colunistas
“Nu, silêncio escrevo-te”: do silêncio viemos e para o silêncio vamos
Por Vera Silva
Barreirio
Um Ode ao silêncio onde sem linha cronológica ou soluções imediatas de vida encontrarão e questionarão o silêncio dentro de vós. Como o autor iniciou o seu prefácio com a seguinte expressão “A vida é o silêncio, o silêncio que respiras”, que nos faz pensar muito naquilo que a nossa vida é – silêncio que respiro ou ruído que deixo preencher-me? O silêncio é apenas silêncio, mas jamais o conhecemos por não nos permitirmos perceber as nossas emoções. O silêncio é livre, é onde ninguém jamais nos pode tocar, porque com o silêncio observamos, reconhecemos, percebemos o que o mundo nos transmite.
Patriota por natureza descreve o seu silêncio nas múltiplas belezas do nosso país que transformado em produtividade seríamos autónomos no nosso silêncio sem dependência do silêncio do outro.
O silêncio também é ajudar o próximo sem que a mão direita saiba o que a mão esquerda faz. Não precisamos das redes sociais para exibir esse ruído que é ajudar o outro sem exibicionismos e apenas ficar em silêncio e tranquilos connosco mesmos. Assim “a cidade fica silenciosa”, mas tranquila. O mundo necessita deste silêncio para entender que o que faz não precisa de aceitação de alguém. É Apenas silêncio. Porque “O mistério do corpo está no mistério de ser por dentro dos olhos!” os olhos são o espelho da alma como se costuma dizer e é nesse silêncio onde olhares se cruzam que mais depressa conhecemos o outro. São as chamadas emoções de fundo (A. Damásio, 2003) Vemos o que queremos e o que não queremos, mas não deixa de ser humano o ato de bondade que temos ao tentar compreender o porquê de tal atitude. E é nesse silêncio que ao nos apercebermos criamos um mundo melhor. Contribuímos com o que conseguimos para tornar a humanidade mais plena e menos ruidosa, mas a decisão está no outro se pretende ou não continuar a ser ruído social e nas nossas vidas.
“No princípio era o silêncio, o silêncio fez-se palavra e a palavra fez do homem peregrino do seu silêncio”. Se tivéssemos mantido o silêncio eterno do início do ventre da nossa mãe, comunicando apenas com o olhar e muito poucas palavras não seríamos peregrinos do nosso silêncio. Seríamos conhecedores, sábios até do que é ser silencioso perante os múltiplos desafios da vida. São esses mesmos que nos tornam naquilo que ao nascermos e ao longo do tempo vão reduzindo a nossa panóplia de palavras, tal Torre de Babel, onde ninguém se entende. Jamais jogamos ao jogo do silêncio, como quando queremos que as crianças se calem por uns momentos. O silêncio sente-se e isso sim deveria ser ensinado aos mais jovens. Por vezes mais vale ficar calado. Como a minha avó me ensinou e muito bem “o calado vence tudo”. Assim é o silêncio. Esta procura do Eu onde encontramos as maiores feridas da nossa vida e as enfrentamos cara a cara em silêncio completamente nus.
“O resiliente vive um dia todos os dias” e é isto que as nossas crianças precisam de aprender através da educação transmitida pelo exemplo. Ser resiliente jamais é baixar a cabeça, é erguer-se a cada queda e caminhar olhando em frente, em silêncio, mesmo que apedrejado. Qual cansaço da vida nos derruba, nunca. O cansaço é o corpo a gritar por descanso e todos precisam de descansar… em silêncio. É esta energia silenciosa no olhar que derruba o que for necessário para que a vida seja vida, justa e bela. Não há linha cronológica para o silêncio, ele existe, apenas por vezes nos esquecemos de que é o nosso melhor aliado para o dia a dia. Se a vida for um cais desembarcamos para a vida e desembarcamos para a continuar, silenciosamente numa aceitação do que é, do que foi e do há de ser. Viver no passado é depressão, viver no futuro é ansiedade. Então porque não viver o agora? Tão simples e tao repleto de pormenores que nos escapam com o ruído da vida.
Vivemos tempo onde se cultiva a indiferença”, mas é no meio do caos que a paz deve e pode ser encontrada. Meditando silenciosamente encontramos o nosso interior e o que esconde e não queremos encarar. Somos o que somos, sombra e luz, mas entre esses dois mundos podemos ser liberdade, “semeando palavras de amor”. Se o dia em que as portas lhe foram abertas ao silêncio com a meditação sou grata por esse momento, é essa transmissão de palavra calada que muda o que tem de ser mudado.
Aconselho vivamente a leitura deste livro porque como o autor refere “O mais belo da vida escreve-se com a palavra tranquilidade”.
Vera Silva
05.10.2024 - 18:31
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