colunistas
A política do simples
Por João Naia da Silva
Barreiro
Quem me conhece sabe, naturalmente, que sou acérrimo fã destes pilares sociais. Ainda assim, e por outro lado, considero que em pleno século XXI, nem o deveria ser, porque os mesmos nem deveriam ser motivo para se ser fã. Deveriam antes ser um conjunto de características simples e obrigatoriamente inerentes de uma qualquer sociedade, a nível mundial. Precisamente por não serem, por haver em tantos locais do mundo países que não as defendem e principalmente por saber que não são nem nunca foram, até hoje, pilares cem porcento garantidos na nossa própria sociedade, considero que são características especiais e por isso é motivo para se ser admirador, defensor e lutador.
Pelos dias de hoje, janeiro de 2024, mediante o panorama político-social em que mergulhámos em finais do ano passado, temos assistido ao fervilhar das campanhas políticas, numa espécie de partida de alta competição, no mundo da política, para alcançar ou garantir pelos próximos, esperemos, 4 anos, lugares e posições na administração do nosso país. E assistimos também, como consequência natural deste fervilhar, ao levantar e acenar de diversos estandartes pelos inúmeros partidos políticos em competição, uns com mais força mediática, outros a tentar manter-se à tona, no turbilhão de vozes e gritos de guerra que têm sido estes últimos dias, e que mais se intensificarão nos próximos. Em todas as direções somos alvejados por chavões típicos destas alturas, que bem exprimidos se resumem a "Vamos garantir-vos (mais) saúde gratuita"; "Vamos oferecer-vos (melhores) condições de educação";
"Vamos dar-vos (mais) segurança". E eu olho para estes chavões, assimilo-os e reflito. Depois pergunto-me: Não irão vocês, personagens que gerirão o país, não fazer mais do que a vossa própria obrigação? Não estarão a levantar cartazes com promessas que deveriam ser, na verdade, obrigações inerentes aos cargos que vão ocupar?
Isto poderá ser, obviamente, um reflexo e uma resposta rápida e fácil, por parte dos atores e gestores políticos, ao constante medo que a população tem de, para além de perder tudo o que possa perder de direitos, perder até estes marcos simples, mas tão democráticos. Mas então, por outro lado, passaremos a ter uma política simplória e banal, onde as promessas de melhorias de nível de vida e de evolução favorável a nível económico e social, darão lugar a promessas falsamente heroicas de, na verdade, manter as condições mínimas e sofríveis para um país considerado democrático e evoluído. Isto torna a política em Portugal, à parte dos populismos, das utopias e das demagogias, uma política fácil e vulgar, onde bastará garantir as mais básicas e simples condições de vida para que se obtenha mais votos.
Acredito que em Portugal já nos conformámos e habituámos muito a este estilo de política, a política do simples. Já aceitámos que isto sejam bandeiras boas, conquistas que ambicionamos como se não se tratasse, de facto, de quase que um direito de uma sociedade justa, democrata e saudável, e pior, como se não se tratasse, de facto, de uma obrigação de quem governa. Assistimos a eleições em que votamos no partido que mais convincentemente nos disse que nos ia oferecer mais saúde gratuita, mais educação gratuita, mais segurança gratuita. E lá estamos nós, de caneta na mão, a votar nesse partido e convictamente a dizer para nós próprios “agora é que vai ser”.
Em Portugal, a política do simples é isto. Pode ser que um dia melhore. Esperemos bem que sim!
João Naia Silva
17.01.2024 - 14:20
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