bastidores
Intervenção de João Figueiredo na Assembleia Municipal da Moita
Celebrar Abril é defender os seus valores e referências para um Portugal desenvolvido
Recebemos e divulgamos o texto integral da intervenção do Deputado da Assembleia Municipal da Moita, João Figueiredo, feita em representação da CDU, na Sessão Solene de Comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, promovida pela Assembleia Municipal da Moita.
Intervenção 50 anos do 25 Abril
Sr. Presidente e restantes Membros da Assembleia Municipal da Moita
Sr. Presidente da Câmara Municipal e restantes Vereadores
Srs. Presidentes de Juntas de Freguesia e restantes autarcas
Sras e srs Munícipes
Permitam-me começar por saudar todos aqueles que tornaram possível, com o seu empenho e com a sua resistência, fazer mais uma vez um magnífico desfile da Liberdade no Concelho da Moita
Numa altura em que mais de 50% da população portuguesa já nasceu em Liberdade, permitam-me que comece esta intervenção citando José Cardoso Pires:
“A cidade apareceu ocupada e radiosa. Deparámos com colunas militares inundadas de sol; e o povo logo a seguir, muito povo, tanto que não nos cabia nos olhos”
E complementar com Manuel António Pina:
“De repente a alegria, um rio deslumbrado e aberto correndo directamente do coração para as ruas”
Foi a adesão imediata do povo que transformou o levantamento militar numa Revolução que, sempre com o envolvimento do povo, viria a mudar o país. Mas se esse glorioso dia vale por si próprio, e fará parte do património histórico e cultural de Portugal e do povo português para sempre, a realidade é que a Revolução de Abril é muito mais valiosa por tudo aquilo que acabou, e pelo muito que começou.
Mas a distância que cada vez mais nos separa de 1974 obriga-nos a tudo fazer para impedir que o 25 de Abril caia na pior das armadilhas que podem acontecer a uma qualquer data histórica: tornar-se apenas um feriado.
É por isso que para celebrar Abril é necessária “A emoção de haver povo” que referia Mário Castrim. E celebrar com o povo, é assinalar o seu sentido transformador e revolucionário, é impedir o rasurar da memória colectiva que o envolve, é afirmar o caminho que o tornou possível, é rejeitar as perversões e falsificações históricas, é denunciar a sua invocação quando o objectivo da invocação é o amputar o seu sentido mais profundo. Celebrar Abril é defender os seus valores e referências para um Portugal desenvolvido e soberano, que décadas de política de direita têm contrariado.
Se antes do 25 de Abril a ditadura tinha um rosto, um símbolo que personificava tanto o regime como a opressão que o caracterizava, hoje os tiranetes, sejam eles de vão de escada ou maiores que os maiores dos estados, ocultam-se à vista de todos, fazendo uso de uma frágil máscara que necessita de ser constantemente alimentada.
Atribui-se ao fotógrafo e sociólogo Lewis Hine a afirmação de que “as fotografias não mentem, mas os mentirosos fotografam”, e é por isso que a liberdade não sobrevive sem a inquietação, sem a interrogação constante sobre o nós e sobre a sociedade, sobre o papel de cada indivíduo, com toda as suas características e contradições, e sobre o modo como a sociedade permite a cada um o seu pleno desenvolvimento.
É cada vez mais fundamental revisitar a ideia de futuro que os Capitães de Abril projectaram no povo português, como símbolo da renovação da esperança e da motivação para agir sobre o nosso mundo, transformando-o.
É que, para nós, é imperativo que o desenvolvimento económico, o progresso científico e tecnológico fomentem o aprofundamento de uma democracia económica, social, política e cultural, assegurando ao povo a liberdade, igualdade, elevadas condições de vida, cultura, num ambiente ecologicamente equilibrado e um profundo respeito pelo ser humano.
Do dia 25 de Abril 1974 dizem que começou encoberto mas que terminou luminoso. De então para cá já passaram muitos invernos e muitas primaveras, mas estes objetivos continuam vivos.
Relembremos todos os dias a memória e o legado daqueles que souberam construir consensos e erigir a Constituição de Abril que consagrou o Poder Local Democrático, do qual hoje estamos aqui como seus representantes. Honremos o seu exemplo e a sua memória, não sobrepondo a vontade pessoal a consensos construídos entre todas as forças políticas representadas na Assembleia Municipal para celebrar os que antes de nós aqui estiveram.
Não querendo abusar das citações, deixem-me agora terminar citando um cineasta. António Pedro Vasconcelos deixou-nos em tom de aviso que “A democracia é uma flor de estufa”
Cuidemos então da nossa democracia todos os dias, com actos, com acções e não apenas com palavras à medida de cada circunstância, como se um cravo vermelho ao peito uma vez por ano mudasse a natureza de algo ou de alguém.
25 DE ABRIL SEMPRE!
FASCISMO NUNCA MAIS!
VIVA O CONCELHO DA MOITA
Os eleitos da CDU na Assembleia Municipal da Moita
A CDU não tem conhecimento de nenhuma deliberação dos órgãos autárquicos sobre uma homenagem hoje aos autarcas do poder local democrático. Pelo contrário, Existe um acordo com todas as forças políticas representadas na Assembleia Municipal para que essa justa homenagem ocorra nos 50 anos do Poder Local Democrático
O Poder Local Democrático, com os orgãos autárquicos eleitos livremente pela população
~
Mário Castrim: “ A emoção de haver povo”
Manuel António Pina: “Real, real e inteira era alegria; e esse sentimento novo e único de orgulho, como se o tempo e o lugar se tivessem, por algum vibrante milagre, tornados maiores. E como se, pela primeira vez, pertencêssemos a nós próprios.”
26.04.2024 - 17:50
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