colunistas

The Mamas and the Papas
Por Nuno Santa Clara
Barreiro

The Mamas and  the Papas<br />
Por Nuno Santa Clara<br />
Barreiro Na musicalmente fértil década de sessenta do século passado proliferaram as bandas musicais, umas ainda hoje lembradas, outras (poucas) ainda a mexer, muitas mais esquecidas.
Os nomes dessas bandas eram normalmente irreverentes ou provocatórios, tradição continuada mais tarde entre nós, como no caso dos G. N. R.

Dos nomes que nos ficaram na memória foi o dos The Mamas and the Papas, talvez mais pelo nome do que pelas músicas. E pelos trocadilhos que não faltaram à volta do nome da banda.

A fixação nos seios femininos atravessa todos os tempos e todas as civilizações, em esculturas e pinturas, em que o tema é tratado, normalmente associado à abundância, à maternidade e ao bem-estar. Por regra representados em formas generosas, mais próximas dos quadros de Rubens do que dos escanzelados modelos dos mesmos anos sessenta, ou de hoje.
A República é representada por uma mulher de barrete frígio, símbolo da liberdade nos tempos da Roma antiga, adoptada pela Revolução Francesa e representada um pouco por toda a parte, Mas também com um busto desnudado, clássico, abundante, na tradição acima referida.

O Presidente de todos os portugueses (e portuguesas), numa das suas digressões, ao topar com uma compatriota cujo trajar parecia inspirado na imagem que preside, solene, no hemiciclo da Assembleia da República, teve um comentário que foi de imediato objecto de muitas análises e críticas.
Até aqui, nada de anormal. Todas – mas todas! – as intervenções do Presidente são alvo de escrutínio, e analistas de renome debruçam-se sobre um adjectivo como Champollion sobre a pedra de Roseta, procurando significados ocultos.

Por exemplo, se Marcelo Rebelo de Sousa disser “vai chover”, haverá quem diga que extravasou competências, já que não pertence ao IPMA; que está a mandar recados à Ministra da Agricultura, ou ao da Energia; que está a apoiar os fabricantes de guarda-chuvas; e mesmo que foi indelicado, mandando alguém chover (coisa impossível de cumprir) e ainda por cima tratando-o por tu. E por aí fora.

Ora o Presidente, ao deparar com a tal imagem de inspiração greco-romana e clássica, mostrou o quanto se preocupa com a saúde dos portugueses (e portuguesas), sobretudo com a ressurgência da COVID-19 e a chegada da época das gripes sazonais, e invocou a possibilidade de uma constipação.
A tradição ainda é o que era, e lá veio a onda de comentários.
Curiosamente, numa República centenária, ninguém se lembrou do busto emblemático, justificador de todos os decotes.
And the papas?

Têm perfeitamente cabimento neste contexto. Já que se deixa para trás toda a discussão importante, face ao fait divers de um fino comentário, há que, mais uma vez, voltar à sabedoria popular, invocando um daqueles ditos lapidares:
Com papas e bolos se enganam os tolos!

Nuno Santa Clara



19.09.2023 - 19:33

Imprimir   imprimir

PUB.

Pesquisar outras notícias no Google

Design: Rostos Design

Fotografia e Textos: Jornal Rostos.

Copyright © 2002-2023 Todos os direitos reservados.