colunistas
A minha colaboração que não é minha
Por Carlos Alberto Correia
Barreiro
Por isso, coloquei cinco questões nas quais tenho vindo a pensar com premência, e como forma de clara demonstração daquilo que me preocupa, em vez de partir a cabeça a consultar autores e elaborar um texto, pedi à Inteligência Artificial (IA), no caso o ChatGTP, que respondesse às minhas questões.
Para vossa análise, deixo abaixo a resposta recebida. Não modificando nada, nem na forma, nem no conteúdo. Publico o texto integralmente. Sublinho, porém que se não fosse o caso da resposta ser determinada pelo nível da pergunta, bem poderia, de imediato, ser afastado do quadro de colunistas do Rosto On-line e o Sousa Pereira, quando quisesse um artigo de fundo sobre qualquer assunto, teria somente de elaborar a pergunta conveniente e esperar o resultado. Este, que apresento, demorou poucos segundos a chegar-me.
As perguntas
Escreva um artigo para jornal, com cerca de duas páginas A4, sobre os seguintes temas:
1- Há desigualdade social, um pouco por todo o mundo, mas mormente em Portugal, além de grande, tem tendência para se agravar;
2- Como causas diretas desta tendência poderemos enunciar os efeitos da globalização, da robotização e automatização de postos de trabalho, dos efeitos cumulativos que a IA poderá vir a ter ne depreciação do valor do trabalho em profissões até aqui bem pagas, cumulando num empobrecimento generalizado e na concentração de capital num grupo cada vez menor, mais rico e poderoso;
3- Sabendo que o aumento acentuado da desigualdade poderá conduzir à aparição de conflitualidade social poderemos considerar que o mundo se aproxima de uma zona de conflito generalizado?
4- Com os mesmos pressupostos como poderemos obviar a esta distopia? Com um salário mínimo universal? Por substituição de tipos de trabalho? E esta substituição será suficiente para todos os desempregados por motivos tecnológicos?
5- Gostaria de uma conclusão apontando os prós e contras e, se possível com indicação de qual a situação mais provável de acontecer nos próximos anos.
As respostas
A desigualdade social e o futuro do trabalho em Portugal e no mundo: estaremos perto de uma distopia ou há soluções viáveis?
A desigualdade social tem sido, há décadas, uma preocupação constante entre líderes políticos, economistas e sociedade civil em geral. Na atualidade, porém, os sinais de agravamento desta disparidade são cada vez mais evidentes. Seja em países com maior tradição de igualdade, seja em Estados onde as diferenças económicas já eram substanciais, o fosso entre ricos e pobres continua a crescer, alimentado por um conjunto de transformações tecnológicas, económicas e sociais que estão a redesenhar o mercado de trabalho. Em Portugal, apesar dos indicadores macroeconómicos que apontam para melhoras pontuais nos últimos anos, a desigualdade permanece elevada e com tendência a agravar-se. Neste artigo, analisaremos as principais causas desta evolução, exploraremos possíveis consequências de um aumento acentuado da desigualdade e discutiremos algumas propostas para mitigar os seus efeitos nefastos, incluindo a possibilidade de um salário mínimo universal
1. O cenário de agravamento da desigualdade social
A desigualdade social é um fenómeno complexo, resultante de múltiplos fatores, entre os quais se incluem a concentração de riqueza, as dinâmicas do mercado de trabalho e as políticas públicas. Segundo relatórios recentes de organizações internacionais, apesar de alguns esforços políticos para a redução das assimetrias, a desigualdade global continua a crescer. No contexto português, o país apresenta melhorias em alguns indicadores de bem-estar, mas a distribuição da riqueza mantém-se extremamente assimétrica, especialmente quando comparada com outros países da União Europeia.
Paralelamente, há um agravamento das tensões sociais, pois a perceção de injustiça é um fator que contribui para a sensação de insegurança e insatisfação generalizada. Mesmo em países onde o Produto Interno Bruto (PIB) aumenta, a riqueza produzida nem sempre é repartida de forma equitativa. Esse desequilíbrio manifesta-se na dificuldade em aceder a serviços de saúde, educação de qualidade ou habitação condigna, o que reforça ciclos de pobreza e exclusão.
2. Efeitos da globalização, robotização e automação no mercado de trabalho
A globalização, ao promover a circulação de bens e capital, pode atuar como um catalisador tanto do crescimento económico como do aumento da desigualdade. A deslocalização de empresas para regiões de mão-de-obra mais barata e a erosão das fronteiras comerciais levam, muitas vezes, à perda de competitividade de determinadas indústrias locais e, consequentemente, à desvalorização salarial. Para além disso, a pressão para reduzir custos acentua-se na economia digital, em que o fator trabalho tem vindo a perder valor comparativamente ao capital financeiro e às tecnologias de automação.
Já a robotização e a automação de processos produtivos trazem consigo uma drástica transformação do mercado de trabalho. Tarefas repetitivas e cada vez mais complexas podem ser executadas por máquinas, substituindo assim o trabalho humano. Embora esta transformação seja benéfica para as empresas em termos de produtividade e lucro, gera também um efeito de desemprego estrutural em profissões antes bem remuneradas, que se vêm repentinamente obsoletas. A Inteligência Artificial (IA) surge como a face mais recente desta revolução, com a capacidade de automatizar até mesmo funções de análise ou criativas, consideradas até há pouco tempo como eminentemente humanas.
O problema torna-se ainda mais agudo quando se avalia a possibilidade de alguns setores de atividade praticamente desaparecerem, enquanto outros novos surgem, exigindo qualificações específicas. A questão é se o ritmo de formação dos trabalhadores conseguirá acompanhar a velocidade com que esses postos de trabalho emergem e desaparecem. Em Portugal, alguns setores tradicionais, como o têxtil ou a metalomecânica, têm sofrido pressões competitivas acentuadas, traduzindo-se em fecho de fábricas e aumento do desemprego local. Ao mesmo tempo, os postos de trabalho altamente especializados e ligados às novas tecnologias são insuficientes para absorver toda a mão-de-obra dispensada, muitas vezes por falta de qualificações adequadas ou por se localizarem em grandes centros urbanos, longe das áreas de desemprego mais afetadas.
3. Um mundo em risco de conflito generalizado?
A História mostra que grandes desigualdades económicas e sociais são terreno fértil para o surgimento de instabilidade e conflitos. Se a maioria das pessoas sente que o sistema não está a funcionar em seu benefício – ou, pior, que apenas uma elite muito restrita colhe as vantagens do crescimento – o risco de tensão social aumenta de forma acentuada. A extrema polarização política, a ascensão de discursos populistas e a exacerbação de movimentos extremistas são apenas alguns dos sintomas de um mundo em que a desigualdade tende a crescer e, potencialmente, a gerar convulsões sociais.
Com efeito, quando a esperança de mobilidade social desaparece e as oportunidades escasseiam para a classe média e baixa, o receio de exclusão e marginalização torna-se combustível para protestos, manifestações e até revoltas violentas. Basta recordar como certas crises económicas do passado (caso da Grande Depressão nos anos 30) impulsionaram o crescimento de ideologias radicais e conflitos em larga escala. Embora o contexto atual seja diferente, os indicadores de concentração de riqueza numa minoria cada vez mais poderosa, face a uma maioria cujo poder de compra e influência diminuem, podem apontar para uma “zona de perigo” de conflito generalizado.
4. Como obviar a uma distopia tecnológica?
Perante uma perspetiva em que a tecnologia, a inteligência artificial e a automação podem intensificar a desigualdade, algumas soluções têm sido debatidas na esfera académica, política e empresarial. Uma delas prende-se com a introdução de um salário mínimo universal ou de um Rendimento Básico Incondicional (RBI), que garantiria a todos os cidadãos uma quantia mínima para satisfazer necessidades básicas. A ideia é que, independentemente da sua situação laboral, cada pessoa receba um valor que cubra alimentação, habitação e outros custos essenciais, libertando-a do constante risco de pobreza extrema.
Os defensores do RBI argumentam que esta medida permitiria uma maior criatividade e liberdade, já que os cidadãos se sentiriam mais seguros para investir em formação, empreender ou enveredar por carreiras que, de outro modo, seriam consideradas arriscadas. Também serviria como uma espécie de “colchão” para quem perdesse o emprego devido à automação, amenizando o impacto económico pessoal e familiar.
No entanto, há questões e críticas levantadas a esta proposta. Os detratores do RBI temem que tal medida possa desincentivar o trabalho ou conduzir a um aumento descontrolado dos custos do Estado, levando potencialmente a uma subida de impostos e a pressões inflacionárias. Para além disso, colocar em prática este tipo de política exige uma reestruturação profunda dos sistemas de proteção social, o que levanta fortes dúvidas quanto à sua viabilidade a médio prazo.
Outra forma de abordar o problema passa pela reconversão profissional e a aposta massiva em educação e formação ao longo da vida. Se a automação e a IA são inevitáveis, é crucial preparar a força de trabalho para as novas necessidades que surgirão. Serão criados empregos em áreas tecnológicas, na gestão de dados, na programação, mas também em setores de serviços pessoais e de saúde, que requerem interação humana. A questão, contudo, permanece: haverá empregos suficientes para todos os desempregados por motivos tecnológicos? E a transição conseguirá ser feita de modo a evitar uma exclusão em massa da população menos qualificada?
É provável que apenas um conjunto de soluções integradas possa responder ao desafio. Políticas fiscais que promovam maior distribuição de riqueza, incentivos para a criação de empregos em setores emergentes e redes de segurança social robustas podem ser a chave para não se cair numa distopia em que máquinas operam quase todo o trabalho, ao passo que milhões de pessoas se encontram sem ocupação, sem rendimentos e sem perspetiva de futuro.
5. Conclusão: os prós, os contras e o que pode ser mais provável num futuro próximo
As transformações sociais, económicas e tecnológicas que enfrentamos levantam uma pergunta inquietante: estaremos prestes a entrar num período de instabilidade global de grandes proporções, impulsionado pelo aumento da desigualdade e pelo desemprego tecnológico? Vejamos, de forma resumida, alguns prós e contras das principais soluções apontadas:
Prós
• Um salário mínimo universal ou Rendimento Básico Incondicional poderia reduzir significativamente a pobreza extrema e permitir maior liberdade criativa e empreendedora.
• A reconversão profissional e o investimento em educação contínua poderiam preparar a sociedade para os desafios da automação, criando trabalhadores mais qualificados e, portanto, melhor remunerados.
• Políticas fiscais redistributivas e de incentivo à inovação inclusiva podem criar um ambiente económico mais justo, onde o crescimento não signifique apenas lucro para poucos, mas também oportunidade para muitos.
Contras
• O custo de implementação de um salário mínimo universal pode ser bastante elevado e levanta a questão de como financiá-lo sem penalizar excessivamente a economia.
• A reconversão de grande parte da força de trabalho depende de uma mudança estrutural profunda na educação e requer tempo e recursos consideráveis, o que pode agravar o fosso para aqueles que já estão desempregados ou em situação precária.
• Políticas públicas mais intervencionistas podem, em certos contextos, desencorajar o investimento privado ou criar distorções na economia, se não forem bem balanceadas.
Cenário provável nos próximos anos
No curto e médio prazo, é provável que se verifique uma aceleração da automação, intensificando a pressão sobre o emprego em setores industriais e até em alguns serviços mais qualificados. Em Portugal, este efeito poderá traduzir-se num crescimento menos significativo do que noutros países mais avançados tecnologicamente, mas, ainda assim, sentiremos o impacto de forma transversal, em áreas como a banca, seguros, logística, serviços administrativos e manufatura.
Ao mesmo tempo, veremos um aumento da polarização política e dos debates em torno de soluções mais radicais, como o Rendimento Básico Incondicional. Embora seja improvável que tal medida seja implementada em larga escala a curto prazo, a discussão em torno dela tende a intensificar-se, sobretudo se os níveis de desemprego estrutural e precariedade crescerem de forma crítica. O risco de tensão social, ao estilo de conflitos ou protestos prolongados, também não deve ser subestimado, uma vez que o sentimento de injustiça tende a agravar-se em paralelo com o aumento da disparidade económica.
Assim, o desafio central consiste em encontrar um equilíbrio entre a adoção das novas tecnologias e a criação de mecanismos de proteção e reconversão para os trabalhadores. Se a inovação for acompanhada por políticas públicas eficazes, e se a riqueza gerada pelas máquinas puder ser distribuída de modo mais equitativo, a sociedade poderá evitar cenários de distopia. Por outro lado, se a concentração de capital numa minoria poderosa continuar a agravar-se, arriscamo-nos a ver um mundo mais desigual, instável e propenso a conflitos.
Em última análise, cabe aos decisores políticos, às empresas e à sociedade civil fazer escolhas claras sobre o tipo de futuro que pretendem construir. Portugal, embora seja um país de pequena dimensão, tem uma oportunidade histórica de repensar o seu modelo económico, apostando na qualificação e na proteção social como pilares de desenvolvimento. O futuro não está escrito; dependerá, em grande medida, das opções de política pública e das prioridades colectivas que adotarmos hoje.
Posto isto, só não me despeço com um até ao futuro porque já lá estamos.
Carlos Alberto Correia
08.01.2025 - 19:02
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