representa o mundano. A vida real, cordata, conformada, que se contenta com o que se lhe é apresentado. Há nele o humor dos simplórios, da pequenez dos que não questionam, que se calam e que consentem. Ironicamente, representa o povo mais oprimido e mais satisfeito com a sua própria condição.”

Mundo um moinho que gira e gira sem parar

Curiosamente, a acção dos Moinhos de vento tenta conduzir o público para a metáfora da loucura?
“Na obra sim. Neste espectáculo, não apenas. Quis transformar esse símbolo da loucura, num símbolo de vida. Sem querer revelar muito, o mote do final do espectáculo é exactamente o mundo como um moinho, que gira e gira sem parar.

Um espectáculo deve sempre ser olhado de diferentes prismas

No universo fantástico do teatro, o público tem a possibilidade de escolher significados?
“Claro. Deve, aliás. Um espectáculo, uma pintura, um poema, deve sempre ser passível de ser olhado de diferentes prismas, dos quais resultam, inevitavelmente, diferentes ilações. Essa é a magia da arte, cujos contornos, independentemente dos definidos pelo criador, são mutáveis, aos olhos de quem os contempla."

Este espectáculo é um hino à esperança

Dom Quixote de La Mancha é a história de um homem que luta por uma vida mais bonita do que a vida como ela é. Esta emoção, foi alimento para o ser humano Miguel Assis, na hora da adaptação?
“Este espectáculo foi pensado e escrito num momento particularmente difícil da minha vida. Talvez o humor que nele encerra tenha sido uma espécie de contraponto, ou de fuga, do momento pessoal que vivi. Escrevi e encenei este D. Quixote durante a fase terminal de vida da minha querida mãe, a quem o dedico, e há nele uma inevitável declaração de amor. É um hino à vida, um grito de esperança, um abraço de amparo, um riso de luz.”

Coral Luísa Todi uma profícua troca de experiências e uma parceria a repetir.

A colaboração do Coral Luísa Todi adiciona mais um desafio artístico ao factor normalidade?
“A colaboração do Coral Luísa Todi é um desafio, pois é a primeira vez que acrescentamos ao elenco habitual, no entanto tenho a certeza que será um factor que irá enriquecer o espectáculo e diferenciá-lo de todos os feitos anteriormente. O coral é muito bem-vindo, naquela que, como espero, se torne numa profícua troca de experiências e numa parceria a repetir.

GATEM - Espelho Mágico tem crescido muito

Na linha das produções mais recentes da GATEM – Espelho Mágico, é certo e sabido que a presente vai percorrer uma boa parte dos palcos da nação. É uma realização muito grande?
“Com certeza. A GATEM - Espelho Mágico tem crescido muito. E a prova disso é o país. Com a Companhia tive já oportunidade de percorrer palcos emblemáticos e salas inesquecíveis, desde os palcos mais humildes dum Portugal profundo, aos enormes Coliseus e Altices. É um orgulho e um prazer que resulta de muito e sério trabalho."

Que nota final gostava de aqui registar?
“Como mensagem final resta-me convidar todos a receber de braços abertos este D. Quixote, envolverem-se no seu abraço e deixarem-se salvar por ele, como ele me salvou. Sejam muito bem-vindos ao Teatro. O espectáculo é todo vosso. E, naturalmente, agradecer ao jornal Rostos esta conversa que permite dar a conhecer o nosso trabalho.”

C.C.

16.01.2025 - 19:34

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