entrevista
Maria Luis de Albuquerque, PSD Setúbal
Primeira prioridade para o Distrito de Setúbal é a emergência social
“Eu acho que o Distrito de Setúbal vai ser determinante para o futuro do país, porque é determinante do ponto de vista político pela dimensão que tem, mas, é determinante para o desenvolvimento do País” – sublinhou ao Rostos, Maria Luis de Albuquerque, cabeça de lista do Partido Social Democrata, no decorrer de um almoço no Restaurante Emporio do Paladar.
“Num país que estamos a assistir a situações de miséria, onde há pessoas com fome. As nossas prioridades não passam pelos mega projectos” - sublinha.
Maria Luis de Albuquerque, nasceu em 16 de Setembro de 1967, em Braga, mas nunca viveu em Braga. Neste tempo seu pai era Comandante da GNR, em Guimarães.
Depois foi acompanhando as deslocações de seu pai, viveu em Fafe, em Queluz, onde frequentou o Ensino Primário, que foi completar em Moçambique, para onde foi viver com 9 anos, dado o seu pai ter ido trabalhar para a Barragem de Cabora Bassa.
Após completar o Ensino Preparatório regressou a Portugal, e, foi viver em casa de avós paternos, para Armamar, na região do Douro, do Distrito de Viseu.
No ano de 1982, com 15 anos, iniciou a sua vida na região de Lisboa.
Um espírito de ter uma grande abertura à mudança
Na nossa conversa comentámos se, devido a essa constante mudança de lugares, sentia a ausência de raízes – “Se calhar não tenho o mesmo sentimento de pertença que outras pessoas têm, porque têm os amigos de infância, eu os amigos que fui fazendo, fui perdendo, não tenho, verdadeiramente amigos de infância, e, talvez por isso, perdi algum desenraizamento, mas, por outro lado, também, na minha personalidade, fui criando um grande espírito de grande abertura à mudança. Gosto muito de coisas novas, de ideias novas”.
Sinto-me profundamente portuguesa
“O que marcou a minha juventude foi essa mudança, porque nunca me senti demasiado presa a lugar nenhum, mas, não sinto, necessariamente, falta de raízes, porque sinto-me profundamente portuguesa. A minha identidade é com Portugal. Sou um bocadinho do país todo.
Mas, se tiver que dizer qual considero ser a minha terra, eu diria que é a terra do meu pai – Armamar – onde estudei, onde tenho ainda raízes familiares. Se tiver que ter uma terra, honestamente, é essa, porque Braga, onde nasci, não me diz nada” - sublinha.
Moçambique marcou formação ideológica
Maria Luís Albuquerque, recorda que viveu em Moçambique num período muito difícil, logo a seguir à Revolução, entre 1976 e 1982, onde acompanhou um período de guerra da Rodésia, a ditadura da FRELIMO, e, o Movimento de resistência da RENAMO.
“Eu acho que, o que marcou a minha formação do ponto de vista ideológico, foi ter vivido esses anos da adolescência, muito na proximidade de uma Ditadura.” – sublinha.
“Eu sempre tive um espírito combativo, porque sempre me recusei a aceitar as regras, o cantar o hino, a adoração ao líder, aquilo que eram os tiques da ditadura. Essas foram situações que me marcaram, porque não aceitava que limitassem as liberdades individuais. Isso, na verdade, marcou muito a minha personalidade” – refere, acrescentando a sua formação Católica.
Actividade ao nível político é recente
Em Lisboa frequentou a Universidade Lusíada, onde concluiu a Licenciatura, em Economia. No ISEG concluiu o Mestrado em Economia Monetária e Financeira.
Iniciou a sua actividade profissional a leccionar, na Universidade.
Recorda que, enquanto estudante, não se envolveu em acções ao nível político, embora, tenha vivido uma experiência de integrar uma lista para a Associação Académica.
Refere que a sua actividade ao nível político é recente, embora, partilhe já há alguns anos a amizade com Pedro Passos Coelho, e, desde que se candidatou a líder do PSD – “expressei-lhe a minha disponibilidade para colaborar, dentro dosa meus conhecimentos técnicos, no âmbito da participação que considero importante que exista ao nível da sociedade civil”.
Mudar é sempre mudar para melhor
Maria Luís de Albuquerque, salienta que devido à sua vida profissional – “eu vi que estávamos num caminho que o desfecho inevitável seria este que estamos a viver”.
Refere que na sua actividade profissional é responsável pelas emissões nos mercados de divida pública, exerceu funções na REFER e exerceu funções de Assessora do Secretário de Estado das Finanças, além de ter exercido funções no Gabinete de Estudos do Ministério de Economia.
“Fiz muitas coisas diferentes, nestes meus 20 anos de carreira. Na minha vida profissional fui sempre pela mudança, porque uma mudança é sempre uma oportunidade. Mudar é sempre mudar para melhor, este é um conceito com o qual me sinto confortável porque apela à minha mobilização” - sublinha.
Era inevitável o caminho de Portugal
“No meu trabalho nestes últimos anos, com constantes idas a Bruxelas, iniciei uma rede de contactos com técnicos de outros países europeus, que permite a troca de experiências, permite conhecer a realidade de outros países.
Também o facto de desenvolver muitas acções para vender a divida pública, tudo isto deu-me uma percepção, mais cedo e mais clara, daquilo que seria inevitavelmente o caminho de Portugal - este que estamos a viver”
Envolver-me nas coisas de corpo inteiro
A cabeça de lista do PSD, pelo Distrito de Setúbal, é casada, tem três filhos. Ricardo, 10 anos. Alexandre e Francisco, com 8 anos, que são gémeos - "mãe duas vezes, mas três filhos" - sublinha com um grande sorrriso.
Filiou-se há dois anos no PSD, porque, sublinha – “A minha maneira de ser é envolver-me nas coisas de corpo inteiro. Sempre fui simpatizante do PSD. O meu pai foi militante do PSD, logo após o 25 de Abril. Sempre votei PSD. Mas, o meu envolvimento na política é muito recente, por isso, achei que devia ser militante”.
Um desafio muito motivador
“Pedro Passos Coelho lançou-me o desafio de ser cabeça de lista pelo Distrito de Setúbal. Este será o meu baptismo de fogo, para quem chega à vida politica.
Mas, digo-lhe, é um desafio muito motivador. Eu acho que o Distrito de Setúbal tem imensas potencialidades, é um Distrito muito rico do ponto de vista humano, rico até do ponto de vista de recursos e tem um potencial imenso por explorar.
Eu acho que o Distrito de Setúbal vai ser determinante para o futuro do país, porque é determinante do ponto de vista político pela dimensão que tem, mas, é determinante para o desenvolvimento do País” – sublinha Maria Luís de Albuquerque.
Distrito de Setúbal tem um potencial enorme
“O Distrito de Setúbal já passou grandes crises, já conheceu períodos de recessão económica profunda, é um distrito, onde, a maior parte das pessoas tem origem noutras partes do país, e, noutras partes do mundo incluindo as ex-colónias.
Talvez, até, por tudo isso, eu não tenho dificuldade nenhuma em sentir-me bem no Distrito de Setúbal, porque, como tenho raízes diversificadas, identifico-me bem com esta região e o carácter multifacetado do Distrito.
O Distrito de Setúbal tem um potencial enorme, importante para o país, porque quando o Distrito de Setúbal cresce, o país também cresce. O Distrito tem um efeito multiplicador sobre a economia do resto do país” - refere.
As nossas prioridades não passam pelos mega projectos
Perguntámos como interpreta o facto das medidas que vão impostas pela troika obrigarem a adiar as obras como a Terceira Travessia do Tejo, o novo aeroporto, importantes para o desenvolvimento do Distrito.
“Eu acho que se pode conseguir esse objectivo por outras vias.
Sabe, como sou da área de Economia, também sou muito pragmática. O país não tem dinheiro para essas obras. Não tem, e, não vai ter nos próximos anos.
Não se trata de ser contra essas obras, trata-se que o país tem recursos escassos, e, isso, vai ser assim, ainda, por um período prolongado.
Nós teremos que hierarquizar muito bem as nossas prioridades.
Num país que estamos a assistir a situações de miséria, onde há pessoas com fome. As nossas prioridades não passam pelos mega projectos” – sublinhou a cabeça de lista do PSD.
Promover o desenvolvimento regional
“Reconheço que há investimentos que criam potencial de desenvolvimento, mas, o país não tem neste momento forma de os comportar.
Temos que aproveitar melhor os recursos do país que podem potenciar a ligação do Distrito de Setúbal com Lisboa, os quais não passam, necessariamente, por existir uma terceira travessia, terá muito mais a ver com a coerência das politicas, com a forma como se promove o desenvolvimento regional, a forma como se dá apoio ao espírito empreendedor que o Distrito de Setúbal tem, nas suas colectividades, associações, IPSS’s, o espírito de criar comunidade e entre ajuda, por exemplo, as Adegas Cooperativas do Distrito projectam produtos de qualidade, no mundo inteiro. Isto é valor acrescentado para Portugal.
Acho, que todo este potencial pode ser aumentado, pode ser conseguido, e, portanto, tal, não depende de uma Terceira Travessia, nem depende do TGV.
Se essas infra-estruturas puderem ser construídas, nós não temos nada contra, mas, de momento não há condições”.
Primeira prioridade Programa de emergência social
“Para mim a primeira prioridade para o Distrito de Setúbal é um Programa de emergência social, porque uma coisa que temos que nos preocupar em manter é a coesão social.
O Distrito não é único, o resto do país sofre do mesmo mal, mas o Distrito tem mais de 90 mil casais, em que um dos membros do casal é desempregado. Há muitas dessas pessoas que já não têm sequer direito ao subsídio de desemprego, e, a nossa primeira preocupação tem que ser para garantir que essas pessoas tenham condições de vida dignas.
As Misericórdias e as IPSS’s já estão no terreno a acudir a essas situações, por essa razão, nós temos que canalizar recursos, ganhar sinergias, envolver entidades, em conjunto com a Segurança Social, trabalhando em rede, aproveitando o voluntariado, e, garantirmos a coesão social” – referiu Maria Luís de Albuquerque.
Setúbal precisa de criar riqueza e criar emprego
“Por outro lado, temos que pôr o Distrito a crescer, com o apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas, de forma a que tenham acesso ao crédito, porque aquilo que o Estado gastou através da empresas públicas ou das parcerias público-privadas, foram recursos que não ficaram disponíveis para as empresas, e, essas são aquelas que precisam de apoio, porque são elas que criam emprego.
O que Distrito de Setúbal precisa neste momento é criar riqueza e criar emprego.
Se nós conseguirmos crescer o resto vem, porque é com crescimento que podemos ter o Estado Social sustentável, com crescimento temos emprego, com crescimento temos coesão social, teremos menores problemas de segurança” - sublinhou.
Divida pública monstruosa
“O que nós temos que fazer é empenharmo-nos muito em aplicar as politicas certas.
O Estado tem que ser forte, tem que ser o regulador, mas, não tem que tirar espaço às áreas onde não deve estar.
O Estado deve garantir justiça, equidade, por isso, o Estado tem que emagrecer, tem que deixar de colocar no sector público aquilo que são os recursos do país.
Foi isso que aconteceu nos últimos anos, foi isso que gerou esta divida pública monstruosa, obrigando a sacrifícios, que não são justos, nem as pessoas podem suportar, como acontece com idosos que têm reformas de miséria”.
PSD e JSD são uns resistentes no Distrito
Maria Luís de Albuquerque teceu comentários sobre a gestão do território, sublinhando, que o planeamento foi feito com objectivos de procura de receitas – “sem olhar a critérios de funcionalidade e de integração social”.
A cabeça de lista do Distrito de Setúbal, que, como disse está a fazer o seu «baptismo de fogo» na actividade política, sublinha o apoio que tem recebido dos militantes do PSD e da JSD – “são uns resistentes num Distrito que não nos tem sido tradicionalmente muito favorável”.
São pessoas que não ambicionam a lugares
“São pessoas muito dedicadas, a maior parte delas são pessoas que não ambicionam a lugares, são pessoas que se entregam a uma causa” – sublinhou.
“Nos contactos com as pessoas na rua, encontro-as mais receptivas que eu esperava. Sinto-as muito revoltadas com o estado a que chegou o país. Sinto que há um desencanto nalguns, e, há outros que acreditam que é possível dar a volta, que acreditam que vale a pena lutar” - refere.
Eleger cinco ou seis deputados
“Os nossos objectivos eleitorais são fazer o melhor. Nós já elegemos sete deputados nos Distrito, nos tempos do Professor Cavaco Silva, hoje, gostaríamos de conseguir eleger cinco ou seis deputados.
O que sinto na rua, apesar das posições que assumem sobre os políticos acho que muitas pessoas irão votar no dia 5 de Junho, porque é importante fazer uma escolha, e, a principal escolha, neste momento é se as pessoas querem continuar com o desgoverno do Engenheiro Sócrates, ou se querem um caminho que dê perspectivas de futuro. Ficar como estamos não ficamos, ou pioramos, ou melhoramos” – salienta.
Fazer promessas que não têm condições de cumprir
“Um mensagem que gostava de deixar, é um alerta. O PS apresentou um programa eleitoral para o Distrito de Setúbal.
Uma página para o Distrito, o resto é mais ou menos o conjunto de generalidades, do Programa do PS para o país inteiro.
Confesso que me confundiu rever lá novamente, dizer que o TGV é uma prioridade, que a Terceira Travessia do Tejo é uma prioridade, o Hospital do Seixal é uma prioridade.
Não dizem de todo com pretendem financiar essas obras, essas prioridades, e, depois, não há nenhuma linha no programa ao nível nacional que se refira a esses projectos.
Estão a dizer às pessoas aquilo que acham que elas querem ouvir e novamente a fazer promessas que não têm quaisquer intenções de cumprir, nem condições de cumprir.
As pessoas que estejam informadas para puderem escolher bem, porque viver em democracia é votar informadamente”.
António Sousa Pereira
23.5.2011 - 18:39
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