entrevista
Passa pelo Barreiro centenário das Palavras Cruzadas em Portugal
Ler é bom, ler e fazer palavras cruzadas é ainda melhor.
- afirma Paulo Freixinho

“As palavras cruzadas chegaram às escolas de um modo oficial. Já não estou sozinho nesta demanda. Estou a viver um sonho tornado real.”, sublinha Paulo Freixinho, numa entrevista ao jornal Rostos.
Paulo Freixinho nasceu em Lisboa, em 1968. Pouco tempo depois, foi viver para o Barreiro onde se dedicou ao artesanato, pintura e música. Começou por ser desenhador gráfico.
Em 1990, encantou-se pelas palavras e tornou-se autor de Palavras Cruzadas (cruciverbalista). Publica em vários jornais e revistas (Público, Selecções, entre outros) e está muito presente no espaço cibernético (site, blogues, YouTube e Redes Sociais).
É autor dos livros “Palavras Cruzadas com Literatura” (Quetzal, 2011), “Sabe Mais k(que) os teus Pais” (Babel/Verbo, 2015), “Palavras Cruzadas 2015-2020” (edição de “autor”, 2021) e “100 Sem Repetir” (edição de “autor”, 2022).
Recorde-se que Paulo Freixinho recebeu a distinção «Rosto do Ano 2024», na área da Educação.
Centenário em Portugal - a data foi lançada por mim
Este ano celebra-se o centenário da publicação das primeiras palavras cruzadas surgidas em Portugal 3 de junho de 1925.
A propósito deste centenário, perguntámos ao barreirense do coração, o homem das palavras cruzadas, Paulo Freixinho. Qual significado que atribui à celebração deste centenário?
“Em primeiro, gostava de deixar um enquadramento histórico. Em 2013 celebrou-se o Centenário das primeiras palavras cruzadas publicadas num jornal, mais concretamente, no jornal norte-americano New York World, da autoria de Arthur Wynne, publicadas a 21 de dezembro de 1913.
Por sinal, essa efeméride foi assinalada com um mural pintado no Bairro 6, no Barreiro, numa iniciativa do Dia B (ainda restam marcas desse mural).
Desde então, procurei saber em que ano teriam as palavras cruzadas aparecido em Portugal. Através das redes sociais, informaram-me de que as primeiras palavras cruzadas surgidas em Portugal teriam sido publicadas num jornal desportivo portuense com o curioso nome de “Sporting”, a 3 de junho de 1925, doze anos depois de terem aparecido no mundo. Pesquisei e penso que poderei confirmar essa informação, dado que encontrei umas palavras cruzadas publicadas em “O Domingo Ilustrado” (21 de junho de 1925), com um curioso texto de apresentação (na grafia original): “Está a assumir lá fóra ‘todas’ as características de um verdadeiro acontecimento este simples passatempo que hoje inauguramos, em português para os nossos leitores.
Em Inglaterra, esgotam-se sucessivas edições de dicionários, em que os amadores vão procurar palavras convenientes; nos Estados Unidos, foi o jogo expressamente proibido aos maquinistas do caminho de ferro, pois provocou distrações que causaram dois descarrilamentos.”
A data foi lançada por mim. Aos poucos, os meios de comunicação vão referindo a efeméride. Que sejam muitos mais a fazê-lo é o que eu desejo. As palavras cruzadas merecem e não podemos esquecer de que ainda ajudam a vender muitos jornais em papel.
Para mim, esta data significa muito. É um privilégio estar a viver este momento. Dedico-me às palavras cruzadas desde o ano de 1990, comemoro este ano 36 anos de cruciverbalista e posso afirmar que as palavras cruzadas comemoram 100 anos em Portugal, mas rejuvenesceram ao estarem presentes nas escolas como nunca estiveram.”
No Concurso Nacional participaram mais de 4000 alunos
Como está a viver a adesão das escolas a estas celebrações? – perguntámos.
“Como já disse, as palavras cruzadas rejuvenesceram. Vou às escolas desde 2012 e deu logo para perceber que as palavras cruzadas eram muito bem aceites por alunos e professores.
No ano passado, com o apoio de professores bibliotecários de Douro, Tâmega e Sousa aconteceu o primeiro concurso de Palavras Cruzadas escolar, do 1.º Ciclo ao Secundário. Foi um sucesso.
Este ano houve uma evolução. Com o apoio da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE), o concurso passou de local a nacional (continental). Participaram mais de 4000 alunos, entre os quais, alunos do Agrupamento de Escolas de Álvaro Velho, do Barreiro e do Agrupamento de Escolas Sebastião da Gama, de Setúbal. A final acontecerá, em Cinfães, a 27 de maio.
Curiosamente, estão dois concursos de Palavras Cruzadas a decorrer em simultâneo. Antes deste concurso nacional, Palmela já havia iniciado o seu próprio concurso de Palavras Cruzadas, que terá duas finais, divididas pelos ciclos de ensino, em maio e junho.
Isto nunca tinha acontecido. O facto de estarmos no ano do Centenário, ajudou a impulsionar estes eventos.
Obviamente, o Concurso de Palavras Cruzadas irá continuar e no próximo ano poderemos chegar a um número de alunos participantes muito especial.
Poderemos dizer que, finalmente, as palavras cruzadas chegaram às escolas de um modo oficial. Já não estou sozinho nesta demanda. Estou a viver um sonho tornado real.”
«Xurdir» (fazer pela vida) é uma palavra mágica
Como um homem que fez da sua vida uma paixão pelas palavras cruzadas, como está a sentir no seu coração esta efeméride?
“O facto de ter partilhado essa paixão pelas palavras cruzadas fez com que mais pessoas olhassem para este jogo de palavras com outros olhos. Como já referi, estou a viver a concretização de algo há muito pensado e desejado. Tenho realizado alguns sonhos. Daí dizer que «xurdir» (fazer pela vida) é uma palavra mágica. Se temos agora esta efeméride, toca a celebrá-la!
Aliás, até há uma página no Facebook específica e tudo: https://www.facebook.com/CentenarioDasPalavrasCruzadasEmPortugal
Mostrem o vosso gosto pelas palavras cruzadas
Sente que a sua terra devia ter um papel especial neste centenário?
“Devia, claro. Nasci em Lisboa, mas sempre liguei o Barreiro às palavras cruzadas. Não tenho razões de queixa quanto ao Barreiro, a terra onde cresci e onde tenho conseguido concretizar muitas das minhas ideias.
Apesar de já muita coisa ter mudado em relação às palavras cruzadas, tenho a consciência de que esta data pouco diz à grande maioria das pessoas. Tenho uma ligação próxima com câmara, escolas, associações culturais e biblioteca, tenho propostas e ideias. Haja vontade e disponibilidade e alguma coisa acontecerá.
De qualquer forma, deixo uma sugestão aos barreirenses: Mostrem o vosso gosto pelas palavras cruzadas, partilhem esse gosto nas redes sociais, vão para os jardins fazer palavras cruzadas (até podem adquirir o meu livro, que eu não me importo: https://www.palavrascruzadas.pt/livros/100-sem-repetir).”
Ler é bom, ler e fazer palavras cruzadas é ainda melhor.
Que significado podem ter os clubes de palavras cruzadas na valorização da língua portuguesa?
“Significa muito. O primeiro Clube de Palavras Cruzadas (CPC), aconteceu numa escola do Barreiro, na Quinta Nova da Telha, e foi uma experiência que correu muito bem e que me levou a criar um Clube na Biblioteca Municipal do Barreiro, que existe há cinco anos e já criou uma espécie de família em torno das palavras, onde, por vezes, juntamos avós e netos. No CPC há uma partilha de palavras menos comuns, mas que enriquecem o nosso vocabulário, obviamente, valorizando a língua portuguesa. Para mais, no que ao meu trabalho diz respeito, há uma forte ligação entre as palavras cruzadas e os livros. Ler é bom, ler e fazer palavras cruzadas é ainda melhor. Todos ficamos mais ricos.”
António Sousa Pereira
TE – 180
Equiparado a Jornalista
15.04.2025 - 22:28
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