colunistas
Decidir
Por Nuno Santa Clara
Barreiro
Na verdade, existem variadas teorias sobre a tomada de decisão, coisa que faz as delícias dos professores das cadeiras de Gestão das Universidades, e similares. Bem como abundam os exemplos históricos das decisões acertadas, erradas, ou adiadas.
Um caso célebre é o da Batalha de Midway (4 – 7 de Junho de 1942). Enfrentaram-se a frota americana (3 porta aviões) e japonesa (4 porta aviões). A coisa estava a correr mal para os americanos, que perderam sucessivas vagas de aviões de ataque. À beira da vitória, ao Almirante Nagumo pôs-se uma questão: fazer novo ataque aos navios americanos, ou um ataque à base terrestre? Em vez de decidir, convocou uma conferência de Estado-Maior. Nesse intervalo, com os conveses dos porta aviões atafulhados de bombas, torpedos e bidões de gasolina, a última vaga americana atacou, sem possibilidade de defesa eficaz, e destruiu três dos porta aviões japoneses (mais tarde, o quarto). Em cinco minutos, o Japão perdeu a iniciativa estratégica – e, a médio o prazo, a guerra.
Por essas e outras se diz que mais vale decidir mal que não decidir...
Esta parábola militar (chamemos-lhe assim) pode ser extrapolada para outras áreas; no caso, o folhetim Joe Biden.
Se em política, o que parece, é, como dizia Bismarck, a escolha de Kamala Harris para candidata à Vice-Presidência só poderia significar que Biden se recandidataria, sem oposição interna. Por isso lhe deu tarefas secundárias e sem mediatismo. O papel dela era apaziguar a ala esquerda do Partido, e não fazer ondas.
Estavam fora de causa a competência e as qualidades de Kamala. Depois se veria, se fosse caso disso.
Mas o Mafarrico, ou a Divina Providência, ou ambos, resolveram de outro modo. E eis o Candidato auto escolhido, aclamado e incensado, tornado zombie, incapaz de um debate com o semi-analfabeto Donald Trump.
Decidir como? Com a máquina em roda livre, torna-se difícil alterar o processo. Carece sobretudo de humildade, e esse é um bem precioso, mais raro que as terras raras da China.
E assim se convocou o Estado-Maior, em sessão permanente, enquanto a frota ardia. E a decisão foi tomada, não em tempo oportuno, mas quando não havia mais nada a fazer.
Com se diz em termos navais, havia que remediar as avarias. Ressuscitou-se Kamala Harris, atribuíram-se-lhe virtudes até agora desconhecidas, desvalorizaram-se procedimentos eleitorais, projectou-se a sua imagem, e aí por diante.
Só que, para o público comum (aqueles poucos que ainda pensam antes de votar) fica um travo amargo de segunda escolha. Paciência...
Só que o anunciado candidato Vice-Presidência dos Republicanos, J. D. Vance, homem de acção e pensamento (precisamente por esta ordem) declarou logo que, não estando Biden capaz de se candidatar, também não está capaz de governar, o que tem toda a lógica. Um Presidente limitado à frente do maior Império actual é, realmente, preocupante.
A destituição de Biden traria à ribalta Kamala Harris, ou seja, dar-lhe-ia a visibilidade que não tem tido. Seria uma campanha eleitoral a baixo preço...
De modo que se pode voltar às comparações com a história militar: segundo um velho ditado, quem ganha as guerras não são os melhores, são os que cometem menos erros...
Nuno Santa Clara
24.07.2024 - 09:58
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