artes

Teatro Projéctor levou a cena «O Quadrado de F.»
Diálogo intenso entre a energia das palavras e os movimentos do corpo

Teatro Projéctor levou a cena «O Quadrado de F.»<br />
Diálogo intenso entre a energia das palavras e os movimentos do corpo No sábado, o Grupo de Teatro Projéctor levou a cena a sua 42ª produção, a peça «O Quadrado de F.», de Filipa Leal, com encenação de Abílio Apolinário.

Uma peça que nos prende às palavras, que nos motiva a desocultar conceitos, uma peça onde sentimos o diálogo que se estabelece entre os movimentos do corpo e a energia das palavras.

Quero começar por dar os parabéns pelo salto qualitativo que encontrei na sala de espectáculos do Teatro Projéctor, desde o dia que lá estive na sua inauguração.
O auditório melhorou fruto da dedicação, empenho, voluntariado, e, pelo muito amor ao teatro e à cultura da associação cultural Teatro Projéctor, que, na verdade, está apostada em transformar a antiga escola primária da Rua Professor Joaquim Vicente França, num espaço vivo de criatividade na vida da cidade do Barreiro.

Em julho de 2022, estreou naquele espaço cénico a 41ª produção do Teatro Projéctor - «De lá para aqui» - com textos de Gil Vicente e encenação de Abílio Apolinário, uma peça que contou com uma brilhante interpretação de Luciano Barata, que, em palco, arrancou do seu coração toda a energia que faz do actor um criador de emoções e de humanismo. Na altura, por diversos acasos, não escrevi sobre este trabalho, e, hoje, não quero iniciar estas notas sem este registo.
Aquela peça - «De lá para aqui» - proporcionou um Gil Vicente que veio ao encontro dos dias de hoje, dos temas da actualidade, num trabalho feito com a harmonia e beleza. Digo, foi um esplêndido pontapé de saída para a inauguração do Auditório de Teatro Projéctor. Uma peça que teve a brilhante encenação de Abílio apolinário. Uma peça que anunciava o recomeço de um novo ciclo de vida e de sonhos na arte de criar e dar vida ao espaço e ao tempo.
Feita esta nota de «mea culpa«, falemos então desta 42ª produção do Teatro Projéctor.

A peça «O Quadrado de F.», refere o programa, é o primeiro livro de teatro de Filipa Leal, que integra quatro peças diferentes e inéditas. São elas: “Morrer na Praia”, “A Cama de Gato”, “À Espera de Samuel” e “O Quadrado de F.”. A peça conta com a excelente interpretação de Anabela Pereira e Elsa Assunção.
O texto numa peça de teatro é a semente, que faz nascer em flor a criatividade do encenador, e, proporciona a quem interpreta usar a sua sensibilidade e através dela dar vida aos personagens e, assim, fazer nascer o fruto.
Na peça «O Quadrado de F.», o texto tem uma força avassaladora, é exigente, para o encenador, paras as actrizes e para o público. Esta é uma peça onde o texto é central, é um texto que se realiza em palco, que se faz teatro, que se faz arte, que se faz beleza, que se faz memória e que se faz vida.
Esta peça exige das duas actrizes que sintam o texto com o coração, que vivam por dentro do texto, que arranquem das entranhas as palavras, que façam o espectador sentir cada adjectivo, cada substantivo, cada conceito, dando vida às palavras.
Anabela Pereira e Elsa Assunção estão excelentes. São interpretações de qualidade, e, acredito, à medida que a peça for entrando nos ossos, as duas actrizes vão dar mais, muito mais, força e, paulatinamente, fazer as personagens saltar por dentro dos nervos. Está lá tudo, a perfeita dicção, a sobriedade da compreensão do texto, a emoção da sensibilidade nos rostos, o ritmo e o pulsar do corpo. Ambas vivem de forma viva as personagens que nascem nas palavras, que brotam puras no contexto cénico.
Há momentos na peça que apetecia dizer – parem – e, fixar o instante, fixar a beleza do quadro, fotografar, e sentir a energia da contraluz, do preto e branco das situações a nascer na criatividade da encenação. A peça tem um ritmo de preto e branco. A peça tem um ritmo de luz e sombras. A peça tem um ritmo de sons e silêncios.

Esta é uma peça que nasce por dentro do cérebro, viaja por dentro do cérebro – mente, a consciência, a alma – o que quiserem é uma peça que toca os neurónios, que beija o hipotálamo, que se move pelas cicatrizes da memória, que nos faz mergulhar na infância, que toca os silêncios dos tempos que todos vivemos, na procura do amor ou da amizade e de nós mesmos. Nós e os outros. Eu e Tu.

O texto é bem interpretado e nessa interpretação a energia das palavras dançam e dialogam com os movimentos corpo – o amor que para uns é sexo, o tocar, o beijar, o sentir o corpo e os lábios. Ou amor que é a espera do Príncipe encantado. O poeta. As metamorfoses kafkianas. O quadrado do círculo. As prisões da consciência ou de ausência de consciência. O comunicar, ou não.
Uma peça queque toca as paixões, as psicoses, as neuroses, que nos faz mergulhar até à porta da loucura. Uma peça da psicologia, ou da psiquiatria. Ou, talvez, apenas, uma peça que nos faz pensar e sentir a importância da comunicação, ou da ausência de comunicação, nas relações humanas.
Um peça que nos motiva revisitar a criança que temos dentro de nós, o silêncio, ou os nossos silêncios, esses recantos que nos empurram para a nossa interioridade, para o nosso eu, o nosso tu, ou o nosso nós. Uma peça que nos faz rir com a solidão, a loucura, e, viajar entre o absurdo e a ironia da vida.
Uma peça que nos faz sentir a beleza e a ternura de ter um ombro onde encostar o rosto e sentir o pulsar do coração. O lugar de ternura dos sonhos. O brilho dos olhos.
Uma peça com beleza plástica feita de simplicidade, quer da encenação, quer na musicalidade bethoviana, a luz, as sombras. Tudo faz sentido. Uma peça com duas actrizes brilhantes a encher o placo da palavra Mulher, actrizes que dão força ao texto, vivendo com ritmo, um ritmo que se faz num diálogo permanente entre a força das palavras e os movimentos do corpo.
O diálogo entre o psicológico e o físico, entre o corpo e a mente. O ser humano na sua plenitude.
Um espectáculo feito com autenticidade, vivido com autenticidade, num tempo marcado por clichés, vazios, e, tanta espuma que desfaz na penumbra dos dias.
António Sousa Pereira

A peça volta de novo a cena nos dias 11, 18 e 25 fevereiro, pelas 21h30, no Auditório Teatro Projéctor, na Rua Prof. Joaquim Vicente França, 103 ( antiga Escola Primária).

Ficha Técnica
Texto – Filipa Leal
Encenação – Abílio Apolinário
Actrizes : Anabela Pereira e Elsa Barata


Público-alvo: M/12
Ingresso: 5€

Venda de ingressos: No local ou através
dos tel. 93 641 04 29 / 91 987 19 10
+Info.: http://teatroprojector.wixsite.com/teatroprojector

Organização: Grupo de Teatro Projéctor
Apoio: Câmara Municipal do Barreiro

VER FOTOS

https://www.facebook.com/media/set/?set=a.614628527337632&type=3 />

06.02.2023 - 20:22

Imprimir   imprimir

PUB.

Pesquisar outras notícias no Google

Design: Rostos Design

Fotografia e Textos: Jornal Rostos.

Copyright © 2002-2024 Todos os direitos reservados.