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Arte Viva – Companhia de Teatro do Barreiro
«Leandro, Rei da Helíria» - conhecer a importância do sal da terra: amor!

Arte Viva – Companhia de Teatro do Barreiro<br>
«Leandro, Rei da Helíria» - conhecer a importância do sal da terra: amor! A nova peça da Arte Viva – Companhia de Teatro do Barreiro - «Leandro, Rei da Helíria» - com encenação de Jorge Cardoso, é, sem dúvida, uma peça onde o teatro é arte na sua plenitude – da interpretação dos actores à beleza dos figurinos, da originalidade musical ao equilíbrio da cenografia, tudo nascendo na força do texto, que motiva a pensar na vida, pois, é isso, “tiraram-me as palavras da boca”.

Uma peça divertida. Uma peça cheia de cor. Uma peça com intensidade e ritmo. Uma peça com musicalidade. Uma peça com originalidade. Uma peça a não perder, para quem gosta de teatro.

Uma peça que demonstra como o teatro é, na verdade, uma arte que se faz no palco, através de uma criatividade que une na diversidade. A equipa. É um trabalho de equipa.
Uma peça que demonstra como o papel do encenador é, afinal, ser o grande «maestro» que dá equilíbrio e dimensão estética ao conjunto das energias criativas que brotam do texto para o palco em arte viva.

Quando comecei a escrever este texto, parei a pensar, e, por aqui, vou escrevendo com indecisão sobre por onde hei-de começar, se, por iniciar com uma abordagem comentando a beleza dos figurinos, pela criatividade enriquecedora do trabalho de Graça Santa Clara, que, na verdade, é um trabalho que, por si só, ele mesmo, contribui para sentirmos a energia das personagens, dá força às personagens, e, na realidade, sentimos os personagens nascer e renascer. Sublime.

Ou, se, por outro lado, devo começar por sublinhar a harmonia dos momentos musicais, o ritmo, a sonoridade, a originalidade musical, com quadros que são um mergulho no teatro musical, misturando com grande beleza dança, canções e, vivendo, por dentro do diálogo entre as personagens. Miguel Félix está de parabéns.
E, naturalmente, sinto pulsar o calor humano dos personagens, essa acção em palco, que nasce no coração e na vivência dos actores. Representar é, diz, Stanislavski, espelhar a “sinceridade de emoções, dos sentimentos”, ora, foi isso, sem dúvida, que senti naqueles actores que prendiam meus olhos nos seus movimentos, nos seus diálogos que davam força às palavras, que me motivavam a sentir, até, os silêncios nas mudanças de cenário.

Rui Quintas – O rei Leandro – é um motor que arrasta consigo os restantes actores, sem secundarizar ninguém, dá-lhes espaço e, ele, cresce naquele conjunto com força da sua expressão corporal, da sua dicção pura, mantendo o personagem vivo central, com grande emoção e beleza. Gigante.
Mariana Sardinha – O Bobo – é fascinante, vive a personagem de corpo inteiro, as palavras fluem por dentro dos seus gestos, a sua presença em palco é sentida com autenticidade. Deliciosa.
Joana Pimpista – no papel de Amarílis; Adriana Lopes – no papel de Hortência; e Leonor Alberto – no papel de Violeta, todas elas são notáveis, actrizes perfeitas, nos gestos, nos olhares, na voz. O texto cresce nas suas interpretações. Lindas.
Alexandre Antunes - no papel de Felizardo, tem uma energia frenética, um personagem bem composto, na sua plasticidade, que, sem exageros, mantem-se de forma coerente, positiva e divertida. Hilariante.
Julien Ruzzi – no papel de Simplicio, tirou-me as palavras da boca, a sua interacção em palco é sempre oportuna, eficaz e sempre brilhante. Pureza.
Luis Nascimento, Rui Felix, Angela Farinha, Carolina Conduto, Joana Nunes e Manuela Félix, todo um elenco de cinco estrelas, com interpretações elegantes. Magnificos.

As coreografias de Andreia Martisns, proporcionam momentos de grande beleza, com energia, dando força dramática à peça e criando momentos com garra e movimento. Arte.
Uma palavra, igualmente, para Ricardo Guerreira, pela cenografia, aquele jogo de construção e reconstrução de espaços imaginários, de movimentos de biombos, criando atmosferas que motivam o espectador criar o ambiente e ser co-autor do cenário na sua interiorirdade. Simplicidade.

A encenação de Jorge Cardoso tem esse mérito de dar enquadramento, de juntar de forma harmoniosa e dar expressão artística, à diversidade criativa, dando sentido estético à dimensão ética e moral do texto. O encenador tem essa beleza criativa de colocar uma energia especifica na encenação que faz o texto renascer. A cereja em cima do bolo. Perfeição.
O encenador concretiza uma realização cénica de grande beleza estética, faz o texto nascer em arte.
O texto que é a dimensão ética e moral desta peça flui na encenação, numa intencionalidade que se sente contextualizada nos figurinos, nas interpretações, no musical, na ligação ao público. Significante e significado. Vivos.

No final da minha reflexão sobre esta peça, não posso deixar de sublinhar como a encenação, daquele reino, que nos faz mergulhar por um mundo que nasce no sonho, que se faz vida, que se faz poder, que se faz riso, que se faz lágrima, que se faz inveja, que se faz amor, que se faz dor, que se faz ambição, que se faz hipocrisia, que se faz falsidade – um jogo de espelhos – ali, está bem presente e simbolizado naquela “maca” que é “trono”, que é mesa, que é tudo o que nós quisermos – a vida real. A cidade.

E por fim, fico a pensar que a Violeta, simbolicamente, como cor do equilíbrio e da espiritualidade, é, na verdade, a energia que desperta na nossa consciência, alertando-nos para esse tempo que vivemos, nos dias de hoje, esse, de loucos que lideram os cegos…porque o que lhes falta é conhecer a importância do sal da terra: amor! Violeta semeia esse amor.

«Leandro, Rei da Helíria», com encenação de Jorge Cardoso, é mais uma página de teatro de grande qualidade, mais uma peça que vai ficar inscrita na nossa memória, porque está marcada por uma grande beleza estética, e, por que nasce num texto com uma grande força ética, essa energia, que é uma semente para ser pensada por diferentes gerações : uma peça para pais, filhos, avôs, netos.
Uma peça que vale a pena saborear.

António Sousa Pereira

LEANDRO, REI DA HELÍRIA
De Alice Vieira. Encenação Jorge Cardoso
ESTREOU a 13 Janeiro 2023 no Teatro Municipal do Barreiro


Autoria - Alice Vieira
Encenação - Jorge Cardoso

Personagens e Intérpretes
Leandro - Rui Quintas
Bobo - Mariana Sardinha/Carla Carreiro Mendes
Amarílis - Joana Pimpista
Hortênsia - Adriana Lopes
Violeta - Leonor Alberto
Felizardo - Alexandre Antunes/Jorge Cardoso
Simplício - Julien Ruzzi
Reginaldo - Luís Nascimento
Pastor - Rui Félix
Aias, Criadas e Outros - Ângela Farinha, Carolina Conduto, Joana Nunes e Manuela Félix

Cenografia - Ricardo Guerreiro
Música - Miguel Félix
Figurinos - Graça Santa Clara
Assistente Encenação - Catarina Santana
Movimento e Coreografias - Andreia Martins
Luminotecnia - João Oliveira Jr.
Operação Técnica - Maria Inês Santos e Miguel Félix
Cartaz e Programa - Rui Martins
Vídeo e Fotografia de Promoção do Espetáculo - Cláudio Ferreira
Produção Executiva - Catarina Santana
Apoio Cenográfico - António Santinho e Gonçalo Santinho
Apoio Geral - João Henrique Oliveira

90ª produção da ArteViva - Companhia de Teatro do Barreiro

Espectáculo dedicado à memória de Manuel Alpalhão e Eugénio Silva, dois nomes indissociáveis da história da Companhia de Teatro do Barreiro – Arte Viva.

Sessões às sextas e sábados, às 21h30
Reservas: 910 093 886 e/ou arteviva.reservas@gmail.com
Bilhetes à venda em BOL.PT

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18.01.2023 - 01:18

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