colunistas
O que nos torna humanos: somos o que somos
Por Vera Silva
Barreiro

Vivemos sempre numa dualidade do bom e do mau, do melhor e do pior, do feliz e do infeliz, mas o que é facto é que não conhecemos o frio sem ter conhecido o calor, nem a dor sem ter conhecido o bem-estar. É aí nesse ponto de equilíbrio que nos tornamos humanos. Ser humano é luz e sombra e isso completa-o. Ao aceitarmos o que somos, aceitamos que temos qualidades e defeitos, mas que são esses defeitos que nos tornam melhores e são essas qualidades que nos tornam humildes.
A humildade é aceitar o outro tal e qual ele é, mas também é aceitarmo-nos a nós com toda a nossa história de vida com curvas e retas. A felicidade plena não é só atingida nos bons momentos, resulta de uma mistura de momentos bons e menos bons. Somos o que somos, mas a delicadeza, o respeito, a tranquilidade torna-nos ainda mais humanos para com o próximo. Consideramo-nos o ser superior perante o restante da vida, mas o que é facto é que os outros animais agem por instinto e se nos foi concedida uma consciência talvez seja porque temos a responsabilidade de agir de forma diferente. Marcar a diferença resulta da nossa aceitação de que não somos superiores nem inferiores a qualquer vida.
Somos simplesmente seres conscientes de que o mal que provocamos no outro se reflete mais tarde ou mais cedo em nós. Jamais é uma punição, mas é a nossa consciência a ditar as regras do caminho que percorremos. Sermos cordiais para com o próximo é apenas sermos cordiais para connosco. Tudo isto parece mais do mesmo, o que é facto é que todos os dias assistimos, somos alvo e cometemos incongruências perante o que achamos que somos. O espelho reflete a nossa imagem apenas como a queremos ver, nada mais. Nunca vemos o que realmente somos. Experimentem ouvir a vossa voz numa gravação, acreditem que vão achar que não são vocês, porque não é assim que se veem.
É simples, quando a criança não articula bem as palavras, gravá-la a falar e mostrar-lhe pode ser uma forma de reconhecimento de como se expressa. Se isto é válido para as crianças também é válido para nós. Se nos escutássemos mais, provavelmente não seriamos tão bruscos, impulsivos como somos. Mas somos o que somos. Porque não mudar e deixar de parte este “Somos o que somos” como forma de desresponsabilização dos atos que cometemos diariamente. Seria expetável que quem educa a criança lhe transmitisse exemplos adequados, facto é que o ser humano é luz e sombra, bom e menos bom, tristeza e alegria… Até aos 7 anos de idade a criança absorve tudo o que lhe é transmitido e educa as suas emoções. Se a ensinarmos que “Somos o que somos” a criança entra numa aceitação de que tudo pode ser feito.
Acreditando que não há certos ou errados, num plano superior, o que ensinarmos à criança fica para o resto de uma vida. E a eternidade da nossa finitude pode ser longa. Em poucos ou muitos anos podemos causar muita mágoa ao outro e a nós mesmos. Quando trazemos uma criança ao mundo a nossa responsabilidade é imensa a nível de amor, educação, bens essenciais, jamais nos podemos desresponsabilizar disso. Somos seres humanos com uma consciência que deveria ser dotada de noções grandiosas para o que queremos para nós e para os que nos rodeiam. Existe uma dualidade de bom e menos bom, correto e menos correto, neste plano e se é aqui que estamos vamos fazer uso dessas capacidades que nos foram concedidas para tornar a vida mais fácil para todos (sem considerar aqui os bens materiais). Como seres humanos “Somos o que somos”, mas jamais deixemos que esta expressão se torne uma zona de conforto – podemos ser muito melhores.
Vera Silva
23.08.2023 - 23:28
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