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Sinn Féin
Por Nuno Santa Clara
Barreiro

Sinn Féin<br />
Por Nuno Santa Clara <br />
Barreiro Quando a Irlanda obteve a independência do Reino Unido, em 1922 (com a separação de seis distritos do Norte, o chamado Ulster), após uma ocupação conturbada, marcada por episódios de violência, tinha pela frente a reconstrução de um país amputado e com divisões internas.

A liderança política vinha sido feita pelo Sinn Féin, fundado em 1905 por Arthur Griffith para unir os grupos informais de patriotas para uma resistência pacífica ao domínio britânico, com o objectivo de restaurar a monarquia irlandesa. Em gaélico Sinn Féin significa "Nós mesmos” ou “Nós Sozinhos”.

Como tudo na vida, o partido evoluiu muito, passando a pretender instalar uma república de pendor socialista, e a recorrer à luta armada. A sua postura era intransigente, concorrendo às eleições, mas recusando ocupar os lugares ganhos no Parlamento. A ponto de o seu líder histórico, Éamond de Valera (1882-1975), ter fundado em 1926 um novo partido, o Fianna Fáil.

A tradição isolacionista foi-se perdendo, muito por influência dos descendentes irlandeses no estrangeiro, principalmente nos EUA, onde o lobby irlandês é muito forte. Hoje, a Irlanda está da União Europeia e tem um peso político e económico considerável.
Esta reacção contra o antigo ocupante, e tendência para o isolacionismo, é recorrente. Para não falar nas independências das antigas colónias durante o século XX, recordemos o caso dos Estados Unidos da América.

A luta dos colonos, maioritariamente de origem britânica, contra a Inglaterra, teve vários apoios, formais ou informais, destacando-se o da França, com a presença de ilustres figuras como o conde de Rochambeau ou o marquês da La Fayette.
Finda a guerra, opunham-se os que olhavam a antiga potência colonizadora com ressentimento e desconfiança (coisa que ainda perdura em certos círculos) e os que sabiam ser a Inglaterra o seu maior parceiro comercial e o país com maiores laços culturais e afectivos. Venceu, naturalmente, a segunda tendência, pois sabemos bem que as aliança feitas por interesse raramente perduram.

E assim foi: entre 1798 e 1800 decorreu uma guerra não declarada entre a França e os EUA, no Mar da Caraíbas, travada quase só entre particulares, e que levou à criação da US Navy. Na América, ficou conhecido como Qasi-War (Quase Guerra). Não fora a contenção e a diplomacia, e poderia ter ocorrido uma guerra formal entre antigos aliados.
Com também aconteceu com os ingleses. Em consequência da Revolução Francesa e das guerras que se lhe seguiram, criou-se um clima de insegurança, pela actuação das marinhas e corsários da Inglaterra e da França contra a navegação, tentando impor os bloqueios navais e comerciais ao adversário, com prejuízo dos neutros, como os EUA.

A isto juntava-se, por um lado, o ressentimento inglês pela derrota na Guerra da Independência, e por outro, a expansão dos colonos americanos para Oeste, em confronto com o Canadá inglês. Estas causas principais levaram à guerra de 1812, pouco conhecida na Europa, mas que levou a Inglaterra a invadir os EUA, indo até Washington, inclusive incendiando a Casa Branca. O avanço britânico foi parado em Baltimore, em 1814, numa batalha celebrada por Francis Scott Key, que escreveu The Star-Spangled Banner, que se tornou o hino dos Estados Unidos. A guerra terminou em 1815, com um tratado segundo o qual que ambas as partes voltavam ao ponto de partida, sem ganhos ou cedências de território.

O Reino Unido continua muito ligado à Irlanda, e a ser o parceiro preferido dos EUA, por força da Geografia e dos laços culturais e económicos.
Constatação a ter em conta para os países recentemente independentes, ou mesmo para as autonomias conquistadas.

Se, por um lado, há que resistir ao saudosismo e/ou ao paternalismo, há que desconfiar dos excessos e das boas intenções. “Nós sozinhos” parece apelativo, mas falhou na Irlanda.
E estivemos “orgulhosamente sós”, e vejam ao que isso nos levou...

Nuno Santa Clara



31.08.2024 - 00:32

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