bastidores
Bloco de Esquerda – Barreiro
Alfredo da Silva – bom patrão ou mau patrão?
O Bloco de Esquerda – Barreiro promoveu, o primeiro Colóquio de um ciclo subordinado ao tema: “100 anos de lutas - o outro lado da CUF”.
Nesta primeira iniciativa o tema foi: “1907-1943:Alfredo da Silva, a CUF e as lutas operárias”.
Politicas Assistencialistas e Populistas
Álvaro Arranja, historiador, abriu o debate, referindo diversos aspectos da personalidade de Alfredo da Silva, enquanto empresário e nas suas relações com os políticos.
Na sua intervenção salientou a atitude de Alfredo da Silva que, no ano de 1911, após uma greve, mandou encerrar as fábricas de Alcântara e só as reabriu – “após despedir todos os grevistas”.
Por outro lado recordou que no decorrer da ditadura de Sidónio Pais, que considerou “um ensaio geral do Salazarismo”, existiu uma “identidade entre Alfredo da Silva e Sidónio Pais”, porque ambos apostam em politicas “assistencialistas e populistas”.
Sublinhou o historiador que Alfredo da Silva foi membro do Senado de Sidónio Pais, que “era um Senado Corporativo”.
Ligação a súbditos germânicos
Álvaro Arranja, referiu que “os anos 20, em Portugal, são os de maior conflitualidade social e de grande luta politica”, sendo esta uma época que “o caminho para a ditadura” desenvolvia-se ao “afogar a organização operária”.
Recordou que, na época, o jornal “Vanguarda”, jornal republicano, referia-se a Alfredo da Silva como tendo “ligação a súbditos germânicos”.
Trabalhar na CUF é uma honra
Júlia Leitão de Barros, Historiadora, salientou que a imagem de Alfredo da Silva, foi sendo cultivada entre as ideias de patrão bom e patrão mau, procurando na sua intervenção explicitar – “o porquê da ambiguidade do bom e mau patrão”.
Referiu que Alfredo da Silva foi sempre olhado como o “patrão protector” e recordou que para muitos operários “trabalhar na CUF era algo de bom”, ou até mesmo, “trabalhar na CUF é uma honra”.
Salientou que a empresa desenvolveu um “sistema assistencialista privativo” numa época em que “não existia protecção social do Estado”, e, fundou em 1945 a Caixa de Previdência do Pessoal da CUF.
Referiu a historiadora a criação de estruturas como a Padaria, o talho, a cantina, o Bairro Operário e o Posto Médico, que eram exclusivos dos trabalhadores da CUF.
“O objectivo era prender o pessoal à Companhia” – foram palavras proferidas pelo próprio Alfredo da Silva, a propósito da implementação destas estruturas sociais.
Laços de dependência entre o operário e a empresa
Júlia Leitão de Barros, referiu que o “modelo paternalista” desenvolvido por Alfredo da Silva, estava em voga na Europa, visava promover o conceito de “família cufista” e que a grande empresa era uma “grande casa”.
Na sua opinião este modelo era “um investimento, com retorno”, criando “laços de dependência entre o operário e a empresa”, ao ponto de “interferir na educação e no lazer”, que se traduziu na criação da Liga Recreativa e no ano de 1937 do Grupo Desportivo da CUF.
Por outro lado recordou que “o recrutamento de pessoal” era concretizado entre “os familiares dos operários”.
Pacificar e atenuar as tensões sociais
Esta política empresarial seguida por Alfredo da Silva, sublinhou a historiadora, “sempre tornou invisível que tinha como objectivo disciplinar politicamente os operários”, o “medo do potencial revolucionário” e visava “controlar, pacificar e atenuar as tensões sociais” e “medo do potencial revolucionário”.
Recordou que “Alfredo da Silva não reconhecia os Sindicatos como interlocutores válidos” e “tratava com prepotência os grevistas”.
“Alfredo da Silva era o patrão autoritário que não êxitava em despedir e denunciar à polícia politica” - salientou Júlia Leitão de Barros.
Barreiro símbolo da luta operária
Fernando Almeida, sociólogo, referiu as lutas operárias no Barreiro, “memórias dos nossos avós, que integram greves, repressão, prisões, despedimentos e dificuldades de subsistência”, as quais transformaram o “Barreiro símbolo da luta operária”.
Recordou as motivações da greves, por vezes marcadas por razões de solidariedade, greves que se estendiam por 11, 16 e 42 dias, sendo umas vitoriosas e outras derrotas.
Referiu que os Ferroviários realizaram uma greve que durou 70 dias com o objectivo de lutarem contra a “desmilitarização da empresa”, greve essa que envolveu, os cerca de 5700 ferroviários, liderados por Miguel Correia.
Fernando Almeida, evocou o célebre “Vagão Fantasma” – “um vagão aberto cheio de grevistas, colocado à frente, para evitar a sabotagem na via férrea”.
Na sua intervenção recordou os Ferroviários foram os que mais se destacaram nas lutas da I República e que o movimento operário era marcado por ideologias socialistas, anarco-sindiclaistas e comunistas.
A imagem do Barreiro Vermelho
João Madeira, historiador, começou por referir que a Revolução de 18 de Janeiro de 1934, marcou o “fim da hegemonia do anarco-sindicalismo no Barreiro e no país” e que operários do Barreiro, envolvidos nesta luta, foram inaugurar o Tarrafal.
Na sua cronologia de lutas operárias do Barreiro referiu que em 1918 – “o Barreiro é colocado e, estado de sítio devido á greve dos ferroviários”.
Sublinhou que a cultura operária era marcada por uma ideologia anarco-sindicalista e por uma “cultura anticlerical”, evocando o episódio do lançamento de “melancias sobre a procissão”, que levou a que, durante décadas, não se realizasse procissão no Barreiro.
João Madeira, recordou o episódio, no ano de 1935, de colocação da Bandeira Vermelha, na chaminé do Barreiro.
Referiu, igualmente, as greves de 1943, quando o “Barreiro foi ocupado militarmente”, os operários foram todos despedidos e readmitidos um a um nas empresas.
João Madeira, sublinhou que todos os factos que relatou contribuíram para afirmar a “imagem do Barreiro Vermelho”, mas, na sua opinião, essas lutas foram marcadas por um “arco-iris de lutas” que foram decisivas para promover “mudanças na vida e na história”.
Seguiu-se um período de debates, onde, as ideias centraram-se na discussão do “mito Alfredo da Silva”, com uma intervenção a defender de forma acérrima a figura do industrial, e, outras intervenções a reconhecer o simbolismo e como o culto a Alfredo da Silva marcou gerações.
8.7.2007 - 22:48
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