colunistas
Rerum Novarum
Por Nuno Santa Clara
Barreiro

Com seria de esperar, teve seguidores e detractores, sendo que os poderosos a varreram para debaixo do tapete, e os humildes a consideraram uma mensagem de esperança e de salvação.
Vejamos um pequeno extracto: “estamos persuadidos, e todos concordam nisto, de que é necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a que eles estão, pela maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria imerecida”.
Mais de um século depois, a mensagem continua actual, e isso é que é grave.
Não foi de modo algum inocente que o Cardeal Robert Prevost tivesse escolhido o nome de Leão XIV, como não fora a escolha de Francisco por Jorge Bergoglio. Um, o primeiro Papa jesuíta, o outro, o primeiro agostinho. Um escolheu o nome do Santo da renúncia, outro, o do Papa da causa dos trabalhadores.
Cada qual com a sua mensagem.
Choverão, nos próximos dias, terabytes de análises profundas de especialistas em papado. Se a Guerra da Ucrânia fez florescer tantos analistas de vários quadrantes, imagine-se agora com um Papa, primeiro americano, filho de imigrantes, missionário no Peru, eleito ao quarto escrutínio (digno do Guiness!).
Dado que não me sinto minimamente capacitado para concorrer nesse domínio, vamos apreciar as reacções dos dirigentes mundiais (alguns dos que já foram buscar as vassouras).
O tom geral foi cordato e de contenção, como cumpre. Afinal, ainda há regras nas relações internacionais. E também há quem se considere perfeito, e isento de críticas, abertas ou veladas, do Sumo Pontífice.
Para não variar, a excepção veio de Donald Trump. A publicação, pelas redes sociais do seu gabinete, de uma composição de imagem em que ele aparecia com as vestes papais (não tinha ele dito que gostaria de ser Papa?), foi prontamente renegada pelo próprio, mas o mal estava feito.
Se a ideia não foi dele, alguém tem de ser punido, como o ex-assessor de segurança Mike Waltz, “desterrado” para embaixador dos EUA na ONU.
Depois de manifestar o seu orgulho pela eleição do Cardeal Prevost (que, ao que parece, ele não conhecia, nem dele tinha ouvido falar), Donald Trump declarou que tinha muito interesse em conhecê-lo.
Dito assim, e por quem é, soa a convocação. Será que irá ser firmada uma Ordem Executiva (com aquele espectáculo de assinatura desenhada), intimando o Bispo de Roma e Chefe e de Estado do Vaticano a comparecer em Washington, invocando a sua qualidade de cidadão americano?
A fasquia seria alta demais.
A esta eleição pode juntar-se à de Mark Carney como 1.º Ministro do Canadá. A hiperbólica ameaça de anexação pelo vizinho do Sul levou os canadianos a ressuscitar um partido moribundo e dar-lhe uma maioria. Ou as eleições na Alemanha, que resultaram numa geringonça anti-AfD, agora ameaçada de ilegalização.
Resta-nos aguardar as cenas dos próximos capítulos.
Nuno Santa Clara
09.05.2025 - 18:12
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