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A mudança “estrutural” do logótipo
Por Carlos Alberto Correia
Barreiro

A mudança “estrutural” do logótipo<br />
Por Carlos Alberto Correia <br />
Barreiro O novo governo realizou o seu primeiro conselho de ministros. Isto é, passou da campanha à prática governativa. Nos tempos que correm, intra e extra muros, irá ser confrontado com situações difíceis a requererem intuição, conhecimento e capacidade criativa, para conseguir superar as dificuldades e perigos, mais que previsíveis, a assaltarem-nos de todos os lados.

Por isso estava expectante pelo anúncio de qualquer resultado ou medidas estruturantes a precaverem-nos quer das armadilhas que a geopolítica nos aporta, bem como dos muitos e graves desconcertos que por este País campeiam.

Pois bem, não fiquei desiludido!

Mostrando a fibra de que é feito entrou a fundo e, para mostrar a coragem e dinâmica criativa, atreveu-se ao alto, precioso e perigosíssimo ato, mas da maior prioridade, de alterar, de imediato, a estrutura do logótipo que encima cartas e outros documentos do Estado Português. Ora tomem lá! Pensava o governo socialista que brincava connosco? Tínhamos avisado que este seria um quase governo de salvação nacional, vindo para pôr termo ao regabofe das urgências, ao desespero dos professores, ao preço das casas para o pessoal, à insatisfação de polícias e forças armadas, ao aumento do rendimento médio nacional, à difícil situação da maioria dos reformados e, vá lá, ao desenvolvimento harmonioso, sem crescimento, antes pelo contrário, das desigualdades sociais. E, Voilá! O porta-voz do governo – desde já peço desculpa pela excessiva familiaridade do trato – naquele seu jeito suave e simpático “afinfa-nos” com a urgentíssima medida da alteração imediata do logótipo. Pensei cá para mim, temos governo.

Ainda não me passara a estupefação por tão extremo denodo quando, de modo absolutamente imprevisível acrescentou que seriam um governo humilde. Nem mais. Tão humilde como o miserável que agradece a espórtula posta no copo que apresenta ao passante. Por esta é que não esperava!

Perdoem-me se estou enganado, mas parece-me ser mais próprio do Poder a soberba que a humildade. Mesmo numa Democracia tinha a impressão que poder apontava para qualquer coisa que, legitimamente ou nem por isso, estava na posição (pouco humilde) de comandar, de ordenar, de fazer-se obedecer. Estava de certeza enganado. Está-se sempre a aprender e descobri agora, que o poder é humilde, o que de certo modo quererá dizer rasteiro, subjugado, sem ambições.

Foi aí que se fez Luz!

Ele tinha razão! O futuro governante mostrou a sua humildade quando, para a eleição do Presidente da Assembleia, não dialogou com nenhuma das outras forças políticas para garantir os votos necessários. Não foi por arrogância, nem por falta de experiência que, sendo minoritário – e humilde – lhe faltou a coragem para o diálogo, para negociar, enfim, para fazer aquilo que é suposto fazer-se numa assembleia representativa, onde ninguém tem a maioria necessária para obrigar todo a cumprir a sua poderosa vontade. Também encontrei carradas de razão e humildade na atuação do, agora Primeiro-ministro. Na tentativa de emular o suave Cavaco, não fala, guarda tabus, não percebe a necessidade de fazer pontes, dialogar para gerar consensos. Ele, humildemente decide e, na sua possante minoria, espera que os outros, mormente o Partido Socialista, venha, solícito, ajudá-lo a cumprir o programa do seu governo que, por risível acaso, é bastante afastado daquilo que este partido pretende. Mas, Montenegro, não pede. Espera, exige, que assim seja feito. Pensará ele que ao ganhar as eleições todos terão de vergar-se à sua soberana vontade? Que os restantes deixaram de ter projetos, opiniões e vontades? Que estranho tanta humildade!!

Eu bem sei, volto à eleição na Assembleia da República, que o indigitado Primeiro não só achou desnecessário negociar com alguém uma plataforma que permitisse a eleição como, em dolorosa angústia não só teve de recorrer ao PS, como, humilde como é, não ter nenhuma solução para o problema, tendo sido Pedro Nuno Santos a indicá-la para salvar a face do esmaecido burocrata a quem o Governo foi confiado. Ele gostou e, a partir daí, ao que parece, nasceu-lhe a abstrusa ideia de que o PS teria o “dever” de apoiá-lo em tudo quanto quisesse para o País, mesmo que isso contrariasse o programa do seu adversário, visto apenas como coadjuvante.

Pasmei, mas, posteriormente, admiti não haver nisto qualquer parte de presunção ou incompetência. Era apenas o resultado de uma perpétua, entranhada, estranha e humilíssima força, capaz de mudar estruturalmente o País.

Como ficou cabalmente demonstrado na corajosa e imprescindível alteração do logótipo!

Carlos Alberto Correia

03.04.2024 - 20:08

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